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Alho negro e ovo azul: cor inusitada chama a atenção e aumenta vendas

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

28/04/2015 06h00

Cores exóticas de produtos naturais são formas encontradas por empresas do agronegócio para se destacar no mercado. É o caso da Alho Negro do Sítio, que vende alho fermentado da cor preta, e da Avifran, produtora avícola que coloca um ovo azul em cada bandeja para comprovar que o produto é mesmo caipira.

Com a estratégia, a Avifran, de Brasília, aumentou suas vendas de 30 mil ovos para 100 mil por mês. Já o Alho Negro do Sítio, de Guatapará (297 km a noroeste de São Paulo) conseguiu aumentar o valor de venda do produto. Enquanto uma cabeça de alho comum sai por R$ 1, a de alho negro custa de R$ 10 a 20, ou seja, até 20 vezes mais.

Mas fazer as novidades emplacarem requer investimento. Criar novas embalagens com textos explicativos, divulgar os benefícios dos produtos na mídia e promover degustações são algumas das estratégias adotadas pelas empresas para driblar a estranheza inicial dos consumidores e tornar os produtos mais conhecidos.

Alho negro pode custar 20 vezes mais

O agrônomo Fernando Kondo, administrador da Alho Negro do Sítio, diz que o alho roxo fica escurecido depois de passar pela fermentação, que dura duas semanas em forno a 65°C e com 80% de umidade. A empresa produz alho comum desde 1982 e passou a testar o alho negro em 2010, depois de descobrir que o produto fazia sucesso no Japão por causa dos benefícios à saúde.

Segundo a nutricionista funcional Cristina Trovó, que estuda as propriedades do alho, ele reduz a pressão sanguínea, diminui o colesterol, aumenta o gasto calórico, estimula o sistema imunológico e é antioxidante. “Pesquisas mostram que na fermentação há beneficiamento dessas propriedades.” Ela diz que o alho negro é levemente adocicado e pode ser usado em pratos variados. 

De acordo com Kondo, das 30 toneladas anuais de alho que produz, três são usadas para fermentar o alho negro. O produto corresponde a 20% do faturamento total do negócio, que ele não revela. O lucro também não foi informado. Ele diz, no entanto, que a meta é faturar R$ 80 mil neste ano só com as vendas de alho negro. 

O desafio é tornar o produto conhecido. "Em 2014, contratamos uma assessoria de imprensa e mudamos nosso site, para destacar os benefícios e vender online. Assim, estamos conseguindo aumentar as vendas aos poucos”, diz. A loja online responde por 60% das vendas, 20% vão para pizzarias e restaurantes e 20%, para empórios de produtos naturais.

Clientes acharam que ovo azul estava podre

A Avifran, de Brasília, é produtora de pintinhos e ovos de galinhas caipiras, se alimentam com ração vegetal e botam ovos que variam na cor e no tamanho, por serem criadas soltas. Segundo Luciano Maia, diretor-executivo da Avifran, a cada dez ovos, em média, um sai com a cor azul esverdeada naturalmente, sem nenhum tipo de manipulação.

Ao colocar um “ovo de cor”, como a empresa chama, em cada bandeja, as vendas subiram de 30 mil ovos para 100 mil por mês, de acordo com Maia. Mas o crescimento não foi instantâneo. “Quando lançamos o produto um ano atrás, as pessoas não compravam porque achavam que o ovo estava podre. Tivemos que recolher e mudar a embalagem para explicar do que se tratava”, diz.

Segundo estudos científicos, a cor verde ou azul na casca do ovo vem da decomposição da hemoglobina da galinha caipira e pode ocorrer em algumas aves ao longo do tempo. “As propriedades nutricionais não mudam de acordo com a casca do ovo, apenas se a galinha for caipira a gema será mais escura e com maior concentração de vitamina A em sua composição”, diz a nutricionista Cristina Trovó.

Comunicação é essencial para divulgar produto inovador

Para José Carmo Vieira de Oliveira, consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo), a comunicação é fundamental ao colocar um produto novo no mercado. “Antes de mais nada, é preciso saber se existe o hábito de consumo daquele produto. Se não existir, a comunicação deve ser pesada e explicativa, para o consumidor entender o benefício.”

As estratégias adotadas pelas empresas, como a embalagem mais explicativa, divulgação na mídia e degustações são as recomendadas. No entanto, como os produtos são naturais, não é possível registrar patente e o negócio fica sujeito a entrada de concorrentes. “Destacar uma característica inusitada do produto é uma boa forma de se diferenciar, mas logo terá alguém fazendo o mesmo”, diz.

Onde encontrar:

Alho Negro do Sítio: www.alhonegrodositio.com.br

Avifran: www.avifran.com.br