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Brasil perdeu 10 mi de empreendedores em 2020; mulheres foram mais afetadas

Do UOL, em São Paulo

08/06/2021 12h53Atualizada em 08/06/2021 16h58

Quase 10 milhões de empreendedores tiveram de encerrar seus negócios no Brasil no ano passado, afetados principalmente pela pandemia do coronavírus. As mulheres foram as mais impactadas pela crise: só o número de empreendedoras já estabelecidas diminuiu 62% de 2019 para 2020 — queda muito maior do que a verificada entre os homens (-35%).

Os números são da pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) 2020, feita em diversos países e que contou com apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e do IBPQ (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade). Segundo o levantamento, o número de empreendedores brasileiros caiu de 53,4 milhões, em 2019, para 43,9 milhões no ano passado.

"A pandemia afetou estruturalmente o perfil do empreendedor brasileiro, cujo impacto maior ocorreu entre as mulheres: com forte fluxo de entrada e saída de mulheres — em especial com a entrada de mulheres menos preparadas (com menor escolaridade) nos estágios iniciais da atividade empreendedora e saída das mais experientes nos estágios mais avançados", explica o relatório.

Apenas o número de empreendedoras nascentes — com até três meses de atividade — subiu (49%) de 2019 para 2020. Já o de novas empreendedoras, que têm de 3 meses a 3,5 anos de operação, caiu 35%. Quanto aos homens, houve crescimento de 7% em ambas as categorias.

A taxa de empreendedorismo (proporção da população adulta que está ocupada como empreendedor) no Brasil atingiu o menor patamar dos últimos oito anos e caiu para 31,6% em 2020, ante 38,7% registrada em 2019. Com esse resultado, o Brasil caiu do quarto para o sétimo lugar em taxa total de empreendedorismo no mundo.

A taxa total de empreendedorismo no Brasil sofreu uma redução nunca vista antes. A pandemia veio e derrubou o mercado todo, em especial os mais antigos. Por outro lado, por causa do desemprego, entrou muita gente nova e inexperiente que tenta sobreviver por meio de um pequeno negócio. O mundo inteiro sentiu esse impacto, mas, no Brasil, os efeitos sobre o empreendedorismo foram mais fortes ainda.
Carlos Melles, presidente do Sebrae

Queda foi maior entre negócios estabelecidos

Quando analisados apenas os empreendedores estabelecidos — com mais de três anos e meio de atuação —, a queda na taxa de empreendedorismo foi ainda maior, passou de 16,2% para 8,7%, uma redução de quase 50%. O número de empreendedores estabelecidos ficou abaixo do registrado em 2004 (10,1%), de acordo com o Sebrae.

Para o presidente do Sebrae, a elevada redução na taxa de empreendedores estabelecidos revela uma piora da qualidade do empreendedorismo no Brasil.

"Entrou muita gente inexperiente e empreendedores preparados se viram obrigados a abandonar os empreendimentos que possuíam, o que representa uma forte mudança qualitativa", afirmou Melles.

Cresce número de empreendedores por necessidade

Enquanto o total de empreendedores estabelecidos caiu, o de iniciantes — com menos de três anos e meio de atuação — cresceu ligeiramente de 23,3% para 23,4%. O percentual representa a maior taxa histórica da série, feita desde 2002.

Esse crescimento, segundo o Sebrae, tem entre suas causas o aumento do desemprego no país, que levou muitas pessoas a empreender para ter alguma fonte de renda.

De acordo com o relatório da GEM 2020, o número de empreendedores iniciais motivados por necessidade saltou de 37,5% para 50,4%, o mesmo nível de 18 anos atrás. Além disso, 82% dos entrevistados alegaram que a motivação para começar um negócio foi a solução encontrada para ganhar a vida porque os empregos são escassos.

A pesquisa também detectou que o contingente de pessoas que estão entrando agora no mercado como empreendedores, os empreendedores nascentes — grupo de pessoas que nos últimos 12 meses realizaram alguma ação visando ter um negócio próprio ou tem uma empresa com, no máximo, três meses de operação — cresceu 25% e atingiu o maior patamar da série histórica, com uma taxa que representa 10,2% da população adulta.

Podemos chamar muitos desses empreendedores de 'filhos da pandemia' e que foram para o caminho do empreendedorismo por uma extrema necessidade de obter renda.
Carlos Melles, presidente do Sebrae

Pesquisa ouviu 2.000 pessoas no Brasil

A GEM é a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo e nos seus 21 anos de existência, 110 países participaram desse mapeamento, que já realizou mais de 10 milhões de entrevistas com pessoas que fazem parte da população adulta no mundo.

Em 2020, 46 países participaram do levantamento e foram entrevistadas 140 mil pessoas no mundo. No Brasil, foram realizadas 2.000 entrevistas com pessoas entre 18 e 64 anos entre os meses de julho e outubro de 2020.

(Com informações da Agência Sebrae de Notícias)