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Dono de fazenda orgânica, Marcos Palmeira diz que falta apoio do governo

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

23/12/2014 06h00

Ele foi visto recentemente na pele do delegado Pedroso, na novela O Rebu, da TV Globo, mas, fora das telinhas, o ator Marcos Palmeira, 51, desempenha outro papel que nem todo mundo conhece: é dono de uma fazenda de produção de alimentos orgânicos e de um armazém que comercializa os produtos no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro (RJ).

Os alimentos são vendidos com itens de outros produtores. “Vendo todos os produtos orgânicos que consigo buscar no mercado, meu objetivo também é fomentar os produtores”, afirma, em entrevista por e-mail ao UOL. Ele diz que falta apoio do governo para desenvolver o setor.

A fazenda era um sonho antigo do ator, que passou a infância entre criações de gado e plantações de cacau da família, na Bahia. O sonho se concretizou em 1997, quando comprou uma área produtora de hortaliças em Teresópolis, região serrana do Rio.

Depois de continuar a produção convencional por algum tempo, descobriu que os produtores não comiam o que plantavam porque o que chamavam de “fortificantes” para o solo eram, na verdade, venenos. Ele, então, aboliu o uso de adubos químicos e agrotóxicos e passou a pesquisar sobre os alimentos orgânicos.

Hoje, a fazenda Vale das Palmeiras, que tem 10 hectares e 80 cabeças de gado, produz queijos, iogurte, verduras, legumes e frutas, e emprega 15 pessoas. O ator usa sua imagem para promover o negócio: seu rosto estampa a embalagem dos produtos.  

Ele diz que está diretamente envolvido na gestão dos negócios e que as operações são sustentáveis e se pagam, embora ele não divulgue o faturamento e o lucro. Seu principal objetivo, segundo ele, é desenvolver cada vez mais o mercado de orgânicos.

“Ainda estamos engatinhando, mas somos guerreiros e vamos nos desdobrando! O Estado ainda não acordou para a produção orgânica como forma de vida sustentável”, declara.

Setor deve crescer 35% neste ano

Marcio Stanziani, gerente-executivo da AAO (Associação de Agricultura Orgânica), concorda com Palmeira. “Falta apoio governamental para desenvolver o mercado, como empréstimos subsidiados e incentivos. Também é necessário fornecer conhecimento aos produtores, pois eles aprendem fazendo, na prática. Os agrônomos saem da universidade sem nenhuma formação sobre orgânicos”, diz.

O Projeto Organics Brasil, criado pelo IPD (Instituto de Promoção do Desenvolvimento), estima para 2014 um crescimento de 35% no mercado de orgânicos contra 22% de 2013. O faturamento do setor deve chegar a R$ 2 bilhões.

Em 2013, o número de produtores, cooperativas e associações de produtos orgânicos era de pouco mais de 5.000 no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, do Ministério da Agricultura. Em dezembro de 2014, havia pouco mais de 10,5 mil, ou seja, o dobro. Segundo Stanziani, a maioria desses produtores é de pequeno porte.

Ele diz que ainda existe a percepção de que os alimentos orgânicos são mais caros do que os convencionais, mas isso acontece com apenas alguns produtos, e não em toda a cadeia, segundo ele. E afirma que a margem de lucro também não é necessariamente maior. “A cultura de orgânicos é pouco mecanizada, o que faz com que use mais recursos humanos e tenha um custo maior em função disso”, afirma.