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Grife de funk ostentação busca clientes da Abercrombie com camisas a R$ 200

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

20/05/2014 06h00

Para conquistar os fãs do funk ostentação, os empresários Alexandre Santos, 35, e Wellington Mendonça, 24, associaram-se ao funkeiro MC Nego Blue, 29, e, com investimento inicial de R$ 400 mil, criaram a marca de roupas e acessórios Black Blue.

Com itens masculinos e femininos que custam de R$ 69,90 (cintos) a R$ 379,90 (moletons), a empresa diz que disputa com grifes internacionais, como Abercrombie, Hollister e Lacoste, a preferência de jovens consumidores das classes C e D que gostam de ostentar. Na lista de produtos, há também bonés dourados por R$ 149,90 e camisas polo de R$ 199,90.

“Representamos um estilo novo, que é o funk ostentação, e a evolução das classes C e D, que podem, sim, pagar mais caro por um produto para ostentar. Por isso, o nosso símbolo é uma carpa, que na cultura oriental representa a prosperidade e o sucesso”, afirma Santos.

A marca foi lançada no final de 2011 e hoje é vendida em mais de 430 lojas multimarcas. A Black Blue tem também seis lojas próprias em São Paulo, duas delas de franqueados. Sua loja virtual parcela as compras em até 12 vezes. 

A empresa não revela o faturamento total, mas, segundo Santos, comercializa de 20 mil a 30 mil peças por mês. As roupas e acessórios da Black Blue já são vendidos no Japão, por um representante, e, até o final do ano, deve ser inaugurada uma loja própria em Miami.

Empresa diz apostar na qualidade

O nome da marca é a tradução do nome do sócio famoso para o inglês. “Quis me associar ao Nego Blue por causa do conteúdo de suas músicas, que falam da parte boa da ostentação, e não de sacanagem”, afirma Santos.

Para cobrar caro nas mercadorias, os empresários afirmam que apostam em produtos de alta qualidade. Ele diz que uma linha dourada custa três vezes mais do que uma comum e os bordados são feitos com 5.000 pontos, enquanto outras marcas utilizam bordados de 3.000 pontos. 

“Por ter nome em inglês, muitas pessoas acham que é uma marca importada. Tem gente que tenta falsificar, mas os próprios consumidores nos avisam e não compram, pois sabem que são peças de menor qualidade”, declara.

Antes da marca própria, Santos já trabalhava com distribuição de roupas importadas para lojas multimarcas, o que facilitou a entrada da Black Blue no mercado. Aos poucos, sua marca tornou-se conhecida: famosos, como o ator Caio Castro e a apresentadora Sabrina Sato, já usaram peças da Black Blue.

Para marca nova 'pegar', é necessário conhecer o público-alvo

Segundo José Eduardo Balian, coordenador da incubadora de negócios da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), jovens das classes C e D estão dispostos a se endividar e parcelar a compra de itens mais caros para demonstrar status. "Vale a pena investir em itens caros para as classes C e D, principalmente depois do movimento do funk ostentação", declara.

Ele diz que o fato de marcas de elite não desejarem se associar a um público de renda menor para não perder seu mercado original abre oportunidades para outras empresas. 

"É importante estar atento aos movimentos sociais para encontrar lacunas onde é possível faturar. No entanto, é importante conhecer o ramo em que pretende atuar, se associar às pessoas certas para divulgar seu produto, estar presente em eventos destinados ao seu público-alvo e ter um chamariz, que neste caso é o funk ostentação. É essa junção de fatores que faz uma marca nova ter sucesso."

Para Mauricio de Almeida Prado, diretor de marketing da Plano CDE, consultoria de negócios, o desafio da Black Blue é acompanhar as tendências para poder se reinventar quando necessário. “A marca precisa desenvolver uma identidade própria para sobreviver quando a moda do funk ostentação passar”, diz.