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Empresa fatura R$ 3 mi com seda para cigarro artesanal com charge de Glauco

Gabriel Navajas

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/12/2017 04h00

Viajando pelo mundo, quatro publicitários notaram uma tendência de consumo de cigarro artesanal, feito à mão pelo próprio usuário, e apostaram que isso chegaria com força ao Brasil. Em 2012, se uniram e criaram a Bem Bolado Brasil, que vende itens de tabacaria.

A empresa importa da Ásia e da Europa o papel de seda usado para enrolar o fumo e fabricar o cigarro artesanal. O objetivo é possibilitar ao apreciador do cigarro artesanal o consumo de um produto diferente do que já existia no mercado, segundo os sócios Thiago Almeida, 36, Renato Lucato, 35, Marcello de Meneses, 48, e Fabricio Penafiel, 42.

Em seu perfil nas redes sociais, a empresa faz diversas referências à maconha. Os sócios reconhecem que o produto também pode ser usado para o consumo de maconha, droga não legalizada no Brasil, mas dizem que não temem enfrentar nenhuma questão legal por esse motivo.

O que os clientes fazem com os nossos produtos é de única e exclusiva responsabilidade deles.

Thiago Almeida, sócio

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Em 2016, o faturamento da Bem Bolado Brasil foi de R$ 3 milhões. Investimento inicial e lucro não foram divulgados.

Hoje, o Brasil tem 18,2 milhões de fumantes, segundo dados do governo. Desse total, cerca de 91 mil (5%) são potenciais consumidores de cigarro artesanal, estimam os sócios da Bem Bolado Brasil.

Ilustrações do cartunista Glauco

A empresa lançou uma linha de sedas ilustrada com charges do cartunista Glauco --conhecido por seus personagens usuários de drogas, como Geraldão e Doy Jorge. Glauco morreu em 2010. Os desenhos de Glauco vêm na capa do livreto da seda. Ficam no primeiro papel, como uma espécie de lacre.

Há um acordo entre a empresa e a viúva do cartunista, Beatriz Galvão Veniss, que conheceu a Bem Bolado Brasil por meio de sua assessora, Thayana Salgueiro.

Desde o início eu adorei a ideia, porque o Glauco sempre foi super ativista da cannabis, e eu acho que o trabalho dele tem tudo a ver com o tema.

Beatriz Galvão Veniss, viúva do cartunista Glauco

Além da linha com charges do Glauco, os produtos trazem na capa desenhos que remetem a pontos turísticos brasileiros, como Corcovado e Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, Masp e Obelisco, em São Paulo, Teatro Amazonas, em Manaus, e Ponte Ercílio Luz, em Florianópolis (SC).

Sedas sustentáveis e papel feita de alfafa

Os proprietários dizem que optaram pela produção fora do Brasil porque no país não existe uma fábrica que faça a seda na gramatura (espessura) e com a qualidade que buscavam. Os produtos que importam, segundo eles, são considerados sustentáveis devido ao processo de produção: uso de energia eólica, sem agrotóxicos na plantação das árvores e sem cloro no branqueamento do papel (exceto na linha pop).

As sedas vendidas na Bem Bolado Brasil são divididas em três linhas: pop, com gramatura de 14g/m²; brown (papel marrom), com gramatura de 12,5 g/m², e premium, com gramatura de 13g/m² e papel importado da Espanha.

Cada livreto com 50 folhas custa de R$ 2 a R$ 7, dependendo do tamanho do papel e da linha (a pop é a mais barata e a premium, a mais cara). Os preços são similares aos de concorrentes, como Colomy, Trevo e Raw.

A empresa também vende outros itens, como piteiras (pequenos tubos onde são inseridos os cigarros), dichavadores (que moem o fumo), bonés, tabaqueiras (carteiras para guardar sedas, isqueiros), cinzeiros e filtros para tabaco. Eles não vendem o tabaco. A venda dos itens é realizada por meio de distribuidores, atacadistas e pela internet.

A Bem Bolado Brasil também é distribuidora da linha pay-pay, seda de origem espanhola feita de alfafa, que custa em média R$ 4 a unidade.

Associar a marca a algo ilícito pode afastar o consumidor

A empresa encontrou um nicho de mercado, diz Letícia Menegon, coordenadora do Centro de Desenvolvimento de Empreendedorismo da ESPM-SP. "Muitas pessoas fumam cigarro com seda, gostam de comprar fumo por ser menos industrializado, mais puro. Há um mercado até bastante razoável", diz.

Para a especialista, no entanto, ligar o produto à maconha pode ser um risco, e as vendas precisam ser em grande escala, porque os produtos podem ser trocados por outros.

Associar o nome da marca a algo ilícito pode afastar o consumidor. Nem todos que fumam cigarro artesanal gostam de maconha. E são (produtos) facilmente substituíveis. Você encontra em qualquer lugar. Precisam ser vendidos em grande escala para o negócio sobreviver.

Letícia Menegon, da ESPM-SP

Onde encontrar:

Bem Bolado Brasil - www.bemboladobrasil.com.br

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