IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Medo de assédio faz jovem criar serviço de reparos só para mulheres

Ana Luisa Monteiro presta serviço de pequenos reparos residenciais em São Paulo - Divulgação
Ana Luisa Monteiro presta serviço de pequenos reparos residenciais em São Paulo Imagem: Divulgação

Renata Gama e Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

24/08/2015 06h00

O medo do assédio foi o que levou a editora de vídeos Ana Luisa Monteiro, 26, a encontrar uma solução para que mulheres possam contratar serviços de reparos residenciais em segurança. Após passar um susto em casa, quando um entregador de gás demonstrou conhecer demais sua rotina e perguntou se ela estava sozinha, a jovem teve a iniciativa de criar o mAna manutenção.

A ideia de um serviço oferecido por mulheres para mulheres se espalhou rapidamente pelas redes sociais. Com apenas uma semana de divulgação, Ana Luisa já conquistou mais de 2.000 fãs em sua página do Facebook e lotou a agenda de serviços até a primeira semana de setembro. Ela atende na capital paulista.

Com a boa adesão, a proposta está em vias de virar uma empresa. “Já estou em processo para tirar o meu MEI (Microempreendedor Individual)”, diz Ana Luisa. “A ideia era ser um bico, algo para eu fazer alguns dias da semana. Mas a aceitação foi incrível e estou me preparando para largar meu emprego no final do mês e me dedicar só a isso”, declara.

Ela também recebeu convite para ter orientação de negócios da Rede Mulher Empreendedora. A entidade apoia micro e pequenas empresárias e está com inscrições abertas para grupos de mentoria coletiva no dia 12 de setembro, em São Paulo.

“Vou começar a mentoria para saber onde ir com a minha empresa. A ideia é expandir a gama de serviços e, conforme for possível, trazer outras mulheres para trabalhar comigo”, afirma. Ana Luisa diz que quer aprender a empreender de forma “inteligente e saudável”. “Sou nova e nunca tive um negócio meu, sempre trabalhei para alguém.”

Rendimentos já superam salário atual

A empreendedora diz que presta reparos de hidráulica, elétrica, manutenção geral e até decoração. “Já fiz de tudo um pouco nesta semana: arrumei descarga, torneira, registro, sifão, fiação elétrica, instalação de tomada, coloquei cortina e prateleira e estou no meio de um serviço de pintura.”

Ana Luisa não informa o quanto ganha, mas diz que o rendimento com os serviços prestados até agora já mostra que é possível obter uma renda maior que seu salário atual. Os valores cobrados partem de R$ 40 (troca de uma peça da torneira). O investimento inicial foi de R$ 600, gastos para comprar ferramentas. “Mas a cada serviço novo eu tento comprar alguma coisa que ainda falta.”

Empreendedora aprendeu a fazer reparos com avô e primo

Ana Luisa nunca havia feito cursos para aprender a realizar os reparos, mas diz que tem afinidade com o assunto desde pequena. “Eu aprendi com meu avô fazendo pequenos reparos em casa e com meu primo, que estuda engenharia e é técnico em elétrica. Acho que criei gosto pela coisa a partir de 2010, quando fui morar sozinha e comecei a resolver todos os problemas da minha casa”, diz.

Mas a ideia de negócio tem estimulado a jovem a aprender mais. “Agora que a empresa está criando corpo, estou fazendo uns cursos para poder oferecer serviços além do básico.”

Sucesso inicial não se sustenta sem planejamento

De acordo com Beatriz Micheletto, consultora de marketing do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo), o pico inicial de clientes é comum em negócios novos, mas pode iludir empreendedores. “Há um pico no início porque muitos experimentam. Mas alguns podem ter expectativa grande e não gostar.”

Mesmo que a aprovação seja da maioria, a consultora orienta a fazer uma pesquisa de mercado, para saber se há demanda efetiva para o negócio. “A pesquisa tem que dar ao consumidor faixas de preço para ele dizer se está disposto a pagar e, depois, calcular o preço que seria compensatório para ter lucro.”

Além disso, é preciso calcular o volume de serviço necessário para o negócio se manter. “Quantos precisariam ser realizados por dia, por mês, para a empresa ser sustentável? Isso é planejamento.” Segundo a especialista, às vezes, a ideia é boa, mas na hora de colocar em prática, as pessoas não estão dispostas a pagar. "Empreendedor que faz planejamento corre risco calculado."  

Se a viabilidade do negócio for mesmo confirmada, a consultora não acha precipitado deixar o emprego antes de a empresa dar lucro. "Se perder o timing, outras pessoas podem montar concorrentes e ela perde o pioneirismo. Quem faz primeiro sai na frente. E, enquanto ela ficar com emprego fixo, o negócio não deslancha, porque precisa de foco e dedicação."

Onde encontrar

mAna manutenção: facebook.com/manamanutencaoF

Rede Mulher Empreendedora: inscrições para mentoria coletiva no site http://zip.net/bdrSB7 (link encurtado)

Engenheira formada fez faxina e hoje é dona de 6 empresas