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Empresa demite 30%, mas recontrata parte em 6 meses e indica vagas a outros

Juliana Aleixo foi dispensada pela Omie e recontratada pela mesma empresa em outubro - Arquivo pessoal
Juliana Aleixo foi dispensada pela Omie e recontratada pela mesma empresa em outubro Imagem: Arquivo pessoal

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre (RS)

12/11/2020 16h02

A pandemia de coronavírus causou muito desemprego. Na Omie, uma empresa paulista de gestão empresarial em nuvem, não foi diferente: 136 demissões (31% dos 444 funcionários). Mas ela diz que conseguiu colaborar um pouco para amenizar a situação. Após seis meses, o movimento melhorou, e 12 pessoas foram recontratadas por salários melhores ou iguais, segundo a empresa.

Outros 92 ex-funcionários receberam apoio, com divulgação dos currículos em vários lugares e até terapia grátis. O resultado é que esses 92 foram recolocados em outras empresas. A Omie fez as demissões em abril e começou a recontratar em outubro.

"Primeira coisa em que pensei foi nos boletos"

A analista de contração e seleção Juliana Aleixo, 27, foi uma das demitidas.

Foi um momento de incerteza, comecei a me preparar, mas claro que a primeira coisa em que pensei foi nos boletos. Para mim foi muito clara que a demissão não foi questão funcional. O meu papel [de contratar pessoas] não era necessário naquele momento, iria passar a maior parte do tempo ociosa.
Juliana Aleixo

Em um mês, estava empregada em uma startup. "Admito que tive sorte." Ela contou com o apoio da Omie, que compartilhou o perfil dela e de outros colegas em outras empresas.

Mas, em outubro, a ex-chefe a convidou a voltar à Omie. Ela diz que o retorno foi com um salário superior.

Fiquei feliz, é uma sensação estranha a possibilidade de voltar. Muitas vezes a gente acha que o desenvolvimento está muito atrelado em experimentar novos lugares.
Juliana Aleixo

Bruna Freitas foi demitida, ficou três meses desempregada e conseguiu emprego com indicações da Omie - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bruna Freitas foi demitida, ficou três meses desempregada e conseguiu emprego com indicações da Omie
Imagem: Arquivo pessoal

A representante de vendas internas Bruna Freitas, 20, foi outra demitida. Ela ficou três meses desempregada, mas diz que recebeu auxílio da Omie para os processos seletivos —foram mais de dez, inclusive em multinacionais. E em julho, voltou ao mercado de trabalho.

Uma demissão nunca é fácil, foi um momento difícil. Não é para ser coisa boa, mas eu tive amparo da Omie. Quando fui desligada, a gerente de RH entrou em contato comigo, perguntou como eu estava me sentindo, teve um olhar super-humano. Já na segunda-feira, eu estava em uma lista de indicação organizada pela Omie.
Bruna Freitas

Demissão e recolocação em massa

Dos 444 funcionários antes da pandemia, agora a Omie tem 305 contratados - Divulgação - Divulgação
Dos 444 funcionários antes da pandemia, agora a Omie tem 305 contratados
Imagem: Divulgação

A gerente de Recursos Humanos da Omie, Eliana Rozenchan, diz que, antes de demitir, contratos foram cancelados e despesas cortadas. Porém, foi preciso fazer os desligamentos para "reduzir custos". Na noite anterior à demissão em massa, a profissional afirma que nem dormiu.

Foi superdifícil, eu nunca tinha passado por isso. Na verdade, foi difícil para todo mundo. Mas a gente tentou fazer da melhor maneira, de um jeito acolhedor.
Eliana Rozenchan

A gerente disse que a ideia de auxiliar na recolocação dos demitidos surgiu em meio à noite em claro. "Eu fiquei pensando: "o que poderia fazer para ajudar?" E concluí: "vamos organizar demissão em massa e também vamos realocar em massa. A minha missão de vida é gerar emprego, não tirar emprego."

Outras empresas e terapia grátis

Eliana passou a entrar em contato com RHs de outras empresas e compartilhou a relação dos desligados. A partir daí, começaram as ligações de outras companhias pedindo recomendações dos antigos funcionários da Omie.

Também foram oferecidas terapias gratuitas, disponibilizadas por uma ONG, além de workshops para auxiliar na reinserção dos desligados no mercado de trabalho, ofertados por uma consultoria de "outplacement" (recolocação).

Aumento de receita permitiu recontratar

Entre final de junho e começo de agosto, a empresa fez algumas substituições de empregados que estavam com baixa performance ou que pediram para sair. E entre setembro e outubro começaram as recontratações, devido ao aumento da receita.

Dos 444 funcionários antes da pandemia, agora a Omie tem 305 contratados. E está com 20 vagas abertas em diferentes áreas, nas quais está dando preferência para os que deixaram a empresa. A intenção é contratar ainda mais pessoas nos próximos meses, segundo Eliana..

Aumento de clientes

Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, diz que sistema de gerenciamento empresarial em nuvem ganhou espaço na pandemia devido ao home office - Divulgação - Divulgação
Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, diz que sistema de gerenciamento empresarial em nuvem ganhou espaço na pandemia devido ao home office
Imagem: Divulgação

A retomada das contratações se deve em parte pelo aumento no número de clientes de grande porte da Omie, mesmo na pandemia. Com mais pessoas trabalhando remotamente e sem possibilidade de ter acesso a documentos, o software desenvolvido pela empresa —de gerenciamento empresarial em nuvem— acabou servindo com uma luva neste momento.

"Frente ao cenário da pandemia, as empresas perceberam que precisam se digitalizar, e o novo normal pediu um software de gestão 100% na nuvem", afirmou Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie.