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Ex-vinícola de garrafão em S. Roque (SP) quer vender vinho fino a Portugal

Márcia Rodrigues

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/06/2016 06h00

A vinícola Góes, produtora de São Roque (SP), cidade conhecida pelo vinho simples e doce de garrafão, tenta há alguns anos mudar a imagem da região e produzir bebidas finas. A aposta é grande, e a empresa negocia exportação até para Portugal, tradicional produtor de vinho.

Há dois anos, a vinícola iniciou o processo de internacionalização. Hoje já vende para Reino Unido, Angola e China. Está em negociação, além de Portugal, para entrar também nos mercados de Japão e Canadá. Segundo a Góes, a exportação representa 3% do faturamento da empresa.

A Góes é conhecida por produzir vinhos de mesa, aqueles com sabor mais suave e doce, mas quer conquistar o mercado de vinhos finos, feitos com uvas selecionadas, e acabar com o conceito de que São Roque não produz vinhos de boa qualidade.

A primeira vinícola da família Góes foi a Vinho Palmares. Ela foi criada, em 1938, por Benedito de Góes, imigrante português, e começou a sua produção, totalmente artesanal, com 60 litros de vinho por ano. Somente em 1963, com a divisão dos negócios pelos irmãos Gumercindo e Roque, é que surgiu a Vinícola Góes. Gumercindo abriu a Góes e Roque continuou com a Palmares, aberta até hoje.

Atualmente, sob o comando de Claudio José Goes, 52, a quarta geração da família, a Góes produz 8 milhões de litros por ano.

Desse total, 90% são de vinhos de mesa (mas não mais em garrafão) e 10% de vinhos finos. A empresa não revela faturamento nem lucro.

Segundo Fábio lenk, sócio da ABE (Associação Brasileira de Enologia), os vinhos de mesa são feitos, normalmente, com as uvas americanas Isabel e Bordô, e os finos, com uvas europeias como Cabernet e Merlot.

"As uvas americanas se adaptam facilmente com o nosso clima e solo, por isso são mais fáceis de serem cultivadas. Já as europeias, por estarem acostumadas com um clima mais seco e frio, exigem mais trabalho e tecnologia para o cultivo."

A produção da linha Góes Tempos, feita com uvas especiais, começou em 2009. Antes disso, a empresa fez uma parceria com a Casa Venturini, uma joint venture de Flores da Cunha (RS), em 1989, para iniciar uma fabricação conjunta de vinhos finos e ensaiar a sua entrada nesse mercado. As duas empresas continuam trabalhando juntas até hoje.

De acordo com Góes, atualmente a produção da linha de vinhos finos vem crescendo cerca de 12% ao ano, enquanto a de vinhos de mesa 5%.

Góes diz que, no ano passado, durante a 22ª Avaliação Nacional dos Vinhos, evento que reúne enólogos e sommeliers, o vinho Cabernet Franc Tempos Philosophia, da sua linha de finos, foi eleito um dos mais representativos da safra de 2014. "Foi o primeiro reconhecimento de um vinho de São Paulo."

O vinho mais barato comercializado pela empresa é o Góes Original, que custa R$ 11,50, e o mais caro é o Philosophia, que sai por R$ 68.

Empresa investe no enoturismo como marketing

Góes afirma que uma das formas que a empresa encontrou para tornar o nome da empresa mais conhecido foi o enoturismo, atividade na qual o turista visita as videiras, acompanha o processo de fabricação do vinho e faz degustação. A vinícola recebe a média de 2.000 visitantes por fim de semana.

Na época da colheita, entre janeiro e fevereiro, também é possível participar da pisa da uva. "É uma forma de as pessoas saberem como funciona a produção de vinho e passar a admirar a bebida." Nesse período, o número de visitantes por fim de semana dobra.

Vinhos de mesa e licoroso iniciaram a produção na região

De acordo com Ienk, a região de São Roque começou sua produção de vinhos na década de 1950. Desse ano até 1980, a fabricação se concentrou nos tipos de mesa e licoroso porque eram as demandas da época.

"O brasileiro passou a conhecer o vinho fino por volta de 1980, quando começou o processo de importação. Até então, vinho era sinônimo de bebida doce e com sabor de fruta."

Ienk afirma que somente com a entrada dos importados e o início da produção de vinhos tintos pelas vinícolas da Serra Gaúcha é que se passou a dizer  que "quem toma vinho doce não conhece vinho." "O que não é verdade porque o vinho do Porto e o Madeira são doces e são muito apreciados."

Segundo o especialista, apesar desse preconceito, o vinho de mesa continua sendo o preferido dos brasileiros. "Nós sabemos que 80% do vinho que é consumido no país é o de mesa."

Onde encontrar:

Vinícola Góes: http://www.vinicolagoes.com.br/

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