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Desempregado e com dívida, morador de Cubatão oferece R$ 1.000 por trabalho

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Rafael Motta

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

03/10/2015 14h23

Geralmente, empresas procuram trabalhadores e oferecem salário a eles. Mas a proposta de Edson Almeida, 27, é outra: ele se prontifica a pagar R$ 1.000 para quem lhe conseguir emprego como mecânico montador ou em “qualquer função profissional” diferente. 

Morador de Cubatão (a 56 km de São Paulo), ele está desempregado há um mês e com “dívidas se acumulando”.

A oferta está estampada em alguns dos 36 cartazes --parte deles foi arrancada-- que imprimiu e colou em hotéis, bares, portas de agências bancárias e em uma parede da prefeitura da cidade.

Inicialmente constrangido, Edson não divulgou o nome verdadeiro nos cartazes, e optou por um pseudônimo: Murillo. Após a repercussão, no entanto, admitiu de maneira aberta que está disposto a pagar para ter emprego.

Houve retorno: após indicação de um amigo, recebeu um telefonema de Manaus (AM). “Vou para qualquer lugar, mas não senti firmeza [na vaga]”, lamentou Almeida.

Visto negado para intercâmbio nos EUA

A ideia de espalhar os cartazes surgiu depois de uma tentativa fracassada de estudar no exterior. Ele afirma ter tentado autorização para estudar inglês nos Estados Unidos, por sugestão de um professor, mas lhe negaram o visto de entrada.

“Isso foi na terça-feira [29]. Estudando inglês lá e fazendo cursos na área portuária, eu teria um currículo mais atraente”, afirma.

Sem receber desde janeiro

Apesar de ter ficado desempregado em setembro, Almeida diz estar sem receber desde janeiro. Segundo ele, ficou impedido de trabalhar após ter tido contato com um gás tóxico no polo industrial de Cubatão. Porém, afirma, não obteve licença médica pelo INSS porque a empresa não lhe forneceu a documentação necessária. 

“Fiquei de janeiro a 13 de agosto sem receber. Não pedi afastamento pelo INSS porque a empresa não aceitava me dar a CAT [Comunicação de Acidente de Trabalho] e, depois, não me aceitava de volta. Consegui com ajuda do sindicato [de sua categoria], mas me mandaram embora em 1º de setembro”, relata.

Pagar R$ 1.000 a quem lhe assegure emprego foi uma ideia para driblar a dificuldade de não ter alguém que o indique para uma colocação. 

“Não tenho o dinheiro. Posso pagar quando receber o salário ou um vale. Mesmo assim, pessoas próximas se dispuseram a me emprestar essa quantia”, afirma.

Seu irmão, igualmente mecânico montador, está parado há 11 meses.

Sonho para o futuro é mudar de área

Almeida é formado em Logística Empresarial desde 2011 e pós-graduando em supply chain management (gerenciamento de cadeia de suprimentos). Mineiro, mora em Cubatão há nove anos com uma irmã, também desempregada, e a filha dela, de 3 anos, "que não recebe pensão".

Ele espera trabalho para resolver suas pendências financeiras e, futuramente, quer começar a atuar na área em que se formou.

Infelizmente, ainda não tem experiência na área. "Não deu. Precisava de indicações e bom conhecimento [de pessoas] para entrar na área [de logística]”.