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Tenha cuidado ao consultar gerente de banco na hora de investir

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

07/12/2012 06h00Atualizada em 07/12/2012 10h14

Ele sabe mais sobre a sua vida financeira do que sua família ou amigos. Ele o salva dos apertos no final do mês. Ele avisa quando aquela conta que você esqueceu está prestes a vencer. Mas você não deve confiar (cegamente) nele. Estamos falando do gerente de banco, o consultor informal de investimentos do brasileiro.
 
Por mais honesto e bem preparado que esse profissional possa ser, ele enfrenta pressões por resultados, que nem sempre jogam a favor do cliente.

Suas recomendações de investimento são restritas por pelo menos duas condições importantes: são limitadas ao “cardápio” de produtos oferecidos pelo banco em que trabalha; precisam atender à política de metas de sua empresa.

Bancos lucram emprestando dinheiro, mas também vendendo produtos como seguros e aplicações financeiras, pelos quais cobram taxas de serviço. Alguns produtos rendem mais dinheiro do que outros, o que pode explicar por que uns são tão populares nas agências bancárias e outros são quase um segredo.
 
 
Os títulos de capitalização são o melhor exemplo. Nos últimos cinco anos, a receita dos bancos com esse produto quase dobrou, segundo estatísticas da federação do setor (Fenacap). E até outubro, havia mais de R$ 20 bilhões aplicados nesses títulos, sempre criticados por consultores de investimento como o pior investimento possível para o dinheiro do correntista.
 
O produto corrige o dinheiro guardado somente pela inflação e costuma impor um enorme desconto quando o saque é feito em prazo inferiores a um ano. Mas atrai os clientes devido aos prêmios oferecidos.
 
"O primeiro motivo [para a popularidade desse produto] é o maior lucro dos bancos nos títulos de capitalização e o consequente comissionamento [pagamento de comissões] ao gerente. O segundo, geralmente, é a falta de conhecimento sobre o Tesouro Direto e outros produtos financeiros. Mas é lógico que não podemos generalizar. Deve haver gerentes que até mencionam essa aplicação", diz o consultor Leandro Martins, autor do livro “Aprenda a Investir”.
 
A desvantagem das aplicações no Tesouro Direto, do ponto de vista dos bancos, é a taxa cobrada pelo serviço, que é bastante inferior na comparação com outros produtos. Fundos de investimento, por exemplo, têm taxas de serviço (as taxas de administração) acima de 1,5% sobre o ganho.
 
No caso do Tesouro Direto, essas taxas mal ultrapassam 0,5% no caso das opções mais caras. A desvantagem: o correntista precisa escolher os títulos em que aplicar, um serviço prestado pelos bancos no caso dos fundos (que são, na verdade, “carteiras” formadas por vários títulos públicos).
 
”Os bancos têm metas cobradas mensal ou trimestralmente de seus funcionários. E é pelo cumprimento dessas metas que o gerente vai ganhar prêmios ou receber promoções. Para mim, é um caso de conflito de interesses que não tem solução”, diz André Bona, assessor de investimentos da consultoria Valor.

Sindicatos pressionam bancos contra "metas abusivas"

O setor bancário tem se movimentado para lidar com duas pontas dessa equação de interesses que envolvem os gerentes. Os sindicatos pressionam as empresas contra a cobrança de “metas abusivas” e o assédio pelo descumprimento dos resultados.
 
No ano passado, foi incluído um artigo no acordo coletivo da categoria vetando a exposição do desempenho individual dos funcionários. E a Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) quer negociar a definição dessas metas com a participação dos trabalhadores.
 
A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) tem fornecido treinamento e certificação para milhares de funcionários do setor financeiro. Nos últimos dez anos, mais de 238,7 mil profissionais receberam uma certificação de especialista em investimento.
 
Desse total, mais de 200 mil foram trabalhadores do varejo bancário --os gerentes.  Eles são cobrados não somente quanto ao conhecimento dos produtos oferecidos aos correntistas, mas também quanto à ética do ofício: as aplicações oferecidas realmente precisam satisfazer “os desejos do cliente”.
 
O investidor, além de ouvir os conselhos do gerente com alguma precaução, tem de fazer a lição de casa. “As pessoas precisam aprender a comparar. As agências bancárias podem ser comparadas a uma loja de roupas. Em nenhuma boutique, o vendedor vai dizer que na loja ao lado tem uma blusa que vai ficar melhor em você”, afirma o consultor André Bona.
 
Nesse caso, a tecnologia pode ajudar o poupador. Começam a se popularizar os chamados “shopping centers financeiros”, que oferecem, por meio da Internet, vários produtos de bancos diversos. O investidor pode abrir uma conta única e aplicar em um fundo e um CDB de um banco diferente cada.