Vender a start-up e virar empregado? 3 pontos para pensar antes da decisão
A start-up brasileira Vemm se especializou em conectar potenciais clientes às operadoras de planos de saúde, seguradoras e financeiras, por meio de palavras-chave em buscas na internet. Com isso, chamou a atenção de grandes empresas. Há três meses, foi comprada pela multinacional americana QuinStreet, que faz o mesmo, mas no segmento de educação.
Os criadores da start-up continuam trabalhando na empresa, mas agora como funcionários. “Antes da aquisição, nossa equipe trabalhava a distância, sem horário fixo, para bater metas mensais. Agora, temos de ir ao escritório todos os dias e cumprir carga horária", diz Thiago Luz Pereira, um dos sócios da Vemm.
A equipe foi mantida por uma exigência da multinacional, numa negociação que levou quase dois anos, e continua responsável pelo desenvolvimento do negócio. O valor da transação não foi divulgado.
"Apesar de parecer chato, a produtividade aumenta muito. Conseguimos manter algumas coisas da cultura de start-up, como horário flexível e alguns dias de home office de vez em quando, e temos os benefícios da grande empresa, como plano de saúde e seguro de vida”, diz Pereira.
O número de start-ups vendidas para grandes empresas tende a aumentar no país, segundo André Monteiro, presidente da +Innovators, rede para desenvolvimento de empreendedores e atração de investimento para start-ups. Ele lista 3 pontos cruciais antes de considerar vender a start-up para uma grande empresa:
1. Sair ou continuar no negócio?
Antes de decidir, é necessário saber o que motivou o interesse da grande empresa na start-up. "Ela pode estar interessada na base de clientes que já foi conquistada, em uma tecnologia desenvolvida e que levaria tempo para ser replicada ou nos talentos da equipe. Há, ainda, grandes empresas que fazem apostas em várias start-ups esperando que alguma delas crie algo muito inovador", diz.
Se o objetivo for atrair funcionários talentosos ou continuar desenvolvendo o negócio, ficar na start-up mesmo depois da venda e trilhar a carreira executiva pode ser interessante para o empreendedor. Se, por algum motivo, o negócio der errado, ele pode ser realocado para outros projetos dentro da empresa ou sair para iniciar um novo negócio, segundo Monteiro.
2. Quanto vale?
A venda de uma start-up pode ter diversos modelos, por exemplo, aquisição completa com preço definido ou uma parte em dinheiro e outra em ações. No primeiro caso, o valor é definido de acordo com o estágio atual do negócio e do tamanho que ele pode atingir, segundo o plano de negócios que foi elaborado. No segundo caso, há um pagamento inicial, mas o resto depende do cumprimento de metas.
A negociação vai levar em conta outros fatores, como a permanência da equipe. "Tudo vai depender do perfil do empreendedor. Se ele estiver disposto a ficar, pode ganhar mais no longo prazo, após o desenvolvimento do negócio, já que a grande empresa ajuda a ganhar fôlego e acelerar o crescimento", afirma Monteiro.
3. Aberto a mudanças?
Segundo Monteiro, o empreendedor tem que estar disposto a desapegar da sua marca e a mudar o plano de negócios, se necessário, durante a incorporação da start-up pela grande empresa. Avaliar o próprio perfil, para saber se irá se adaptar a uma rotina de trabalho como funcionário de grande corporação, é fundamental. Senão, é possível usar o dinheiro da venda para começar outra empresa, diz Monteiro.
"A grande empresa possui estruturas e processos que, muitas vezes, são burocráticos. Quanto mais parecida for a cultura das duas empresas, mais fácil é o processo de adaptação."
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