Crise fecha restaurantes, e aparelhos vão para brechós por metade do preço
A crise econômica levou bares e restaurantes a fecharem as portas. Por outro lado, aqueceu um outro mercado: o de venda de equipamentos usados para quem já tem ou quer abrir um negócio na área de alimentação. Esses "brechós" vendem os itens até pela metade do preço de um novo.
A Camargo Máquinas é uma empresa que compra e revende equipamentos da indústria de alimentos. Por lá, a procura de empresas falidas que queriam se desfazer de seu maquinário aumentou 30% desde o ano passado, estima a diretora comercial, Giovana Camargo.
Atualmente, a empresa tem em estoque cerca de 1.500 máquinas na área de alimentação. O faturamento e o lucro não foram informados.
Quando um estabelecimento chega ao fim da linha, primeiro os donos tentam passar o ponto, com tudo o que está dentro. Se não conseguem, acabam desmontando o local para não ter mais prejuízo, afirma Joaquim Saraiva, presidente do Conselho Estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP). É daí que saem os equipamentos usados.
Clientela: novatos e antigos
Se, por um lado, há empresários que não resistiram à crise, por outro há aqueles que querem começar o próprio negócio, mas não têm dinheiro para comprar tudo novo. Para eles, os usados são uma boa pedida.
Segundo Giovana, até a falta de crédito no mercado impulsiona o "brechó" de maquinários. Quem tinha dinheiro para comprar um equipamento novo, mas não conseguiu o crédito, acaba optando pelo seminovo.
Há, ainda, o caso de estabelecimentos já consolidados que precisam substituir suas máquinas antigas ou aqueles que estão tentando se "reinventar" e se diferenciar da concorrência para atrair mais clientes, afirma a diretora. Para não gastar muito, escolhem o produto de segunda mão.
Ampliando a fábrica de chocolate
Um empreendedor que optou por comprar um equipamento usado foi Cesar Frizo, dono da fábrica Raros Fazedores de Chocolates. A empresa, que fica em Guarulhos, na Grande São Paulo, está no mercado há um ano e meio.
Quando decidiu expandir o negócio, Frizo diz que teve dificuldade para encontrar uma temperadeira (aparelho que transforma o chocolate líquido em sólido) do tamanho que queria. Também influiu o fator preço. Encontrou um equipamento usado e pagou a metade do valor de um novo.
O único ponto negativo foi a máquina não vir com o manual. "Mas como é de um fabricante nacional, conseguimos tirar dúvidas com a própria empresa", diz.
Preço é fundamental
Para Eraldo Fiore, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, equipamentos de bares e restaurantes são produtos muito específicos e, por isso, é difícil encontrar comprador. Esse tipo de empresa intermediária acaba sendo útil tanto para quem quer vender como para quem precisa comprar, diz ele.
A empresa precisa apresentar um preço atrativo, segundo ele, e tomar cuidado se decidir cobrar taxas altas pela intermediação --isso pode afastar o consumidor.
Segundo o presidente da Abrasel-SP, os usados ou seminovos custam cerca de metade do preço dos produtos diretos da fábrica. "Se vender por 80% do valor de um equipamento novo, o cliente pode pensar em se esforçar para comprar um sem uso. Mas se sai pela metade do preço fica bem mais atrativo", diz.
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