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Bolsa ainda está 33% abaixo de recorde histórico se descontada a inflação

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

29/11/2018 19h41

Após alguns anos de penúria entre a crise global de 2008-2009 e as intempéries domésticas de 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, a Bolsa de Valores brasileira teve altas significativas e bateu recordes importantes em 2018.

O Ibovespa, índice que reúne as principais empresas listadas na Bolsa, passou dos 80 mil pontos pela primeira vez em meados de janeiro e, nesta quinta-feira (29), atingiu o maior patamar já registrado em seus 50 anos de vida: 89.709,56 pontos.

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Todas essas marcas, porém, são só uma parte da história. Se considerada a inflação, o valor das ações subiu menos do que parece, e o Ibovespa, que acompanha esses preços, ainda está longe de seu recorde real, atingido há dez anos e até hoje não superado.

33% abaixo do recorde

O verdadeiro auge da Bolsa aconteceu em maio de 2008, de acordo com cálculos feitos pela gestora de investimentos Rio Bravo a pedido do UOL. Mais exatamente em 20 de maio de 2008, quando atingiu 73.516,80 pontos.

Se considerada a inflação acumulada de lá até aqui, esses 73.516,80 pontos seriam equivalentes a aproximadamente 133.769,66 pontos hoje. Desse modo, os 89.709,56 pontos desta quinta-feira ainda estariam 32,9% abaixo do recorde real.

"Isso significa que o valor das empresas hoje, em termos ajustados, ainda está muito abaixo daquela época, e quem investiu na Bolsa nesse período teve rendimento menor do que a inflação", disse o economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini. 

O Ibovespa é um índice formado pelas ações das 62 principais empresas listadas na Bolsa e sua pontuação flutua conforme o valor de mercado dessas companhias, uma conta que considera sua quantidade de ações multiplicada pelo preço de cada uma delas.

De maio de 2008 a outubro de 2018 (considerado o fechamento dos meses), o Ibovespa subiu 20,43%, enquanto a inflação no mesmo período foi de 81,6% (medida pelo IPCA, índice oficial de preços do IBGE). O IBGE ainda não divulgou os dados fechados da inflação de novembro. Para a correção, a Rio Bravo considerou o IPCA-15 do mês, prévia do índice oficial.

Nível de fim de 2012 e começo de 2013

Na realidade, a máxima atingida agora em 2018 (89.709,56 pontos) retoma o nível do final de 2012 e começo de 2013, quando considerada a inflação do período. A pontuação da época (algo entre 50 mil e 60 mil pontos) valeria hoje entre 80 mil e 90 mil pontos. Dali para frente, a Bolsa cairia junto com a economia, que estagnou em 2014 e teve dois anos de recessão, em 2015 e 2016.

"Enfrentamos uma crise bastante grande nos últimos anos e isso se reflete, naturalmente, no preço das ações", disse o diretor comercial da corretora Easynvest, Fabio Macedo. "As empresas tiveram resultados piores, aumento da alavancagem [medida do grau de endividamento] e piora em diversos indicadores financeiros, que ainda estão em patamares inferiores aos de 2008." Fluxo de caixa, valor de mercado e dívida são alguns desses indicadores.

Bolsa rendeu menos que renda fixa

Outra maneira de fazer a atualização do Ibovespa e compará-lo ao passado descontando o efeito da inflação é corrigi-lo pelo CDI (Certificado de Depósitos Interbancários). O CDI é uma taxa que segue os juros básicos da economia (Selic), e que serve de referência para remunerar alguns dos principais investimentos de renda fixa, como CDBs e letras de crédito.

"São comparações importantes porque permitem ao investidor fazer uma análise de quanto teriam sido seus rendimentos se tivessem aplicado em uma coisa em vez de outra", disse Buccini, da Rio Bravo. 

Por essa métrica, o Ibovespa de hoje está ainda mais longe da máxima histórica: se, desde 20 de maio de 2008, a sua pontuação tivesse acompanhado o CDI desse período, teria chegado nesta semana a 208.258,39. Os 89.709,56 pontos do pico atual é menos da metade disso: está 56,92% abaixo.

A variação do CDI foi de 183,28% de lá para cá. Quem investiu em um título de renda fixa que segue o CDI em maio de 2008 chegou ao fim de novembro de 2018 com quase o triplo. É bem mais do que os 81,6% da inflação e muito acima dos 20,43% do Ibovespa.

"Foi um período de inflação e de juros muito elevados, além da profunda recessão que vivemos de 2014 a 2016, que fez com que as empresas sofressem bastante mesmo", disse Buccini.

Isso significa que é hora de investir na Bolsa?

O fato de que o Ibovespa --e, portanto, muitas das ações da Bolsa-- já tiveram máximas maiores no passado é, de fato, um indicador de que eles continuam longe de seu potencial e têm ainda espaço para subir. Esse fator sozinho, porém, não é suficiente como garantia de alta.

"Não é só porque o Ibovespa está baixo e longe do recorde que vai voltar para aquele patamar de novo", disse Buccini. "O bom desempenho da Bolsa depende de uma série de razões fundamentais e pode demorar para voltar àquela pontuação."

A encruzilhada da dívida pública alta, a espera por reformas ainda incertas, como a da Previdência, e uma economia global que ainda segura investidores estrangeiros longe dos países emergentes e de mais risco são alguns fatores que distanciam o cenário atual daquele dos recordes de 2008.

Naquele mundo pré-colapso financeiro de 2008 e 2009, a economia global e brasileira cresciam, havia abundância de dinheiro, os países emergentes estavam na moda e o preço de produtos básicos, como petróleo e minério de ferro, que são parte importante da economia brasileira, batiam recordes históricos também.

De toda maneira, com a economia saindo do fundo do poço, a perspectiva é positiva para a Bolsa. "As empresas estão mostrando melhoras em seus indicadores", disse Macedo da Easynvest. "A expectativa é de valorização [da Bolsa] nos próximos anos e é, sim, um bom momento de diversificar a carteira e investir em renda variável."