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Start-ups apostam em carros compartilhados e miram em quem quer renda extra

Bruno Hacad (à esq.) e Conrado Ramires são sócios do Pegcar - Thiago Gimenes/Divulgação
Bruno Hacad (à esq.) e Conrado Ramires são sócios do Pegcar Imagem: Thiago Gimenes/Divulgação

Larissa Coldibeli

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/09/2016 06h00

Para quem tem carro, em vez de ficar parado na garagem, ele pode render uma grana extra no fim do mês. Para quem não tem e precisa usar só de vez em quando, alugar o carro de outra pessoa pode ser uma opção mais interessante do que comprar um.

Juntar essas duas pontas foi a aposta de jovens empreendedores, que decidiram investir em um novo conceito de negócio no Brasil: o compartilhamento de carros entre pessoas. É o caso das start-ups Fleety e Pegcar.

O Fleety começou a funcionar em outubro de 2014, em Curitiba, e hoje atua também em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Tem 5.000 veículos disponíveis para aluguel e 25 mil clientes cadastrados em todas as cidades. O Pegcar começou a operar um ano depois, em São Paulo, e atualmente oferece 250 veículos e conta com 6.000 usuários.

"As pessoas estão cada vez mais questionando a posse. É possível não ter um bem e pagar por ele só quando precisar", diz Guilherme Nagüeva, 31, sócio do Fleety. "O desafio é a questão cultural. Precisamos desmistificar a relação que as pessoas têm com o carro", afirma Conrado Ramires, 26, sócio do Pegcar.

As duas empresas receberam investimento-anjo, mas não divulgam dados financeiros, como investimento inicial ou faturamento. Onde eles ganham? Na cobrança de uma taxa a cada locação: no PegCar, são 20% do dono do carro e 10% de quem aluga; no Fleety, a taxa é de 20% para cada parte.

Como funciona

O cliente pode alugar um carro por horas, dias ou semanas. O dono do veículo é quem define o valor. A negociação de preço e tempo de aluguel é feita diretamente entre locatário e locador, e o pagamento é via cartão de crédito nos sites.

Há opções a partir de R$ 60 por dia para carros populares, como Fox e Ford Ka. Para comparação, em um site de busca de locadoras tradicionais os preços começam em R$ 74,50.

Fazer o cadastro nos sites é grátis, mas cada um deles tem suas regras para admitir novos usuários:

  • Para alugar um carro, o Fleety pede apenas cópia da carteira de habilitação, dados pessoais e número do cartão de crédito, mas informa que outros documentos podem ser pedidos antes da aprovação do cadastro.
  • O Pegcar exige que o condutor tenha mais de 21 anos, CNH válida e sem restrições, pelo menos dois anos de habilitação e CPF com menos de dois sinistros nos últimos dois anos.
  • Nos dois sites, o cadastro é sujeito a aprovação após checagem dos documentos.
  • Também há exigências para os carros ofertados, como ter menos de 10 anos de fabricação, ter seguro, estar com a documentação e a manutenção em dia e não ter modificações significativas.

Os sites têm parceria com seguradoras que oferecem coberturas durante o período do aluguel. Em geral, cobrem 100% do valor do carro na tabela Fipe e incluem colisão, incêndio, roubo, furto e assistência para panes. Em caso de sinistro, o valor da franquia é limitado a R$ 3.000, e quem paga é o locatário. Em caso de multa de trânsito, a dívida e os pontos também são transferidos para ele.

Ao final de cada locação, motorista e proprietário avaliam um ao outro e, assim, vão criando uma reputação nas plataformas.

Renda extra cobre gastos com carro

Aluguel Fleety - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gabriel Alves oferece seu carro para aluguel
Imagem: Arquivo pessoal

Gabriel Rodrigues Alves, 33, é dono de um Nissan Grand Livina oferecido por R$ 187 a diária no Fleety. Desde que fez o anúncio, em dezembro do ano passado, ele diz ter alugado o carro todos os meses. "Já aluguei mais de 20 vezes, geralmente em fins de semana. Como minha mulher tem carro, não fico a pé", diz.

Alves diz que a maior motivação para alugar seu carro é o dinheiro. "Com o valor dos alugueis, consigo pagar o seguro, o IPVA e a manutenção, que faço a cada 10 mil quilômetros rodados. Mas como é algo incerto, não conto com o dinheiro para o meu orçamento. É um extra bem-vindo", declara.

Menos burocaria

aluguel de carro - Divulgação - Divulgação
Jonathan dos Santos já usou o serviço duas vezes
Imagem: Divulgação

Jonathan dos Santos, 26, já usou o serviço duas vezes para alugar carro e diz que o principal benefício é não ter tanta burocracia, além de poder escolher um carro que esteja perto.

"Eu precisei aumentar o período de locação uma das vezes e foi muito fácil. Só avisei o dono do carro, atualizamos a locação na plataforma e fiz o pagamento. É muito melhor lidar com uma pessoa do que com uma empresa, é outra relação", diz.

Exige desapego e mais manutenção

Essa é uma forma de rentabilizar um capital que fica parado, segundo Alberto Ajzental, professor de estratégia de negócios da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "A economia compartilhada aumenta as possibilidades."

Ele vê a iniciativa com bons olhos, mas diz que não deve atender a todos. "É um nicho específico de oferta e demanda. Quem tem carro novinho e é apegado não vai disponibilizá-lo. O serviço vai atender demandas específicas, de um certo perfil de público."

Ele afirma que a rotatividade do carro na mão de vários motoristas pode acelerar a necessidade de manutenção. "Ninguém vai tratar o veículo com o mesmo cuidado que o dono", declara.

Onde encontrar:

Fleety: www.fleety.com.br

Pegcar: www.pegcar.com

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New York Times