IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Economista deixa IBM para vender bolsa de palha de artesãs de Peru e Brasil

Márcia Rodrigues

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/02/2017 04h00

A economista Márcia Kemp, 50, sempre gostou de viajar e de observar o artesanato das regiões que visitava. Ao ir ao Peru em 2014, gostou do trabalho de artesãs em peças com palha de junco, matéria-prima típica do país, e resolveu abrir a Nannacay ("irmandade de mulheres" em Quechua, língua indígena da América do Sul).

"Na época, eu trabalhava na área comercial da IBM, mas resolvi abrir a empresa e tocar as duas atividades paralelamente por um tempo. Nossa primeira coleção foi feita com palha de junco e foi produzida por artesãs peruanas."

Depois do lançamento, ela diz que começou a falar com artesãs brasileiras e criou peças com matéria-prima nacional também, como palha de buriti e carnaúba. "Demoramos, em média, um ano e meio para criar coleções com cada matéria-prima que incorporamos em nossos produtos."

Peças custam a partir de R$ 159

No primeiro ano de atividade, Kemp diz que vendeu apenas 200 unidades. Em 2015, foram comercializadas 1.000 e, em 2016, 3.500 peças. Ela atribui o aumento no volume de vendas no ano passado ao fato de ter abandonado a carreira de 20 anos na IBM (era executiva global de vendas) para se dedicar exclusivamente à empresa.

A peça mais barata é um brinco de pompom, feito com lã peruana, que custa R$ 159. As mais caras são as bolsas, cujos preços vão de R$ 454 a R$ 598, dependendo do acabamento, e o chapéu de palha de e o chapéu de palha de toquilla (R$ 573). As bolsas são as mais vendidas, segundo ela. Entre os produtos, também há leques, chaveiros e sandálias.

Matéria-prima vem de Peru, Colômbia, Equador e Brasil

A maioria dos produtos da Nannacay é feita de palha de vários locais da América Latina: junco (Peru), palma (Colômbia), toquila (Equador e Peru) e buriti e carnaúba (Brasil). Há ainda pompons feitos com lã peruana por artesãs regionais, que a empresária usa para produzir bolsas, chaveiros e brincos, além de tecidos pintados pela tribo Shipibo, da Amazônia peruana.

"Meu trabalho não é apenas valorizar o artesanato regional, mas contribuir para o crescimento econômico e sustentável de comunidades indígenas e de artesãs", diz. Ao todo, 120 famílias trabalham produzindo produtos para a marca, de acordo com a empresária, que não revela faturamento nem lucro.

Produtos são exportados para EUA, Japão e China

Os produtos da Nannacay são vendidos em lojas multimarcas em quase todo o país. Desde o ano passado, a marca também exporta para EUA, Japão, Canadá, China e Cingapura.

"As vendas estão indo bem, principalmente no exterior. Fechamos um pedido para entregar 2.000 peças aos EUA e Japão só no primeiro trimestre deste ano."

Trabalho regional valoriza marca

Para  Adriano Augusto Campos, consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), o fato de a empresa trabalhar com matéria-prima e peças regionais aumenta a sua aceitação no mercado.

"A empresária faz um trabalho muito forte de ligar a marca a uma contribuição social, que é ajudar comunidades indígenas e de artesãs, além de produzir peças com matéria-prima que, normalmente, só é conhecida regionalmente. O consumidor gosta de saber que está ajudando alguém ao comprar um produto bonito."

Logística, produção lenta  e clima merecem atenção

Campos diz também que o fato de a empresa atuar com comunidades distantes e ter uma produção manual e, consequentemente, lenta podem dificultar o crescimento da marca.

"A empresa produz peças exclusivas, já que demora um ano e meio para finalizar uma coleção. No entanto, há clientes que têm pressa e podem não gostar de esperar tanto para ver as novidades."

O consultor também afirma que é preciso avaliar os fornecedores com bastante cautela para não comprometer a logística.

"As comunidades são distantes, o que torna o custo com logística alto. Se o cálculo não for feito com bastante atenção, o lucro pode ser comprometido. Além disso, por estarmos falando de matéria-prima na qual a sua produção está ligada diretamente ao clima, uma mudança climática pode afetar o negócio. É importante buscar alternativas."

Onde encontrar:

Nannacay - http://www.nannacay.com/