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Agência indeniza aluno por intercâmbio frustrado; saiba evitar problemas

O advogado Antonio Carlos Donini fez intercâmbio para estudar inglês na África do Sul - Arquivo pessoal
O advogado Antonio Carlos Donini fez intercâmbio para estudar inglês na África do Sul Imagem: Arquivo pessoal

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/01/2019 04h00

Diversas agências vendem pacotes de viagem voltados para quem quer melhorar o domínio de um idioma estrangeiro estudando no exterior. Mas a experiência pode ser frustrante se a escola ou o curso não forem adequados ao nível de idioma do intercambista.

Foi o que aconteceu com o advogado Antonio Carlos Donini, 55, de São Paulo. Ele diz ter sido prejudicado no intercâmbio ao ser alocado em uma sala com nível de inglês muito diferente do seu. O advogado moveu uma ação contra a agência, venceu e recebeu mais de R$ 14 mil de indenização.

Para tentar evitar problemas como esse, especialistas recomendam pesquisar bastante sobre a agência antes de fechar negócio e destrinchar o contrato antes de assiná-lo (veja dicas mais abaixo).

Aprendizado prejudicado e constrangimentos

No caso de Donini, o intercâmbio teria sido frustrante porque ele diz ter sido matriculado pela agência EF Viagens e Turismo em uma turma de alunos com nível de inglês avançado, muito superior ao seu.

O advogado fez um intercâmbio de quatro semanas, entre 2017 e 2018, na Escola Internacional de Idiomas EF, na Cidade do Cabo.

Além de ter tido o aprendizado prejudicado, ele diz que passou por constrangimentos como o de não conseguir acompanhar as conversas na sala de aula e ser deixado de fora pelos demais alunos nas atividades em grupo.

"Não conseguiu evoluir nas atividades nem aproveitar o curso. Eu só tinha o inglês básico, mas não era suficiente para fazer o intercâmbio que a agência indicou. A experiência foi frustrante e improdutiva", declarou.

Donini diz que, no dia da assinatura do contrato com a EF, mostrou o livro que utilizava à época para atestar que seu conhecimento de inglês era básico. "Também fiz um teste de nivelamento online no site da EF, mas a agência nunca me mandou o resultado", disse.

Um segundo teste de nível teria sido feito na própria escola, na África do Sul. "O professor fez apenas três perguntas em inglês: 'where are you from?' (de onde você é?), 'how old are you?' (qual a sua idade?) e 'what do you do?' (qual a sua profissão?)", afirmou.

Empresa foi condenada a pagar indenização

Donini disse que, apesar de se sentir "refém da situação", só reclamou com a agência na terceira semana de curso. "Achava que a culpa era minha, que eu era burro mesmo e que tinha dificuldade de aprender. No fundo, tinha esperança de que a situação iria melhorar", declarou. No total, Donini disse ter gasto R$ 30 mil no intercâmbio, entre curso, passagens, hospedagem e alimentação.

Quatro meses depois de voltar ao Brasil, ele entrou com uma ação no Juizado de Pequenas Causas contra a agência EF Viagens e Turismo, pedindo indenização por danos morais e materiais. Ganhou nas duas instâncias.

A agência EF foi condenada a pagar R$ 5.000 por danos morais e mais R$ 6.102,95 por danos materiais. Segundo a EF, o valor corrigido da indenização (de R$ 14.254,59) foi pago a Donini no dia 27 de setembro.

Agência diz que ofereceu troca de sala

A EF Viagens e Turismo disse que recebeu "com surpresa" a ação movida pelo aluno.

Segundo a agência, Donini só procurou os responsáveis da EF na Cidado do Cabo na metade da última semana do curso, informando ter sido colocado em um nível muito acima do seu. "Oferecemos a troca de sala assim que sua insatisfação foi manifestada, porém o aluno não aceitou mudar de turma", disse a empresa. Donini rebate, dizendo que nunca houve uma proposta de mudança de sala.

A agência EF disse que mantém à disposição dos alunos, "antes, durante e após o curso, um canal aberto de comunicação aqui no Brasil, inclusive para facilitar a resolução dos problemas em português e, principalmente, um canal direto no exterior, onde toda a equipe acadêmica se coloca à disposição para apoiar os alunos em sua experiência".

Dicas antes de fechar contrato de intercâmbio

Rosana Marques, 31, gerente de gestão de pessoas da Crowe, empresa de consultoria na área de carreiras, afirma que, antes de fechar qualquer contrato de intercâmbio, é preciso avaliar vários fatores como destino escolhido, tempo de duração do curso, orçamento e até propósito do curso. Veja dicas:

1) Avalie o motivo da viagem

O primeiro passo é definir o motivo do intercâmbio. "Que tipo de intercâmbio você quer: apenas para desenvolver o novo idioma ou mais voltado à sua carreira? Ou seja, com foco na conversação ou em especialização profissional? Alinhar essa expectativa é o primeiro passo", afirmou Rosana.

2) Pesquise o destino preferido

Antes de procurar uma agência de intercâmbio, pesquise duas ou três opções de países para onde você gostaria de ir. "Escolha um país que você sempre teve vontade de conhecer e que seja parecido com seu estilo de vida. Pesquisar e estudar o destino preferido vai ajudá-lo a debater de igual para igual com a agência. Não terceirize essa responsabilidade para um estranho", disse a especialista.

3) Defina a duração do intercâmbio

Escolher quanto tempo levará o intercâmbio é outro passo importante, segundo Rosana. "Isso interfere até no destino escolhido. Intercâmbios de longa duração farão você ficar mais tempo longe do seu país e da sua família e amigos. Portanto, se for um intercâmbio longe, você deve ponderar se o destino escolhido é perto o suficiente para você receber familiares ou passar férias no Brasil."

4) Conheça seu orçamento

Destino, tipo de curso e duração do intercâmbio devem caber dentro do seu orçamento. O ideal, diz Rosana, é fazer com antecedência uma reserva financeira para o intercâmbio, colocando nessa conta gastos com curso, passagens aéreas, estadia, alimentação e situações emergenciais.

5) Procure três opções de agência

Rosana recomenda que o intercambista procure ao menos três opções de agências que tenham boas referências. "É importante para você poder comparar valores, qualidade e atendimento. Não se deixe levar só pelo valor. Tente conversar com outras pessoas que já usaram o serviço da agência", afirmou. Vale pesquisar também em sites que registram reclamações de clientes na internet, para saber se a agência é alvo de queixas.

6) Escolha a escola

Ao escolher a escola onde fará o curso, peça informações sobre o local onde fica a instituição e a moradia, a faixa etária dos alunos que estarão no mesmo curso que você e sobre a outros brasileiros que eventualmente estejam no grupo.

"O ideal é você ficar hospedado perto da escola, que, por sua vez, deve ser bem localizada, em região servida de meios de transporte e serviços", disse Rosana. "Estudar com alunos de faixa etária muito diferente da sua também pode ser um problema, pois o nível de interesse pode ser diferente do seu."

7) Leia atentamente o contrato

Com tudo escolhido, chegou a hora de analisar o contrato da agência de intercâmbio. "Você tem que dominar o contrato, destrinchá-lo e tirar todas as dúvidas. Veja se tudo que a agência prometeu está lá, como seguro-viagem, material didático, moradia e traslado. Não assine nada sem antes entender bem o contrato, item por item", declarou Rosana.

Ela também recomenda levar na bagagem uma cópia do contrato e ter os contatos da agência sempre à mão, para o caso de ocorrer alguma emergência na viagem.

Saiba como se preparar para um intercâmbio

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