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Mini-Fuscas com motor de verdade viram negócio que fatura R$ 75 mil por mês

Renata Tavares

Do UOL, em Uberlândia (MG)

05/03/2014 06h00

Um presente fabricado para dar ao filho Fabrício no seu aniversário foi a fonte de inspiração para o negócio do empresário Fabrício Garcez, 44. Por ser engenheiro mecânico, ele resolveu construir um mini-Fusca para surpreender o garoto, que na época tinha três anos.

A peça foi elogiada por amigos e pelo dono de uma revendedora de veículos de Uberlândia (MG), cidade onde ele mora, que quis comprá-lo. Conclusão: o filho ficou sem o presente e o pai abriu a Garcez Mini Veículos. "Percebi que poderia investir e ter um bom resultado com os mini-Fuscas”.

Hoje, o empresário diz que fatura entre R$ 50 mil e R$ 75 mil com o miniveículo. O lucro, no entanto, não é alto, segundo ele, porque cada unidade custa R$ 9.800 para ser fabricada. "Seria mais rentável se eu fizesse o carrinho em escala, mas isso ainda não é possível”, diz.

O carrinho custa R$ 15 mil (quase o mesmo valor que o de um carro popular semi-novo). Por esse motivo, Garcez diz ter dois tipos de cliente: o colecionador e o que trabalha com os carrinhos. “Alguns clientes compram para alugar em praias ou cidades turísticas como brinquedo para crianças."

Os carrinhos também são personalizados. Eles recebem pinturas como o "Herbie - Meu Fusca Turbinado", do Corpo de Bombeiros e, até as cores de um time de futebol se o cliente quiser. “O Herbie é campeão de vendas. Eu sou flamenguista, nunca fiz um do Flamengo, mas já fiz um com as cores do Fluminense”, diz.

Desde a criação da empresa, em 2007, Garcez afirma que vendeu 350 miniveículos, uma média de cinco por mês. O empresário não trabalha com pronta entrega. Por isso, o cliente pode ter que esperar por até 120 dias pelo miniveículo. “Sei que não ter o produto em estoque é um problema, porque a compra, na maioria dos casos, é pela emoção", diz.

O empresário afirma que já recebeu proposta de investidores, mas preferiu não se arriscar. “Um deles me ofereceu R$ 1 milhão e eu não aceitei porque mais dia, menos dia eu me tornaria um funcionário da empresa que criei.”

No início, Garcez fabricava os miniveículos no galpão da empresa que tem há 20 anos com um amigo, a ABS Cabines –que produz cabines para caminhão e caminhonetes–  em Uberlândia. Cinco anos depois, ele afirma que a produção cresceu e ele precisou separar um galpão para a instalação das peças e terceirizar a pintura.

Primeiro modelo atendia somente crianças

No primeiro modelo criado pelo empresário, cabiam somente duas crianças de até três anos. Ele saiu de linha em 2012 e, de lá pra cá, o carrinho ganhou novo projeto, tamanho, pinturas personalizadas e motor. A nova versão do mini-Fusca suporta duas pessoas de até 1,75 m e alcança uma velocidade máxima de 50 km/h, segundo o empresário.

O tanque de combustível é semelhante ao de uma motocicleta, tem capacidade para 2,5 litros de gasolina e pode render até 35 quilômetros por litro. “Ele foi projetado para gastar menos combustível.”

Carrinho não pode circular nas ruas

Apesar de ter a produção e as características semelhantes às de um carro comum, o mini-Fusca não pode circular nas ruas das cidades, de acordo com a legislação de trânsito. “Eu estou criando um modelo para circular nas ruas, mas é um projeto para o futuro”, diz Garcez.

A pedido do UOL, o engenheiro mecânico e professor na UFU (Universidade Federal de Uberlândia) José Antônio avaliou a segurança do brinquedo. Segundo ele, o miniveículo tem todos os acessórios de segurança, como o cinto de sub-abdominal, a velocidade é baixa e também conta com um manual de instruções.

“Ele cumpre a função para a qual foi projetado, ou seja, ser um brinquedo. Se a pessoa usá-lo para outra finalidade, no entanto, acredito que não terá nenhum problema porque ele respeita as normas de segurança. Mas, ele não pode ser deixado nas mãos de crianças. É preciso sempre ter um adulto por perto”, avalia.

Entrega é  o principal problema da empresa

Garcez afirma estar otimista com as vendas do mini-Fusca. O problema, segundo ele, está na entrega do carrinho. "Ele é difícil de ser transportado por pesar mais de 200 quilos, por isso, nem toda transportadora aceita fazer a entrega da encomenda, além de ser mais cara."

O empresário diz que já vendeu a peça para mais de 50 cidades do Brasil e também para países como Estados Unidos e Holanda. “O cliente quer comodidade. O produto tem de chegar à porta da casa dele e muitas vezes eu mesmo preciso entregar”.

Projeto é inovador ajuda negócio a alavancar

A falta de inovação é hoje um dos principais gargalos das empresas, segundo a analista de negócios do Sebrae-MG (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais) Fabiana Queiroz Romaniello. “O mercado é extremamente competitivo e temos de fazer algo diferente para atrair o cliente.”

No caso dos mini-Fuscas, Queiroz diz que ele foi inovador por ter aproveitado um produto que já existia e o reinventou para o mercado em outro nicho. “É inovação pura. É um produto que sai na frente da necessidade do cliente. Ele não pensou que um dia aquele brinquedo poderia ser necessário para alguém. Aos poucos, o negócio deu certo.”