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"Aposentar para quê?"; ela voltou a trabalhar após 35 anos e não quer parar

Iracema Garcia, 64, fez curso técnico em nutrição e retornou ao mercado de trabalho - Adriano Delgado/UOL
Iracema Garcia, 64, fez curso técnico em nutrição e retornou ao mercado de trabalho Imagem: Adriano Delgado/UOL

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

10/01/2016 06h00

Iracema de Biasi Garcia, 64, largou a carreira em contabilidade em 1974 para cuidar dos filhos. Depois da morte do marido, em 2003, decidiu estudar para ser técnica em nutrição e voltar ao mercado de trabalho. Confira seu relato.

Quando jovem, eu fiz ensino técnico em contabilidade. Apliquei minha formação trabalhando em bancos, até que me casei em 1974.

Como era de praxe naquela época (não para todo mundo, mas para uma grande maioria), após o nascimento do filho parei a atividade profissional para cuidar da casa. Tive três filhos.

Não digo que foi ruim para mim ou que me arrependa. Foi ótimo. Acho que tinha que ter feito isso. Se fosse hoje, faria novamente, mesmo com toda essa evolução, com as mulheres indo para o trabalho.

Voltar para sala de aula foi um desafio

carreira - iracema - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Iracema Garcia ao lado dos filhos; ela largou a contabilidade para cuidar da família
Imagem: Arquivo pessoal

Em 2003, meu marido morreu. Eu só tinha uma filha solteira ainda. Após um ano, ela se casou e fiquei sozinha.

Independentemente de não estar exercendo nada na área profissional, eu sempre procurei ter atividades na minha vida. Faço parte de uma igreja evangélica onde atuo em muita coisa. Sempre fui muito ativa.

Tinha uma amiga que fazia curso técnico em nutrição. Ela falou que era muito bom e eu me interessei, achei que era uma forma de preencher o tempo.

Em 2006, prestei um vestibulinho para a Etec, escola técnica do governo. Pensei: "nossa, tanto tempo parada, não vou conseguir entrar. Eu não lembro mais". Não sei como está hoje, mas naquela época era bem concorrido.

Passei. Fui superbem. Fiquei muito contente.

Foi um desafio voltar para a escola. Achei que as pessoas com quem eu iria conviver pudessem ter algum tipo de preconceito por eu ser mais velha, mas, pelo contrário, fui muito bem recebida. Havia algumas pessoas da minha faixa etária mas, no fim, eu me identifiquei com os mais novos.

Aos 60 anos, virou funcionária da filha

Depois de formada, passei por um processo seletivo em 2009 e entrei em uma primeira empresa médica para fazer atendimento por telefone, falando de qualidade de vida para pacientes diabéticos e orientando.

Saí de lá procurando algo melhor. Fui para outra empresa, também orientando pacientes.

Nesse meio tempo, minha filha abriu uma empresa médica. É onde estou agora. Comecei trabalhando em atendimentos de pacientes de lúpus e com problema pulmonar crônico.

Depois surgiu uma oportunidade em um processo seletivo aqui dentro da empresa, que veio por e-mail, para treinamento de outros profissionais. Achei que era a minha cara, porque gosto muito de falar, tenho facilidade para me expressar.

A minha filha falou: "É uma boa ideia, mas não vou entrar nisso, porque não quero ser parcial. Você vai fazer com o pessoal do setor que convocou". Fiz e passei.

Durante todo esse tempo de trabalho, foi um aprendizado. Mesmo com informática, trabalhar com computador, fazer planilha, trabalhar em Excel. Fui aprendendo e não volto atrás.

"Aposentadoria? Não tenho intenção"

Eu previa, logo após o curso técnico, fazer faculdade de nutrição. Devia ter feito em seguida, porque comecei a trabalhar e aí meu tempo ficou escasso. Acabei deixando de lado.

Ainda hoje penso em conseguir conciliar. É um projeto que eu tenho. Pode ser que faça, não tenho certeza.

Aposentadoria? Não tenho intenção. Para quê?