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Canadense abre bar no ABC Paulista onde clientes só podem falar em inglês

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

23/04/2015 06h00

“Welcome” para dizer bem-vindo, “beer” para pedir cerveja e “thank you” no lugar de obrigado. No bar Little Igloo, em Santo André, no ABC Paulista, é assim: clientes e funcionários só se comunicam em inglês. O negócio se propõe como ambiente para a prática do idioma, segundo o dono do bar, Rusty Russell, 43, canadense que mora há seis anos no Brasil.

Segundo consultores ouvidos pelo UOL, a estratégia pode ser interessante para dar identidade ao negócio, mas restringe o público frequentador.

O empresário percebeu que quem estuda a língua inglesa não tem um local ideal para praticar o idioma fora da sala de aula. Foi aí que ele decidiu abrir o bar, em dezembro de 2013. O investimento inicial não foi revelado.

“A ideia era criar um local onde as pessoas se sentissem confortáveis para praticar o inglês”, diz. Segundo ele, nenhum cliente é impedido de entrar ou deixa de ser atendido se não se comunicar em inglês. No entanto, quem vai ao bar busca aprimorar o idioma e, por isso, se esforça para se comunicar na outra língua, de acordo com o empresário.

“Se um grupo começa a falar em português, eu digo: ‘ei, pessoal, em inglês, por favor’, mas ninguém é obrigado a nada”, afirma em tom de brincadeira. Segundo Russell, o ambiente ajuda os tímidos a se descontraírem para conversar em outra língua. “Alguns clientes chegam aqui assustados, mas, depois de um ou dois drinks, falam bastante.”

O bar vende apenas bebidas, que variam de R$ 10 a R$ 25. Caso o frequentador queira algo para comer, o empresário tem parceria com a pizzaria ao lado, que fornece o alimento. “Para pedir uma pizza, é só gritar da rua e eles fazem para nós”, declara. “Se tivesse um buraco na parede para nos comunicarmos, seria perfeito.”

O Little Igloo abre de quarta-feira a sábado à noite. Por dia, o local recebe de 60 a cem pessoas, segundo o empresário. O faturamento não foi divulgado. Além do bar, Russell dá aulas particulares de inglês e é distribuidor de uma fabricante de máquinas para sorvetes.

Bar não tem funcionários fixos

O empresário diz não ter funcionários fixos no bar. Segundo ele, dez ajudantes se revezam durante as noites no atendimento. A maioria trabalha uma vez por semana. “São pessoas que pedem para trabalhar comigo para praticar inglês e ganhar um pouco de dinheiro”, declara.

Segundo Russell, é comum escolas de inglês ligarem para ele para levar os alunos no bar. No entanto, o canadense afirma que ainda não tem parceria com essas empresas. “É algo interessante, mas o espaço que tenho é pequeno e não comportaria grupos maiores de estudantes.”

Antes de vir para o Brasil, o empresário morou por 15 anos no Japão, onde também tinha um bar. Foi lá que ele conheceu a mulher, Telma, bailarina nascida em Santo André, que participava de um espetáculo no país. Os dois se casaram em 2009 e passaram a morar na cidade-natal da dançarina. Apesar de viver no país há seis anos, Russell ainda tem dificuldades para se comunicar em português.

Usar outro idioma em bar pode restringir público

Usar o inglês como principal idioma de comunicação é uma forma de se diferenciar em meio a tantos bares que surgem no mercado, afirma Marcelo Aidar, coordenador-adjunto do centro de empreendedorismo da FGV (Fundação Getulio Vargas). “Em um ramo concorrido como esse, a sobrevivência depende de ter ou fazer algo que a concorrência não consiga copiar facilmente.”

No entanto, ao adotar o inglês como principal forma de comunicação, o bar restringe seu público-alvo a pessoas que entendam ou queiram aprender o idioma, segundo Aidar. “O negócio busca um nicho específico. Por isso, a localização deve ser cuidadosamente estudada. É preciso estar em locais frequentados por clientes com esse perfil”, diz.

O especialista declara, ainda, que o fato de o dono do bar ser estrangeiro dá mais identidade ao negócio. “O dono ser de um país onde se fala inglês dá mais legitimidade ao bar. Se fosse aberto por um brasileiro, poderia haver uma certa desconfiança por parte do público em relação ao idioma praticado no local.”

Onde encontrar:

Little Igloo: Rua Santo André, 283, Vila Assunção, Santo André (SP). Facebook: www.facebook.com/pages/Little-Igloo