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Hambúrguer e almôndega de caju salvam produtores de seca e safra ruins

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

08/04/2015 06h00

Após três safras prejudicadas pela seca, produtores de castanha-de-caju do Rio Grande do Norte decidiram investir na produção de hambúrguer vegetariano e outros alimentos.

Antes, eles só aproveitavam a castanha, jogando fora a polpa (a parte usada em sucos). Como a seca prejudicou a castanha para exportação, essa parte que era desperdiçada agora é usada para fazer hambúrgueres, almôndegas, bolinhos e barras de cereais.

O hambúrguer de caju é vendido por R$ 3 a unidade e R$ 10 o sanduíche, chamado de "caju burger". Por enquanto, é comercializado apenas na loja que fica na Central de Comercialização de Artesanato e Produtos Regionais, em Barra de Tabatinga, perto do cajueiro Pirangi, considerado o maior do mundo pelo Guinness Book, o livro dos recordes.  

“Queremos fornecer para lanchonetes e restaurantes também, mas ainda não temos matéria-prima suficiente para atender à demanda. É um projeto novo, estamos nos estruturando”, diz Fátima Torres, diretora da Coofarn (Cooperativa Central da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte), que reúne as cooperativas produtoras.

O custo de produção é R$ 0,90 a unidade. Por mês, são vendidos cerca de 250 hambúrgueres. A polpa da fibra do caju também pode ser usada para fazer bolinhos fritos, almôndegas, servir de recheio para tapioca ou petiscos, como bruschettas. A porção com oito bolinhos fritos sai por R$ 10. Os demais produtos ainda não são comercializados regularmente.

Projeto quer fornecer 50 mil barras de cereal para escolas

A barra de cereal custa R$ 2 e são vendidas de 500 a 800 unidades por mês, segundo Torres. Ela é feita com granulado de castanha-de-caju, aveia, mel e gergelim. O custo de produção é de R$ 0,75 a unidade. São usadas castanhas que se quebram durante o processo de beneficiamento. O índice de castanhas quebradas gira em torno de 40% do total beneficiado.

Um convênio com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) vai fornecer 50 mil unidades para merenda escolar de escolas públicas do Estado do RN ao longo dos próximos seis meses.

Outros produtos também foram desenvolvidos para aproveitar as castanhas de qualidade inferior, isto é, as mais feias, de acordo com Torres. São castanhas caramelizadas com mel, granola, gergelim, chocolate, gengibre ou café, que são vendidas por R$ 30 o quilo, em média.

Oito cooperativas do Estado participam da produção, que beneficia diretamente cerca de 250 famílias que vivem do cultivo de caju. Elas participam do Projeto Setorial da Cajucultura, do Sebrae-RN (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Rio Grande do Norte), que tem como objetivo melhorar o aproveitamento da fruta e a renda das cooperativas.

Segundo Torres, os resultados financeiros do projeto ainda não foram consolidados, mas a visibilidade conquistada com os novos produtos está atraindo mais clientes. O faturamento não foi divulgado. 

Falta de chuvas prejudica qualidade da fruta

O projeto ofereceu cursos em novembro de 2014 aos produtores das minifábricas de castanha-de-caju, onde a fruta é processada. Os próximos passos são desenvolver embalagens e promover degustações e oficinas com merendeiras para ampliar a utilização dos produtos nas refeições, segundo Franco Marinho Ramos, consultor do Sebrae-RN e gestor do projeto.

“Nos últimos quatro anos, a falta de chuvas prejudicou a produção e a qualidade da castanha-de-caju, que era o principal item comercializado. Com isso, foi necessário buscar alternativas para aumentar o valor do produto”, diz ele. Por ano, o Estado produz cerca de 20 mil toneladas de castanha, destinadas, em sua maioria, ao mercado internacional.