Meu sonho é ter carteira assinada, diz transexual; mercado ainda é difícil
Isla Silva, 32, é transexual e nunca teve sua carteira de trabalho assinada. "Já fiquei muito triste por isso. De chorar, até. Hoje sou mais centrada", conta. Ela vive de trabalhos temporários com moda e beleza.
A realidade do mercado de trabalho para transexuais e travestis ainda é difícil, principalmente para aqueles que assumem a identidade na adolescência. Outros optam por escondê-la, como o soldado Marcelo Viana dos Santos, que usou a identidade de mulher no início da carreira na PM, com medo do preconceito.
Preconceito está presente até na moda
Foi a vontade de trabalhar na área que motivou Isla Silva a sair de Natal, onde nasceu e começou sua transição para transformar sua aparência masculina em feminina, e se mudar para São Paulo, aos 27 anos. "Na adolescência, era louca para trabalhar em lojas grandes [de departamento]. Mas nunca tive a chance".
Segundo ela, o fato de ser transexual a impediu de realizar o desejo. "Durante minha transição, era andrógina. Fazia entrevistas e nunca era chamada. Sempre fui muito menina". Ela afirma que também existe o preconceito no mercado da moda, visto como mais aberto ao público LGBT. "Você vê muitos gays, mas não trans. Em loja é muito difícil".
Ela começou sua transição aos 17 anos, tomando hormônios sem o acompanhamento médico. Autodidata nos estudos, completou o ensino médio e fez cursos de moda, mas quer ampliar sua qualificação. "Trans têm de saber se virar".
O sonho de trabalhar em uma loja realizou-se em Portugal, onde morou por um ano, vendendo acessórios. "Gostaria muito de ter carteira assinada em moda. [Trabalhar com] produção ou organização de eventos", afirma.
Site ajuda trans a encontrar emprego
Foi pensando na inserção de transexuais e travestis no mercado que a advogada Márcia Rocha criou, junto com dois amigos, o site TransEmpregos, plataforma de busca de trabalho.
Lançada em 2014, a página atualmente tem cerca de 430 currículos cadastrados. Ela não sabe dizer, no entanto, quantos já conseguiram um emprego.
A advogada afirma que, no momento, trabalha com a divulgação e conscientização de empresas. "Trans é a última fronteira. Trans não tem a menor oportunidade", afirma. "Tem gente com pós, mestrado, e que não consegue emprego como faxineira".
Para ela, também dificulta a qualificação a realidade da maior parte dos travestis e transexuais, que, muitas vezes, são rejeitados pela família, obrigados a sair de casa cedo e interromper os estudos.
Alguns recorrem à prostituição, e acabam não querendo entrar no mercado formal de trabalho por causa do rendimento. "Tem travesti que saiu de casa aos 12 anos, não tem qualificação, e ganha na prostituição até R$ 4.000".
Para evitar o preconceito, ela mesma demorou 30 anos para "sair do armário". Fez a transição só depois que já tinha completado seus estudos e estava estabilizada na carreira. Hoje, advogada e dona de quatro empresas, afirma orgulhosamente que é travesti e lésbica.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.