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Bolsa atinge nível recorde: o que explica esse otimismo dos investidores?

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Imagem: Shutterstock

Do UOL, em São Paulo

11/09/2017 12h04Atualizada em 11/09/2017 17h33

A Bolsa brasileira subiu 1,7% e fechou no maior nível da história nesta segunda-feira (11), a 74.319,22 pontos. Antes disso, a máxima histórica era de 73.516,8 pontos, atingida em 20 de maio de 2008. 

O que explica esse movimento? Segundo especialistas ouvidos pelas agências de notícias Bloomberg, Reuters e Valor Econômico, os mercados estão otimistas com algumas notícias recentes no país. Confira abaixo.

Queda dos juros

Na quarta-feira, o Banco Central baixou os juros em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano, no menor nível em mais de quatro anos. Em seu comunicado, o BC indicou que vai desacelerar o ritmo de cortes de forma "gradual". Alguns analistas esperam que a taxa básica (Selic) caia para 7% até o fim do ano, quebrando a mínima histórica de 7,25%.

O corte de juros é muito positivo num momento em que indicadores de atividade estão vindo mais favoráveis também. A atividade econômica começa, ainda que modestamente, a dar sinais de melhora.

Pedro Paulo Silveira, economista da corretora Nova Futura

Dados econômicos positivos

A produção industrial de julho, divulgada na terça passada (5), superou as estimativas do mercado. Isso confirma que o crescimento da economia brasileira, que já surpreendeu no segundo trimestre, se mantém no terceiro trimestre, disse Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, em entrevista à Bloomberg.

No dia 1º, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a economia cresceu 0,2% no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, e 0,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, interrompendo uma sequência de 12 quedas. 

Vitórias no Congresso

Na última semana, o Congresso concluiu votações consideradas importantes para o governo. Numa delas, aprovou o aumento do rombo nas contas públicas deste ano e do próximo, para R$ 159 bilhões. Também aprovou a criação da nova taxa de juros para empréstimos do BNDES, com menos subsídios da União, o que ajuda nos esforços para equilibrar as contas públicas. 

"Passada a TLP e a meta fiscal com relativa folga, a tendência agora é de uma tentativa do governo de aproveitar o contexto político favorável para avançar novas pautas e entrar 2018 praticamente incólume em termos de agenda e aguardando o resultado das mudanças econômicas", afirmou a gestora Infinity, em relatório.

Reviravolta na delação da JBS

O mercado reagiu bem à notícia de que a delação da JBS, que gerou pânico entre os investidores em 18 de maio, será revista pelo procurador Rodrigo Janot. A avaliação é a de que o presidente Michel Temer sai fortalecido e tende a manter seu mandato. A delação serviu de base para a primeira denúncia de Janot contra Temer.

O furacão Janot foi rebaixado de um nível quatro para três e caminha para dois.

Thiago Aragão, analista político da consultoria Arko Advice

O mercado passou a acreditar que são cada vez maiores as chances de uma segunda denúncia ser recebida de forma esvaziada pela Câmara dos Deputados. "Há até uma boa chance de que ele sequer seja denunciado", disse Gustavo Cruz, economista da XP Investimentos.

"A posição de Temer está mais segura e a economia do Brasil deve se recuperar durante o segundo semestre do ano e no começo de 2018", afirmou Andres Abadia, economista-sênior da Pantheon Macroeconomics. 

Reforma da Previdência

Para os analistas, o governo ganha força para levar adiante sua agenda de reformas --entre elas, a da Previdência.

"Agenda de reformas pode voltar ao radar após a prisão dos delatores da J&F, com expectativa pela retomada da governabilidade de Temer", escreveram os analistas da corretora Lerosa Investimentos em nota a clientes.

O que falta para coroar esse humor positivo com o Brasil é a reforma da Previdência.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra

Para ele, ainda é possível a aprovação de uma reforma enxuta, com alguns pontos específicos como idade mínima.

Eleições de 2018

As afirmações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também agitaram o mercado financeiro. Com o possível prejuízo à imagem de Lula, os investidores começam a vislumbrar um cenário eleitoral em 2018 menos intenso, segundo o economista-chefe da Infinity, Jason Vieira.

Seja Lula ou Haddad, qualquer candidato da oposição vai ter dificuldades de se erguer.

Bruno Marques, gestor dos fundos multimercado da XP Gestão

"A percepção é de que vai se formando um cenário favorável para a eleição de um candidato de continuidade,", diz Rodrigo Abreu, economista da Caixa Asset.

Para Italo Lombardi, estrategista para América Latina do banco Crédit Agricole, o otimismo dos investidores depende fundamentalmente de uma candidatura a presidente favorável aos mercados em 2018. A possibilidade de o prefeito paulistano João Doria sair candidato, mesmo fora do PSDB, é positiva pelo fato de o tucano ser visto como um um político "anti establishment pró-negócios", diz ele.

Melhoras no exterior

No exterior, a perda de força do furacão Irma, que até terça-feira pode se tornar uma tempestade tropical, e a calmaria na Coreia do Norte, que não fez nenhum teste nuclear no final de semana, também favoreciam o clima mais tranquilo nesta segunda-feira.

(Com Bloomberg, Reuters e Valor Econômico)