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Escolas dão aula de empreendedorismo e ensinam crianças a abrir empresa

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/11/2013 06h00

Duas escolas de ensino fundamental e médio incluíram o tema empreendedorismo em suas grades curriculares. Durante as aulas, os estudantes aprendem a dar nome à empresa, calcular preço de venda e fazer a divulgação do produto, da mesma forma que uma empresa iniciante faz quando monta um plano de negócio.

As atividades são desenvolvidas nos colégios General Edgard Facó, em Fortaleza (CE), e Guilherme Dumont Villares, em São Paulo (SP). As companhias que os alunos criam durante o curso são apresentadas para pais e professores em uma feira de negócios anual.

No colégio da capital cearense, que é militar, o projeto piloto com aulas de empreendedorismo para todos os 563 alunos do 1º ao 5º ano foi implantado em 2013.

Além disso, foram selecionados mais 20 estudantes até o 9º ano com bom desempenho escolar para frequentar as aulas.

O conteúdo é preparado em parceria com o Sebrae-CE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará), segundo a coordenadora de apoio do colégio, Íris Machado.

“Todos os professores passaram por um treinamento durante as férias e temos ainda três consultores do Sebrae que nos auxiliam com a abordagem do tema”, afirma.

No início de novembro, os alunos apresentaram suas empresas na feira de negócios na escola. O resultado foi positivo e o projeto será mantido em 2014, de acordo com a coordenadora.

“Houve uma melhora na criatividade dos alunos, no trabalho em grupo e na forma com que eles olham para os problemas sociais”, diz Machado.

O colégio General Edgard Facó tem, aproximadamente, 2.000 alunos dos ensinos médio e fundamental. Metade das vagas é reservada para filhos de militares e o restante, para o público em geral.

Já a escola paulistana introduziu o empreendedorismo na grade curricular em 1990. Hoje, a disciplina é obrigatória do 1º ao 5º ano. A partir daí, ela se torna opcional até o fim do ensino médio.

“Acreditamos que educação e empreendedorismo estão ligados e, com isso, queremos despertar o interesse nos alunos de empreender no próprio aprendizado”, afirma a diretora.

O estudante do 3º ano do ensino médio do colégio Guilherme Dumont Villares Vítor Furtado, 17, frequentou as aulas de empreendedorismo durante dois anos por vontade própria.

Ele diz que as aulas o ajudaram a entender melhor o mundo dos negócios. “Aprendi nas aulas que você pode ganhar dinheiro fazendo algo de que goste, mas, para isso, é preciso entender do assunto e fazer o seu melhor."

A escola tem cerca de 1.400 alunos, dos 3 aos 18 anos de idade. A mensalidade varia de acordo com a série, mas o valor médio é de R$ 1.500, segundo Fonseca.

Universidades podem fazer mais, diz Endeavor

Tais iniciativas são vistas com bons olhos pelo analista da área de pesquisas e políticas públicas da Endeavor, organização internacional sem fins lucrativos de apoio ao empreendedorismo, João Melhado.

No entanto, ele afirma que é na universidade que o empreendedorismo floresce. “A escola pode trabalhar mais a proatividade e a vontade de resolver problemas, mas é o ambiente acadêmico que favorecerá a criação de um negócio.”

Uma pesquisa feita pela Endeavor em 2012, apontou que 60% dos universitários gostariam de ter a própria empresa. Para o levantamento, a entidade ouviu 6.512 estudantes de todos o o país.

“O empreendedorismo avançou muito nos últimos dez anos e algumas faculdades já trabalham com empresas juniores, palestras ministradas por empresários ou algum outro tipo de conteúdo sobre o tema”, diz Melhado.

O mesmo levantamento, por outro lado, mostra que ainda há brechas a serem preenchidas. Enquanto 53,7% dos alunos de administração já cursaram alguma disciplina ligada ao empreendedorismo, a mesma taxa é de 21,9% no curso de arquitetura, por exemplo.

“É preciso que existam disciplinas de empreendedorismo em todas as áreas porque bons empreendedores também podem surgir nos cursos de direito, engenharia, arquitetura ou em qualquer outro”, afirma o analista da Endeavor.

Melhado declara, ainda, que faltam professores capacitados para ministrar o conteúdo nas universidades.

“Como esse é um tema novo, há pouca literatura disponível e as instituições acabam colocando professores que não são especialistas e nunca empreenderam para dar aulas.”

SP ganha escola de negócios

Para contribuir com a formação de empreendedores o Sebrae-SP anunciou no mês de setembro a criação de uma escola de negócios gratuita, em parceria com o Centro Paula Souza.

A instituição terá aulas de gestão de negócios e inovação no nível superior e de administração, logística e marketing de nível médio e técnico. As primeiras turmas devem começar em janeiro de 2014, segundo o Sebrae-SP.

As inscrições para as primeiras turmas já foram encerradas. No entanto, novo processo seletivo deve ser aberto para o segundo semestre do próximo ano.

“O projeto vem suprir à demanda do empresariado brasileiro por um ensino formal que integre teoria e prática e contribua para o fortalecimento das micro e pequenas empresas”, diz o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Bruno Caetano.

Serviço:

Colégio Guilherme Dumont Villares: avenida Doutor Guilherme Dumont Villares, 723, São Paulo (SP). Fone: (11) 3743-5531. Site: www.gdv.com.br

Colégio da Polícia Militar do Ceará General Edgard Facó: avenida Mister Hull, 3.835, Fortaleza (CE). Fone: (85) 3101-4965