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Empresa lança 'melhorador' de água; nutricionistas recomendam cautela

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

09/06/2014 06h00

Melhorar a água e facilitar o consumo de dois litros diários do líquido é a proposta do produto Ofélia, um aditivo em pó que dá sabor e acrescenta vitaminas a água. Lançada em maio com vendas pela internet, a substância ainda não tem regulamentação da Anvisa e nutricionistas indicam moderação em seu consumo.

Conhecida em países como Canadá e EUA, a novidade foi trazida para o Brasil pelos empresários Felipe Baeta, 27, e Henrique Trabulse, 26. “Nosso foco são os jovens ligados em tendências e rebeldes, que sabem que precisam tomar dois litros de água por dia, mas acham isso muito sem graça”, diz Baeta.

Como símbolo da rebeldia, uma ovelha negra, batizada de Ofélia, foi escolhida como “garota-propaganda” da marca.

O produto vem em embalagens de 2,5 g e deve ser diluído em 500 ml de água gelada. A embalagem unitária custa R$ 2,50 e um pacote com 10 unidades sai por R$ 25. Desde 15 de maio, os consumidores de São Paulo podem comprar o “melhorador de água” (como Baeta chama o produto) no site da empresa.

Cheio de brincadeiras, um dos rótulos promete não conter glúten nem música do Jorge Vercillo e “nenhum ingrediente do mal, pode confiar”. Entre os cinco sabores, estão “Namastê”, de uva verde com chá branco, para quem quer relaxar, e “Sóbrio, pero no mucho”, de carambola com gengibre, para curar ressaca.

Nutricionistas dizem que não substitui água

Os nutricionistas Gabriel Cairo Nunes, especialista pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Vanessa Albacete, da LC Restaurantes, e Marcia Nacif, professora da universidade Mackenzie, avaliaram os rótulos do produto e recomendam moderação no consumo.

“O produto não possui sódio, algo positivo quando se trata de alimentos industrializados, e tem algumas vitaminas importantes, como as do complexo B”, diz Nunes. Por outro lado, ele alerta que as vitaminas em excesso podem piorar alguns quadros, como os de doenças renais.

Para Marcia Nacif, se consumido com moderação, o produto pode substituir refrigerantes, bebidas alcoólicas ou sucos ricos em açúcar, mas não a água. "A água pura continua sendo o melhor líquido para hidratar o corpo", declara.

A nutricionista Vanessa Albacete afirma que o produto possui componentes que não são reconhecidos pelo corpo humano como alimentos. “Eles atrapalham nosso metabolismo, utilizam nossos nutrientes para serem excretados do corpo, causando mau funcionamento por deficiência.”

Anvisa diz que vai fiscalizar produto

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), há uma dificuldade na hora de definir a categoria em que a Ofélia se encaixa. “O produto não se enquadra na categoria de mistura para o preparo de alimentos” e tampouco pode ser enquadrado na categoria de suplementos de vitaminas e/ou de minerais, dispensada de registro na Anvisa, afirma a agência em nota.

As gracinhas que a empresa faz no rótulo não foram bem aceitas pela agência, que considera irregular a menção de componentes que não são nutrientes junto a tabela nutricional e aos ingredientes.

A empresa produtora afirma que informou a Anvisa sobre o início da fabricação do produto. Diz que foi enviada a ficha técnica com os ingredientes e informado seu enquadramento na categoria de mistura para o preparo de alimentos.

A Gerência de Inspeção e Controle de Riscos de Alimentos da Anvisa diz que vai analisar o produto para tomar providências, se necessárias. Já o rótulo, será encaminhado para o departamento de proteção e defesa do consumidor do Ministério da Justiça. Não há prazo para uma definição sobre a qualidade do produto.

Investir em produtos novos exige tempo e testes

Paulo Ancona Lopez, diretor da consultoria de negócios Vecchi Ancona, diz que, mais do que investir em produção, as empresas devem se preocupar com o processo de desenvolvimento de produto, pois é nessa fase em que se verificam as exigências necessárias e se será possível atendê-las. 

"No início, vale a pena investir em laboratórios e em equipe técnica para fabricar um piloto, que será testado, e só depois de aprovado passará a ser produzido em larga escala. Isso ajuda a economizar dinheiro. Também é importante considerar o período de obtenção de aprovações e licenças no plano de negócios, pois isso leva tempo."