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José Paulo Kupfer

Com aumento na conta de luz, inflação deve superar a meta de 4% em 2020

01/12/2020 17h53Atualizada em 01/12/2020 20h44

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A inflação de 2020 deve ficar acima do centro fixado no sistema de metas, mas dentro do intervalo previsto, chegando a 4,2% ou 4,3%. O centro da meta para o ano é de 4%, com intervalo de 1,5 ponto percentual acima ou abaixo do centro, variando de 2,5% a 5,5%.

Com isso, a inflação do ano, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), taxa que baliza o sistema de metas, repetirá a marca registrada em 2019, depois de permanecer abaixo do centro da meta em 2017 e 2018. A mudança para cima nas projeções de inflação deste ano, que até agora rodavam em torno de 3,75%, abaixo do centro da meta, se deveu ao anúncio da antecipação da bandeira vermelha, patamar 2, nas contas de energia, em dezembro.

A decisão de adotar a bandeira mais alta de preços de energia, no último mês do ano, foi tomada de surpresa, em reunião extraordinária da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no início da noite desta segunda-feira (30). Com a baixa dos reservatórios, a expectativa era a de que a bandeira vermelha passaria a valer apenas de janeiro em diante. Até recentemente, a Aneel assegurava a manutenção da bandeira verde, que não acumula cobranças adicionais, até o fim do ano.

Em um ano atípico na economia, em razão da pandemia de Covid-19, o comportamento da inflação também será bastante fora dos padrões. De uma hibernação na primeira metade de 2020, a inflação acelerou o passo, na segunda metade. Em agosto, as projeções de alta de preços para 2020 ainda se encontravam bem abaixo do piso do intervalo do sistema de metas, com elevação prevista de apenas 1,6% no acumulado do ano. Daí em diante, a variação de preços ao consumidor empreendeu uma rápida e acentuada escalada, quase triplicando o ritmo de alta até o fim do ano.

Em que pese a retração econômica e os níveis crescentes de desemprego, os preços subiram com força, primeiro com concentração em alimentos - a alta de preços de alimentos deve chegar perto de 20%, em 2020 -, mais tarde em outros itens e categorias, por dois motivos principais. Para começar, o aumento de demanda impulsionada pelo auxílio emergencial de R$ 600 mensais, que despejou por mês, entre abril e setembro, o equivalente ao total gasto com o programa Bolsa Família em um ano, beneficiando mais de 65 milhões de pessoas.

Depois, pressões fiscais, provocadas justamente pela aceleração de gastos públicos para enfrentar a pandemia, resultaram em volatilidade e altas nas taxas de câmbio, com impactos nos preços de uma série de produtos. Além disso, com a elevação dos déficits públicos, a dívida pública, que já se encontrava em trajetória preocupante, disparou, gerando dificuldades para a sua rolagem. O risco aumentado para a colocação de papéis pelo Tesouro Nacional despertou incertezas que desaguaram em altas nas cotações do dólar e, em consequência, em pressões sobre a inflação. Isso mesmo em um quadro de alta ociosidade da capacidade de produção.

Apesar de projetar alta acima do centro da meta em 2020, os analistas não parecem acreditar que o ambiente econômico imaginado para 2021 seja propício a novas altas da inflação. Tanto que suas previsões são de que a variação do IPCA, não deverá superar 3,5%, ligeiramente abaixo da meta de inflação do ano que vem, que é de 3,75%.