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Doença da mãe e assalto fazem empresário abrir franquia de produto natural

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

11/12/2014 06h00

Dois episódios difíceis fizeram o empresário Ricardo Cruz, 42, mudar de vida para abrir uma franquia de produtos naturais: uma doença que colocou em risco a vida da sua mãe e um assalto no qual foi baleado. A rede Nação Verde hoje possui 23 lojas em operação e apenas a matriz, na capital paulista, fatura R$ 250 mil por mês (o lucro não foi informado).

Em dezembro de 2007, a mãe do empresário, Nanci Cruz, de 59 anos, foi diagnosticada com pólipos (lesões que podem evoluir para câncer) no cólon. Para combater a doença, ela precisaria substituir alimentos industrializados e frituras por opções naturais ou integrais.

“Na época, era muito difícil encontrar esses produtos nos supermercados. E, quando conseguíamos, era muito caro”, afirma o empresário. Segundo ele, a dificuldade de encontrá-los era tão grande que ele precisava trazer dos Estados Unidos um tônico a base de Aloe vera para a mãe.

Diante da dificuldade, Cruz percebeu uma oportunidade de negócio. Em 2009, começou a produzir o tônico com ingredientes que importava com ajuda de um laboratório parceiro no Brasil. Foram dois anos para desenvolver a fórmula e ter aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a venda do produto.

“Havia prometido à minha mãe que, se ela se recuperasse, eu produziria o tônico que ela tomava no Brasil. Hoje, ela está bem e mais ativa do que antes e a bebida é um dos produtos mais vendidos em nossas lojas”, diz. A rede produz 170 itens de marca própria em fábricas e laboratórios terceirizados.

Assalto à loja de motos e tiro influenciaram mudança de ramo

Antes de criar a Nação Verde, Cruz era dono de quatro lojas de motos. Em abril de 2008, quatro meses após o diagnóstico da mãe, a unidade em que o empresário estava foi assaltada. O assaltante levou cerca de R$ 2.000 e disparou um tiro, que atingiu a virilha do empresário.

“Já era de noite e estava sozinho fechando a loja. Um homem entrou armado e me rendeu. Mesmo fazendo tudo o que ele pedia, ele atirou em mim antes de ir embora”, declara. Assustado com a violência, o fato foi a gota d’água para o empresário mudar de ramo. Em oito meses, vendeu as quatro lojas.

Com o dinheiro da venda e de outros bens pessoais, Cruz levantou R$ 2,5 milhões, recurso usado para começar a produção do tônico para abrir a primeira loja. Um ano depois, em 2011, a empresa aderiu ao modelo de franquias e espera chegar a 32 unidades em 2015.

Mercado está em alta, mas não atingiu maturidade

O mercado de produtos naturais está em alta. Em 2013, o setor faturou cerca de R$ 94 bilhões no país, segundo dados levantados pela organização da Naturaltech, feira anual de negócios do segmento de produtos naturais. Para 2014, a expectativa é crescer 39% em relação ao ano anterior.

A alta do mercado está diretamente ligada à maior preocupação com qualidade de vida por parte dos consumidores. “Os produtos naturais vieram para ficar, não são itens de luxo como eram há pouco tempo”, afirma Valeska de Oliveira Cire, gerente de negócios da Naturaltech.

Segundo ela, há espaço para novos negócios no mercado. No entanto, as empresas ainda passam por um processo de profissionalização. “O setor começou a se desenvolver há apenas 15 anos aqui no Brasil. Ainda somos bebês se comparados a mercados mais maduros como o da Alemanha e o dos Estados Unidos”, diz.

Preço elevado limita público de produtos naturais

Apesar do público crescente, o preço ainda é um limitador para os produtos naturais se popularizarem, segundo Jane Albinati, consultora do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo). “São produtos que exigem certificações e processos de produção diferenciados, o que reduz a escala e encarece o preço para o consumidor”, diz.

Por conta disso, o empreendedor deve pesquisar a fundo e conhecer seus fornecedores, de acordo com a especialista. “O consumidor de produtos naturais é idealista e bem-informado. Se ele descobrir que um produto não tem certificação de origem, agride o meio ambiente ou descumpre o que promete, a rejeição é imediata”, afirma.