IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Família empresta R$ 300 mil, e garota de 17 anos cria cosméticos veganos

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/07/2018 04h00Atualizada em 24/07/2018 17h17

Foi num tradicional almoço de domingo na casa dos avós em São Paulo, em 2016, que Isabelle Gantus, então com 17 anos, foi desafiada pelo avô Antônio, 74, a criar sua própria marca de cosméticos que não fizesse testes em animais. No mesmo ano, ela abriu a empresa Ametsa, com R$ 300 mil emprestados pelos pais e pelo avô.

Isabelle disse que, naquela época, estava cansada de não encontrar as qualidades que procurava numa marca de cosméticos.

"Sempre procurei produtos com qualidade, preço justo, sem testes realizados em animais e contando com representatividade social, livre dos estereótipos e padrões de beleza pré-estipulados. Comprava só importados, pois era difícil encontrar produtos veganos e com essas características no Brasil, e eram caros. Ao comentar isso com minha família naquele almoço, meu avô me desafiou a criar minha própria marca. Foi o que fiz", afirmou ela, que disse estar se tornando vegetariana.

Leia também:

A Ametsa, que significa "sonho" na língua basca, comercializa maquiagens que levam o selo cruelty free & vegan da Peta (People for the Ethical Treatment of Animals, uma organização não governamental que se dedica aos direitos animais), o que garante produtos sem testes realizados em animais.

Inicialmente, o objetivo era ter produtos cruelty free, ou seja, que não são testados em animais. Depois, segundo a empresa, "veio o desejo de ir além e criar produtos veganos". Por isso, os cinco primeiros batons sólidos lançados pela marca são cruelty free, mas não são veganos. Segundo a empresa, eles sairão de linha ou terão a fórmula alterada, e todos os demais produtos já são cruelty free e veganos.

A empresa começou vendendo batons apenas no site: eram cinco batons sólidos e dois líquidos. Hoje, tem em seu portfólio 25 produtos, entre batons, lápis, pincéis e corretivos. Vende, além do site, em quatro pontos físicos em São Paulo, dois em Vitória da Conquista (BA), dois em Nova Iguaçu (RJ) e um em São Gonçalo (RJ). A empresa tem cinco funcionários e não revela faturamento nem lucro.

Mais R$ 3,7 milhões de investimento

Isabelle disse que tentou na época empréstimos em bancos, sem sucesso. "O dinheiro (dos pais e avô) não foi de mão beijada. Pago juros de 6% ao ano. Dei garantias a eles, pois tenho alguns bens. Acho até mais difícil ter de lidar com família, em vez de banco, pois o familiar está sempre ali, perguntando, verificando", afirmou.

Na verdade, os juros que ela paga para a família (6%) estão bem abaixo dos de mercado. De acordo com dados do BC (Banco Central), em maio, os juros para empresas estavam em 20,6% ao ano, em média. Segundo ela, 30% do empréstimo inicial foi pago.

Sua família é de imigrantes libaneses e italianos. O pai é administrador de empresas, e o avô, economista de formação. Os dois sempre foram empresários e investidores, disse ela.

Para escolher os produtos da sua marca, Isabelle disse ter participado de todo o processo seletivo. "Foram muitas reuniões com fornecedores e empresas para que tudo se tornasse realidade”, declarou.

Até o final de julho, a meta é lançar outros produtos, como pós, blushes, sombras, bases, corretivos e iluminadores, chegando a 70 diferentes itens de maquiagem, e começar a vender no sistema porta a porta, por meio de catálogos, além de continuar vendendo no site oficial. Nesses novos produtos e em marketing, a empresa está investindo R$ 1 milhão.

A empresa investirá mais R$ 2,7 milhões na criação do canal de venda direta, em marketing e em novos produtos, disse Isabelle. Segundo ela, o investimento vem sendo feito pela própria família e com o lucro da empresa.

“Estou conseguindo realizar o sonho. Consegui algo bom e barato e com princípios sustentáveis. Estou muito feliz”, declarou Isabelle, hoje com 19 anos e cursando faculdade de design. E ela já usa os ensinamentos da faculdade em sua própria empresa, ao criar, ela mesma, as embalagens de seus produtos.

Empresa aceita bitcoins como pagamento

O produto mais barato é o pincel aplicador de sombra (R$ 25), e o mais caro é o batom Chubby Snow (R$ 52). Segundo a empresária, 10% do lucro da venda desses batons é destinado a uma ONG que ajuda animais.

Os mais vendidos são o delineador líquido Void (R$ 40), os batons líquidos (que custam de R$ 45 a R$ 48) e o batom Chubby Snow. A Ametsa aceita bitcoins como forma de pagamento.

A fabricação dos produtos é terceirizada. “Os produtos têm fórmulas exclusivas criadas por profissionais que a empresa contrata. Mas nada é produzido sem passar por mim, que testo todos os produtos”, disse Isabelle. Segundo ela, a aprovação dos produtos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é de responsabilidade dos fabricantes.

Marca não deve se descuidar da gestão, diz consultora

Para Sandra Fiorentini, 59, consultora do Sebrae-SP, a empresária Isabelle tem características de uma empreendedora, que são identificar uma oportunidade de acordo com suas crenças e valores, buscar informações, não ter medo de arriscar e criar um produto diferenciado.

“Ela faz parte de uma geração 100% digital ou nativos digitais, a que nasceu depois de 2000, tem atitude e busca fazer algo de acordo com o que acredita. O nicho de mercado da Ametsa é justamente essa geração, que pensa como Isabelle e está virando consumidora”, afirmou a consultora.

Usar seus conhecimentos técnicos da faculdade de design para desenhar as embalagens de seus produtos é outro ponto que a consultora vê como positivo.

No entanto, Sandra disse que Isabelle poderia ousar mais nas embalagens. “O design dos produtos da Ametsa segue mais ou menos o mesmo padrão de outros produtos do mercado. Como ela faz faculdade nessa área, poderia ousar mais nisso.”

Para Sandra, a marca não deixa claro se as embalagens também têm conceitos sustentáveis, como serem recicláveis. “Para seguir na linha dos produtos, as embalagens também deveriam ter esse conceito inovador”, disse.

A consultora afirmou também que a empresa não pode se descuidar da gestão, como verificar a formação dos preços de venda dos produtos, prazo para retorno dos investimentos, ter todos os alvarás necessários para o exercício de suas atividades e aprovação da Vigilância Sanitária, por exemplo. 

“Tem de estar tudo em ordem. Isso facilitará a entrada dela em outros mercados e dará mais segurança a quem fizer investimentos. A gestão é de suma importância para crescimento e perenidade da empresa”, declarou.

Onde encontrar:

Ametsa - https://ametsa.com.br/

#TruquesdeMake: 5 usos diferentes para a sombra marrom

Universa