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Imobiliárias subsidiam fiança de aluguel, aceitam cartão e reduzem contrato

Vívian Soares

Do UOL, em São Paulo

28/05/2015 06h00

Imobiliárias virtuais brasileiras criaram formas de facilitar a locação de imóveis, para tornar a negociação mais ágil e assim concorrer com as empresas tradicionais. Subsidiar fiança, aceitar cartão de crédito na garantia e reduzir tempo de contrato são algumas das estratégias. O modelo é inspirado em negócios estrangeiros, com menos burocracia. 

A Sampa Housing, por exemplo, aceita cartão de crédito no pagamento da garantia. Já a Quinto Andar subsidia até 50% do seguro-fiança. Ambas realizam quase todos os trâmites online. 

Com formação em hotelaria, a sócia da Sampa Housing, Liliana Ferrarese, 36, abriu a empresa em 2010 após passar anos trabalhando fora do Brasil. “Percebi que a burocracia e os serviços oferecidos pelas agências de imóveis no exterior eram mais flexíveis e davam muito apoio ao inquilino”, afirma.

Ela retornou ao país durante a crise europeia, momento em que muitos estrangeiros também vinham morar no Brasil. Foi quando se uniu a um sócio para abrir a Sampa Housing, que mescla atendimento de hotel com serviços de imobiliária voltados a estrangeiros. “Muitos desses clientes não têm CPF, não querem fazer os contratos usuais de 30 meses, e não têm móveis para o apartamento.”

O diferencial do negócio está no serviço de assessoria ao inquilino. "Ainda ajudamos com apoio extra como mapas, dicas do bairro e até informação sobre escola para filho”, diz. O valor da locação chega a ser até 20% mais caro que um aluguel normal – mas a economia é de 40% em relação a um hotel. E o período de permanência é variável, de um dia a tempo indeterminado.

O processo é feito inteiramente online. Até o recolhimento do depósito de garantia pode ser feito via cartão de crédito. “Nós nos encarregamos de todos os trâmites e solução de problemas, o que é um alívio para ambos os lados [inquilino e proprietário]”, diz. 

No início, para testar o mercado, a Sampa Housing mobiliou 20 imóveis. Hoje são 400 unidades na carteira. O negócio, que começou com duas pessoas, hoje tem 20 funcionários. Em 2014, faturou R$ 2,8 milhões. A previsão para este ano é acima de R$ 3 milhões. O lucro não foi informado. No ano passado, a empresa recebeu aporte de uma construtora que entrou como sócia da empresa.

Imobiliária virtual subsidia seguro-fiança

A Quinto Andar, fundada em 2013, trabalha com o aluguel convencional. Para se diferenciar no mercado, identificou as principais queixas dos inquilinos no processo de aluguel: informações incompletas e desatualizadas nos anúncios, dificuldade para fazer visitas e para conseguir fiança. Com isso, criou um modelo que elimina etapas presenciais desnecessárias e facilita outras.

Para resolver o problema dos anúncios, os sócios Gabriel Braga e André Penha, recém-saídos de uma turma de MBA em Stanford, usam fotos profissionais no site. “Se a fachada for feia ou estiver faltando azulejo no banheiro, isso vai estar no anúncio. Assim como outros detalhes que muitas vezes faltam, como localização no mapa. Tudo pode ser filtrado pela internet”, afirma Gabriel Braga. 

A marcação das visitas também é feita online. “Fazemos um cruzamento entre as agendas dos corretores e a disponibilidade de visitas do imóvel. O inquilino não precisa marcar por telefone e o corretor fica  mais produtivo”, diz. A terceira etapa, da garantia, também é um serviço oferecido pela empresa, que subsidia até 50% do valor do seguro-fiança, segundo Braga. 

A empresa não divulga faturamento mas, em dois anos, saltou de dois para 25 funcionários. O modelo de cobrança é similar aos das imobiliárias tradicionais: fica com o primeiro aluguel do imóvel e 8% de administração por mês. Com sede em Campinas e operações também em três regiões de São Paulo (centro, oeste e sul), a empresa pretende expandir os negócios para outros bairros e cidades do Brasil.

Negócio online concorre com a cultura do anúncio de porta

O presidente do CreciSP, José Augusto Viana Neto, afirma que os negócios online concorrem com as imobiliárias tradicionais, que já vêm se adaptando ao universo digital. “Hoje o cliente chega sabendo muito mais o que quer”, afirma. Segundo ele, o “anúncio na porta” ainda é o carro-chefe de muitos negócios, porque há a cultura de percorrer o entorno ao pesquisar um imóvel. 

Viana Neto afirma que, mesmo nos negócios virtuais, os corretores por trás do processo precisam ser credenciados no Creci. “O profissional sem o credenciamento exerce a profissão de forma ilegal. Há muitos falsários que alugam imóveis que sequer existem”, declara. Além disso, segundo ele, o ideal é fechar o negócio presencialmente. "Não é indicado se comprometer sem antes ver o imóvel e checar documentações.”

O presidente do Creci ressalta que, nos casos de locação com duração acima de 90 dias (temporada) e menor que 30 meses, os proprietários só podem requerer o imóvel para uso próprio após cinco anos de uso, como prevê a Lei do Inquilinato.

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