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Macacões usados de operários viram capa de notebook, avental e cobertor

Márcia Rodrigues

Colaboração para o UOL

19/01/2016 06h00

Depois de trabalhar em uma confecção de uniformes profissionais, o biólogo marinho Lucas Corvacho, 28, encontrou uma forma de lucrar com as roupas usadas. Ele fundou a Retalhar, empresa de reciclagem de tecidos, que fechou 2015 com um faturamento de R$ 250 mil.

O resultado é 150% maior do que o de 2014, quando atingiu R$ 100 mil. O lucro não foi revelado.

Por lei, uniformes usados de trabalhadores, como macacões, precisam ter uma destinação ambientalmente sustentável. Não podem ser jogados no lixo, precisam de reaproveitamento. Corvacho transforma os uniformes em brindes como capas de notebook, estojos, sacolas, aventais e lixeiras de carro. Também viram cobertores e mantas.

A empresa diz que uma lavanderia industrial faz a higienização do material.

Roupa usada é moída

A Retalhar recolhe uniformes usados nas empresas e repassa para cooperativas de costureiras, que desmancham as peças, retirando zíperes, botões e logomarcas. Parte do material é transformada nos brindes e outra parte é moída e vira matéria-prima para outros produtos têxteis (mantas térmicas, acústicas, cobertores populares etc.), que são vendidos no comércio.

"Nós devolvemos parte dos brindes feitos com os tecidos para as empresas, e o restante é comercializado", diz Corvacho. A proporção do que fica para a Retalhar e o que volta para a empresa não foi revelada.

Um kit para cozinha com avental, luvas e touca custa a partir de R$ 35.

A empresa foi aberta em 2014, junto com o amigo de infância, o gestor ambiental Jonas Lessa, 24. O investimento inicial foi de R$ 30 mil (R$ 10 mil deles e R$ 20 mil de investidores). Entre seus clientes estão Fedex, Odebrecht e as concessionárias CCR e Arteris.

15 toneladas no ano

Normalmente, o recolhimento do material é bimestral. "Em 2014, atingimos duas toneladas. No ano passado, totalizamos 5,5 toneladas. Para 2016, esperamos chegar a 15 toneladas", afirma o empresário.

Corvacho diz que o descarte correto dos tecidos está previsto na lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos. "Todas as empresas devem se preocupar com isso, mas há pouca opção no mercado. Por isso, resolvemos investir nesse segmento."

Paralelamente ao descarte consciente dos tecidos, de acordo com o empresário, a Retalhar também ajuda a economia do terceiro setor ao utilizar o serviço de cooperativas de costureiras.

"Nós acompanhamos de perto o trabalho das cooperativas, incentivando o desenvolvimento das famílias envolvidas. Todas as crianças devem estar na escola, por exemplo."

Fuja do óbvio

Para Paulo Marcelo Tavares Ribeiro, consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo), o descarte correto de tecidos é a maior dificuldade encontrada pela indústria têxtil no processo de produção.

"Há diversas iniciativas no mercado, entre elas incinerar e criar lixões específicos, mas não cumprem a lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos. Por isso qualquer empresa que consegue fazer o descarte consciente, ou seja, sem prejudicar o meio ambiente, e ainda lucra com isso é bem-vinda."

Para o consultor, o desafio de criar brindes com tecido reciclado é a grande concorrência no mercado artesanal. "A empresa disputa clientes com artesãos que estão há muito tempo no mercado e sempre produzem novidades. Quem quiser se destacar e manter uma clientela cativa precisa inovar sempre. Brindes óbvios não vão durar."

Onde encontrar:

Retalhar: www.retalhar.com.br

(Edição de texto: Armando Pereira Filho)

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