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Dono do Rinconcito perdeu pai aos 10, vendeu bala e hoje tem 8 restaurantes

Fernanda Carpegiani

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/10/2017 04h00

O peruano Edgar Villar, 39, perdeu o pai aos 10 anos, vendeu balas em Lima (Peru), veio para São Paulo, trabalhou como camelô e entregou marmitas para outros imigrantes no centro da cidade. Em 2005, abriu seu primeiro restaurante de comida peruana, na capital paulista. Hoje, o Rinconcito Peruano tem oito unidades e está entre os melhores segundo publicações especializadas.

A empresa não revela o faturamento de 2016. O lucro foi de 40%.

Ceviche (peixe cru marinado no limão com milho peruano, batata e batata doce) é o prato principal. A porção individual custa de R$ 38 a R$ 50 (varia de acordo com os ingredientes: camarão, peixe e misto com frutos do mar).

O cardápio tem 56 pratos, entre eles o lomo saltado (prato típico do Peru), preparado com carne, cebola, tomate, batata frita e arroz (R$ 27,90), e o arroz com mariscos, que inclui mariscos, camarão, lula e polvo ao molho crioulo (R$ 48,90). As oito unidades do restaurante servem em média 1.500 refeições por dia.

O investimento inicial na empresa foi de R$ 20 mil. Villar diz estimar que esse valor tenha sido recuperado em seis meses. Ele não tem sócios e é o chef de todas as unidades.

De vendedor de marmita a chef de cozinha

Villar nasceu em Apurímac, na zona rural do Peru, e passou por dificuldades financeiras. Tinha 10 anos quando seu pai morreu. Mudou-se para Lima com a mãe, onde estudou e trabalhou como vendedor de balas e legumes.

“Trabalhava dia e noite e não tinha êxito. Só dava para pagar aluguel, comida e escola. Fiz o Ensino Fundamental, e uma irmã me emprestou US$ 250 para eu terminar meus estudos, mas decidi viajar com meu irmão”, relata. Os dois foram para a Bolívia e depois vieram ao Brasil, em 2000. Villa diz que chegou já sem dinheiro.

O negócio do restaurante começou informalmente em 2003, quando ele trabalhava como camelô na 25 de Março, tradicional rua de comércio popular no centro da cidade, vendendo roupas e artesanato.

Depois de ter seus produtos apreendidos pela Guarda Civil algumas vezes, passou a vender marmitas de ceviche por R$ 10 para ambulantes bolivianos, peruanos e chilenos.

Preparava a comida no apartamento onde morava e começou vendendo cinco pratos por dia. Com o passar dos anos, chegou a entregar 250 pratos diariamente. Ele também vendia roupas nas ruas.

Mesmo quando eu era camelô ou vendia marmitas, sempre sobrava um pouco. Guardava e depois reinvestia. Aprendi a dar valor a tudo o que ganho.

Em 2005, ele havia juntado R$ 20 mil. Comprou o ponto comercial na rua Aurora, onde até hoje funciona o primeiro Rinconcito. O imóvel fica ao lado da região conhecida como cracolândia, área marcada pelo tráfico e consumo de crack.

“Nem passou pela minha cabeça que poderia abrir um restaurante. Só queria um lugar para fazer minhas marmitas sem que ninguém me atrapalhasse.”

Segundo ele, o espaço era “pequeno e precário”, com capacidade para atender 24 pessoas. A palavra rinconcito significa “cantinho” em espanhol.

O acesso era (e ainda é) por uma escadaria em frente à pequena porta na rua, mas passou por diversas reformas para melhorar a estrutura. A primeira, em 2012, custou cerca de R$ 5.000. Hoje, cabem ali 300 pessoas.

Em 2012, o restaurante saiu na Folha de S.Paulo. “De um momento a outro, o restaurante ficou bombado. Ficamos desesperados, porque não tinha respiro. O lugar lotava ao meio-dia, e havia fila na rua até as 18h”, relata. Segundo ele, ser próximo à cracolândia nunca trouxe empecilhos para o negócio.

Primeira filial durou seis meses

A primeira tentativa de filial foi aberta em 2010, em Higienópolis, bairro nobre na região central da cidade, mas fechou em seis meses, por não ter clientes.

Em meados de 2012, veio a primeira filial que deu certo: na rua Guaianazes, também no centro da cidade. Daí para frente, o empreendedor abriu seis novas unidades. Contratou uma equipe para administrar as finanças.

Hoje, há quatro unidades no centro da cidade e as demais no Tatuapé (zona leste de São Paulo), Moema (zona sul), Vila Leopoldina e Pinheiros, ambas na zona oeste. No total, são cerca de 180 funcionários (peruanos são a maioria).

Modelo de negócios natural

Para a consultora do Sebrae-SP Janaina Moreira Costa, uma das maiores vantagens do negócio é ser especialista em um segmento. “O restaurante nasceu sem modelo de negócios, mas hoje tem um bem claro: trazer arte, cultura e gastronomia peruana a custo acessível e agradável ao paladar do brasileiro”, diz.

Outro ponto positivo é que a segmentação facilita a padronização. “Você consegue padronizar o cardápio e replicar o modelo para ganhar escala. Pode ter uma central de compras e manter a garantia do produto que oferece”, diz.

Ela diz, no entanto, que a falta de variação de pratos pode ser uma limitação. “Seja pelo cardápio restrito ou pela resistência a uma culinária diferente, as pessoas podem não querer comer comida peruana todos os dias. Por isso é preciso trabalhar bem a divulgação para fazer as pessoas terem interesse em conhecer a gastronomia peruana.”

Para ela, também é importante analisar a disponibilidade e a sazonalidade da matéria-prima. “O custo pode subir em determinadas épocas do ano e é preciso planejamento para isso, fazendo boa gestão de compras e financeira.”

Onde encontrar:

Rinconcito Peruano – http://www.rinconcitoperuano.com.br/

(Edição de texto: Claudia Varella)

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