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Bolsa sobe quase 10% com investidores caçando pechinchas após tombo recente

João José Oliveira

do UOL

24/03/2020 17h42

Resumo da notícia

  • Ibovespa tem sétima alta no mês, ante dez sessões de baixa
  • Forte desvalorização acumulada no ano atrai investidores de longo prazo de olho em papéis mais baratos
  • Pessoas físicas e estrangeiros estão entre os mais ativos na venda, mas também nas compras

A Bolsa fechou o pregão desta terça-feira (24) em alta de quase 10%, marcando a sétima valorização em 17 sessões realizadas em março. Mesmo assim, o Ibovespa ainda acumula no ano uma perda de quase 40%. E é exatamente isso que tem atraído investidores que estão atuando de forma pontual, garimpando pechinchas em meio à volatilidade provocada pela pandemia do coronavírus.

Segundo dados da Bolsa brasileira B3, os investidores que mais estão vendendo são também os que mais estão comprando. Isso quer dizer que há aplicadores realocando o dinheiro no mercado —vendendo papéis de empresas mais afetadas pela crise e comprando ações de companhias que ou deverão sofrer menos, ou que já bateram um patamar de preço considerado atraente para quem investe no longo prazo.

Estrangeiros vendem, mas também compram

O pano de fundo de um pregão na Bolsa como o desta terça-feira até pode ser um conjunto de notícias, caso dos anúncios feitos por governos no exterior e no Brasil para tentar estimular a economia e atenuar o impacto da covid-19 sobre a produção, o comércio e o emprego.

Mas há efetivamente a atuação de investidores que estão operando de forma seletiva e pontual em busca de ações com preços que justifiquem apostas de mais longo prazo, além, claro, de especuladores que fazem negócios no dia a dia, no chamado day trade, comprando e vendendo na mesma sessão, de olho no lucro rápido, mas também mais arriscado.

"Quem está comprando ações nos dias em que a Bolsa sobe é um misto de investidores. Tem estrangeiros, tem pessoa física e tem o day trader. Mas vejo destaque para o estrangeiro. É verdade que eles têm retirado recursos de emergentes, mas estão comprando também. Até porque o dólar valorizado em relação ao real torna algumas ações mais baratas para o estrangeiro", afirmou o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

De fato, conforme dados mais recentes da B3 —que vão até 19 de março— os investidores estrangeiros venderam R$ 266,7 bilhões em ações em março. Mas esses mesmos aplicadores também compraram R$ 247,7 bilhões em papéis. O saldo é negativo, mas o volume comprado não pode ser desconsiderado.

Compras de brasileiros superam vendas em R$ 14,7 bi

Também há investidores brasileiros "pessoa física" comprando ações, e com um saldo positivo. Segundo a B3, em março, esses aplicadores compraram R$ 85,7 bilhões em ações na Bolsa —mais que o volume de vendas, que foi de R$ 71 bilhões. Ou seja, no fim das contas, houve uma entrada de R$ 14,7 bilhões.

"A gente tem visto pessoas físicas fazendo novos aportes", afirmou o chefe de análise da Toro Investimentos, Rafael Panoko.

Segundo ele, a forte queda das ações neste ano deixou algumas empresas com um valor de mercado abaixo do valor patrimonial. "Isso atrai o investidor que compra ação olhando o longo prazo, especialmente considerando algumas que não serão tão impactadas pela crise", disse.

Na turbulenta semana passada, por exemplo, entre as ações que mais caíram há os casos das aéreas Gol e Azul, ou da operadora de turismo CVC e da varejista Via Varejo. Mas há na ponta contrária companhias que subiram, como Carrefour e RaiaDrogasil. Mesmo CVC, que desabou quase 50% na semana passada, hoje teve uma forte reação, subindo quase 20%.

Entre os investidores brasileiros que estão comprando ações de forma pontual, há pessoas de alto poder aquisitivo, que aplicam por meio de "Family offices", firmas especializadas em gerenciar contas de milionários e bilionários. "A gente tem visto muito Family office atuando", afirmou um corretor de uma instituição financeira local que pediu para não ser identificado por regras da corretora em que atua.

Outro tipo de aplicador que tem comprado ações e ajudado a Bolsa a subir em pregões como o de hoje são as próprias empresas donas de ações, por meio dos programas de recompra de ações. Quando uma companhia que tem ação negociada em Bolsa considera que o valor do papel está muito baixo, ela pode considerar ser mais interessante usar recursos disponíveis em caixa para adquirir a própria ação em vez de aplicar em outro ativo.

Apenas em março, foram abertos 11 programas de recompra de ações, elevando a 20 o total desse tipo de operação no ano.

Montanha-russa continua

Os gestores de recursos alertam que o movimento ainda é de muita instabilidade para os próximos dias e semanas —talvez meses— porque nem governos, nem empresários, nem investidores sabem por quanto tempo as medidas de restrição à circulação de pessoas poderão continuar e, portanto, qual será o tamanho real e final dessa crise sobre a economia e os mercados.

"O cenário não mudou, continua sendo de pessimismo. Hoje tivemos uma correção", afirmou Rafael Panonko, da Toro Investimentos.

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