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'Empresa do bem' cria kit de reforma para favela e parcela em 12 vezes

Leandro Haberli

Do UOL, em São Paulo

15/01/2015 06h00

Paredes com infiltração, mofo ou mesmo sem janelas são uma realidade comum em favelas e casas em bairros de baixa renda. Com o objetivo de tornar essas moradias arejadas, iluminadas e livres de umidade, nasceu o Programa Vivenda. O negócio social foi montado na periferia de São Paulo por empreendedores com experiência em habitação popular e reurbanização de favelas.

A empresa vende quatro tipos de kits de reforma (banheiro, revestimento, ventilação e antiumidade). Eles contêm modelos pré-estabelecidos de materiais para reforma, como pisos, azulejos, louças, tintas e janelas, mas os itens inclusos e a quantidade variam conforme a necessidade da obra. Os kits custam entre R$ 1.500 e R$ 4.000 e podem ser parcelados em 12 vezes.

O valor inclui assessoria técnica na elaboração do projeto e instalação. O serviço foi desenvolvido para baratear a solução de problemas causados por obras improvisadas em casas de comunidades como o Jardim Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, onde está o escritório da empresa. 

“A falta de planejamento faz com que as reformas sejam eternas. Em determinado mês, a família compra um saco de cimento; quando sobra mais um pouco de dinheiro, compra outro. O resultado é que a reforma fica cara e demorada”, afirma Fernando Assad, um dos fundadores do Programa Vivenda. Segundo ele, reformas mal-planejadas custam até 30% mais.

Aceleradora ajudou projeto a se estruturar e conseguir investimento

Para tirar o projeto do papel, os sócios procuraram a aceleradora Artemisia, especializada em apoiar e estruturar negócios capazes de gerar lucros e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da população de baixa renda.

Em menos de um ano de operação, Assad diz que o projeto piloto já mostra potencial de lucratividade. Os custos de operação já se pagam, embora ainda não tenha havido retorno do investimento.

"Estamos investindo muito no desenvolvimento do modelo, em atividades que transcendem o arroz com feijão de um escritório comunitário", declara. A empresa não informa o faturamento.

Segundo Renato Kiyama, diretor de aceleração da Artemisia, o Programa Vivenda foi selecionado de acordo com critérios como qualidade da gestão e perspectiva de sustentabilidade financeira. O negócio foi criado com um investimento inicial de R$ 48 mil (captados de investidores) e de R$ 16 mil da Giral Consultoria.

Brasil atrai maior volume de investimento de impacto social na América Latina

Estudo da Bain & Company, consultoria global de negócios, aponta que, entre 2008 e 2013, o investimento de impacto social na América Latina cresceu 12 vezes, saltando de US$ 160 milhões para US$ 2 bilhões por ano no período. Segundo a pesquisa, os problemas sociais enfrentados pelos países da região acabam abrindo portas para investimentos de empresas privadas.

O Brasil é o principal destino desses investimentos. Somente no ano passado, o país recebeu US$ 300 milhões, seguido por México e Colômbia. Conforme o levantamento, o montante se explica pelo grande interesse de fundos locais no setor, ao contrário de outros países, cuja fonte dos recursos está principalmente do exterior. A maioria investe em habitação, agricultura, educação, inclusão financeira e saúde.

Gerar lucro é desafio para negócios sociais

Mas promover ações que provoquem impactos positivos na sociedade e ao mesmo tempo gerem lucro é um desafio. Isso porque o consumidor ainda não valoriza tanto negócios sociais, segundo Marcelo Nakagawa, diretor de empreendedorismo da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).

Uma dica da Artemisia, citando Juan Carlos Moreno, diretor de investimentos do LGT Venture Philantropy, é atuar buscando soluções práticas para problemas reais. "O empreendedor deve começar a pensar nos problemas brasileiros e analisar qual seria a maneira mais eficiente para resolver um desses problemas", disse o executivo.