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Cerveja e cigarro ajudam na carreira? Propagandas antigas diziam que sim

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

09/01/2015 06h00

Cerveja dá energia para trabalhar? Cigarro leva ao sucesso? Hoje em dia, essas perguntas parecem absurdas, mas houve um tempo em que propagandas tentavam convencer o público de que cigarros e bebidas alcoólicas podiam ajudar na sua profissão.

Nos anos 1960, por exemplo, a Brahma afirmava que a Malzbier, cerveja escura e com teor alcoólico de 4%, era energética. A peça publicitária dizia "'virar' no trabalho, só mesmo com Malzbier", e afirmava que a bebida dava disposição.

Essa tendência não era restrita ao Brasil. A cervejaria irlandesa Guinness também afirmava que sua bebida era fortificante em campanhas que começaram nos anos 1930 e duraram décadas.

A Guinness, inclusive, as exibe em sua página na internet até hoje, mas diz que é apenas para fins históricos, que as afirmações não são mais endossadas pela empresa e que não tem a intenção de promover benefícios da cerveja. 

Empresas de cigarro também anunciavam os supostos benefícios do produto e o ligava a profissões. Nos anos 1940, uma campanha da Camel nos EUA anunciava que os médicos preferiam fumar seu cigarro aos das outras marcas. 

Propagandas evoluíram, e afirmações falsas não são mais permitidas

Segundo o professor Marcelo Pontes, líder da área de marketing da ESPM-SP, "o uso da imaginação era muito mais solto" nessa época. "[A propaganda] era mais empírica. Depois começou a se estudar mais, com profundidade, e a se ter cuidado com o impacto que ações de comunicação têm no consumidor".

Pontes diz que afirmações questionáveis não são mais aceitas pelo consumidor. "Nenhuma pessoa de bom senso acredita que fumar uma marca de cigarro garante sucesso. Isso era fantasioso. Mas essa fantasia está sumindo. Essas afirmações diretas não têm sido bem percebidas".

Ele afirma que tais propagandas também não seriam mais permitidas, sendo proibidas pelo Conar (Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária), que regulamenta o setor, ou mesmo podendo ser acionadas na Justiça, em caso de alegações falsas.

Além disso, propagandas de cigarro foram proibidas no país.

As novas regras para a publicidade não valem apenas para álcool e cigarro. "Não é mais possivel mostrar brinquedos fazendo o que não conseguem, por exemplo. Antigamente, era comum a propaganda mostrar o carrinho andando sozinho. Hoje precisa aparecer uma criança empurrando", diz o especialista.

No futuro, propagandas atuais também poderão ser criticadas

Daqui a algumas décadas, será que acharemos estranho propagandas veiculadas atualmente, quando olharmos para trás?

"Acredito que sim. É uma evolução natural, não apenas na propaganda", diz Pontes. "Um dos focos que já está sendo policiado é o de [propagandas de] gêneros alimentícios, com tantos shakes e suplementos".

Marcas buscam se associar a outros conceitos

Se as marcas de bebidas alcoólicas não falam mais sobre os benefícios de seus produtos no trabalho, muitas vezes acabam promovendo associações estranhas, segundo o professor.

É o caso de patrocínios a corridas de automóveis, por exemplo.

"A [cerveja] Itaipava chegou a dar nome ao GP Brasil de Fórmula Indy. Nada contra, mas associar cerveja e direção não me parece muito correto", opina.