Empresária transforma aguardente de mandioca do Maranhão em bebida premium
Típica do Maranhão, a tiquira, uma aguardente à base de mandioca criada pelos índios, ganhou um banho de loja e foi batizada de Tiquira Guaaja (nome de uma tribo indígena local). O produto, produzido pela empresária carioca Margot Stinglwagner, 55, já faz parte de cardápios de drinks em hotéis de luxo no Rio de Janeiro.
Ex-advogada, Stinglwagner investiu R$ 1 milhão para construir uma fábrica, desenvolver equipamentos e começar a produção, em 2015. O faturamento não foi revelado, mas a empresa afirma ainda estar na fase de recuperação do investimento inicial.
A ideia de investir na tiquira surgiu de uma viagem a Santo Amaro do Maranhão, nos Lençóis Maranhenses, em 2011, onde Stinglwagner pretendia abrir uma pousada com alguns sócios. O negócio acabou não indo para frente, mas, durante sua estadia no local, ela conheceu a bebida.
Começou na cozinha de casa
Decidida a transformar o produto em um novo negócio, a empresária viajou para Itaverava, Minas Gerais, onde fez um curso que a transformou em mestre alambiqueira. Ao retornar para casa, levou jcom ela um pequeno alambique, que usou para fazer os primeiros testes com a bebida.
“Com a ajuda do meu filho, eu comprava dezenas de quilos de mandioca na feira e comecei a produzir a tiquira na cozinha do meu apartamento”, afirma.
Na hora de decidir onde construir a fábrica, a tradição falou mais alto, e o local escolhido foi o Maranhão. As obras começaram em 2012. “A nova tiquira, produzida em maior escala no Brasil, não podia ser carioca. Não acho que seria correto tirar isso da cultura maranhense”.
Não é adocicada como a cachaça
Produzida a partir da mandioca brava, a primeira Tiquira Guaaja foi engarrafada em 2015. Sua fabricação envolve processos enzimáticos, que transformam o amido em açúcar para, em seguida, ser fermentada até, finalmente, ser destilada em alambique de cobre.
“A tiquira tem um gosto único, bem peculiar. Não lembra em nada o sabor adocicado da cachaça, que já tem o açúcar natural da cana”, diz Stinglwagner.
O produto custa R$ 60 e tem 40% de volume alcoólico. O novo processo de fabricação foi patenteado e busca uma maior pureza do produto. “Só engarrafamos o coração da alambicagem, descartando o início e o final da produção, que são a parte mais bruta do produto, com cheiro e gosto mais fortes”, explica.
Exportação é a saída para a crise
Atualmente, a Tiquira Guaaja é encontrada no Rio de Janeiro, em bares, restaurantes, hotéis e empórios. Segundo a empresa, as negociações para que o produto entrasse em uma grande rede de supermercados estava avançada, mas travou por causa da crise.
Stinglwagner afirma que a saída encontrada para continuar crescendo e aumentar as vendas foi a exportação. De acordo com ela, o produto já está sendo negociado com alguns países da Europa. “No momento em que vivemos, não podemos ficar dependendo do mercado interno”, declara.
Atualmente, a fábrica produz 500 litros de aguardente por mês. A expectativa é que, com o início das exportações e o aquecimento do mercado nacional, esse número aumente para 6.000 litros mensais.
Bebida regional atrai curiososidade, mas exige cuidado
Para o gerente do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo) Marco Aurélio Rosas, produtos regionais têm um forte apelo junto ao consumidor. “A tiquira pode se aproveitar desse conceito para atrair a curiosidade dos clientes e valorizar ainda mais seu produto”, declara.
Segundo ele, outro ponto a favor do negócio é o fato de que o consumidor está sempre buscando novidades e produtos originais.
Por outro lado, a introdução de um produto regional em novos mercados exige cuidado e, em alguns casos, adaptação. “É preciso ter um planejamento cuidadoso para certificar-se de que a bebida tem potencial para agradar o paladar em diferentes mercados”, declara.
Onde encontrar:
Tiquira Guaaja: www.tiquirabrasil.com
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