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Regras claras no papel podem evitar brigas entre amigos que são sócios

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

19/07/2014 06h00

O Dia do Amigo, 20 de julho, é uma oportunidade para refletir sobre amizade e trabalho. No mundo corporativo, não são poucos os amigos que viraram sócios. Mas estender os laços de afinidade para o campo profissional exige flexibilidade para que os negócios não atrapalhem a vida pessoal.

Maria Pia Cury, 37, diz que o principal é separar o profissional e o privado. Há três anos, ela e a amiga Eliane Brechtbuhl, 46, dividem a consultoria de moda E.pia.

“Falar de trabalho em momentos de lazer é proibido. Na empresa, temos em comum acordo não guardar ressentimentos e não fazer o que não for aprovado pelas duas.”

Deixar claro quais são as atribuições de cada um é fundamental para evitar brigas, indica o consultor empresarial Fernando Segato, da Hallx. E, nessa divisão, conhecer os pontos fortes e fracos do sócio é uma vantagem.

Amigos desde os 12 anos, Guilherme Cavalcante, 32, e Davi Bertoncello, 31, criaram uma agência de pesquisa em 2010. Cavalcante é o lado criativo da dupla e Bertoncello é mais pé no chão. O primeiro é responsável pela criação de projetos da Hello Research e o segundo cuida das operações.

“Usamos nossa amizade a favor do crescimento da empresa. Momentos de tensão e divergências são superados com mais facilidade quando se conhece bem a outra ponta”, afirma Bertoncello.

Sociedade tem que ter acordo de papel passado

Apesar de existir confiança entre amigos, as regras da sociedade devem estar documentadas no contrato da empresa para resguardar a relação pessoal e profissional, indica o advogado Marcos Diniz, especialista em direito societário.  “Atribuições, remuneração, divisão de lucros, uso de bens da empresa e até férias são questões que costumam gerar brigas entre sócios.”

A recomendação foi levada ao pé da letra por Alexandre Borin Cardoso, 36, e Leandro Ferrari Crocomo, 36, quando criaram a Prestus, há cinco anos. Os dois ex-colegas de faculdade dividem as tarefas na empresa que oferece serviço de secretária virtual para empresas. 

“A sociedade começou com tudo bem documentado e nós dois nos cobramos. A amizade dá liberdade para um dar ‘pitaco’ nas atribuições do outro”, diz Cardoso, que é responsável por marketing e vendas da empresa. Seu sócio cuida da área de tecnologia.

Apesar das divergências, respeito deve permanecer

Ter em mente o que cada sócio deve fazer também ajuda na hora de resolver divergências. Amigos desde os bancos da escola, os sócios Flavio Roberto de Souza, 39, e Marcelo Bittencourt, 41, não estão livres de discussões, mas contam que o respeito é a solução para elas. 

“As opiniões são discutidas e, ainda que um não concorde, não existe cara feia. Frases como ‘eu não concordo, mas não tenho alternativa, então, siga em frente’ permeiam nossa relação. Se deu certo, comemoramos juntos. Se não deu, não acusamos um ao outro”, afirma Souza, que escolheu homenagear a amizade no nome da empresa de produtos siderúrgicos: Amifer ou "amigos de ferro".

Amizade não é garantia de parceria bem-sucedida

É sempre bom lembrar, no entanto, que um amigo pode não ser o melhor parceiro comercial. Conrado Adolpho, 40, fundador da editora digital Webliv, conta que a divergência de objetivos e personalidades levou ao fim sua sociedade com quatro amigos.

Em 1992, eles abriram um cursinho pré-vestibular em que todos davam aulas. "Nossas incompatibilidades em ambição para o negócio e o entendimento de como ele deveria ser tocado fez com que a sociedade não desse certo", afirma. A empresa foi fechada quatro anos mais tarde.

Para ele, ficaram as lições de ter cuidado na escolha dos sócios e de levar em conta o perfil comportamental de cada colega. "No cursinho, o sócio que mais nos deu problemas era o mais emotivo. O que tinha um perfil mais racional foi o cara que ficou comigo até o final, em meio a todas dificuldades, e somos amigos até hoje."