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O que fazer com as ações de Eike Batista, que agora valem centavos?

Sophia Camargo

Do UOL, em São Paulo

25/07/2013 06h00

Quem comprou ações da OGX (OGXP3) do empresário Eike Batista tem visto seu patrimônio evaporar. Desde a cotação máxima da ação, em 15/10/2010, quando o papel atingiu os R$ 23,27 até o fechamento dessa quarta-feira (24/7), o papel perdeu 98% e valia R$ 0,54.

A derrocada está sendo investigada inclusive pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para verificação dos balanços trimestrais das empresas do grupo para verificar se houve irregularidades.

Quem tem ações da OGX deve vender ou esperar?

Diante disso, o que o pequeno investidor que tem ações da empresa deve fazer? Vender? Esperar?

Para a economista da Lerosa Investimentos Alexandra Almawi, quem tem ações da empresa já perdeu o ponto de saída faz tempo. "Todo mundo que tem OGX já perdeu pelo menos 80%, 90% do patrimônio investido.

Esses investidores que se deparam com um papel na casa dos centavos já tinham que ter saído quando o papel pulou de R$ 23 para R$ 8 ou de R$ 8 para R$ 5. Se ficou até agora e perdeu 90% do capital, já perdeu praticamente tudo. Então é melhor ficar até o fim para ver se a empresa ainda dá um suspiro."

A economista alerta que o risco de uma empresa falir é factível a qualquer investidor de Bolsa e não se pode culpar o empresário por isso.

Ela explica que se houve algum dolo, alguma ruptura nas bases do mercado, isso será passível de punição pela CVM, mas a quebra por si só não enseja indenização ao investidor, pois quem investe em ações deve estar preparado para o risco do empreendedorismo: ganhar muito ou perder muito também. "Quem investe em ações deve estar preparado para perder 100% do capital investido", diz.

Para Pedro Galdi, analista de investimentos da SLW Corretora, quem está com a ação tem que repensar se vende e tem um prejuízo enorme ou se já considera como perdido e parte para outra.

Galdi acredita que o perfil de quem investiu nessa ação é especulativo, já que quem deseja montar uma carteira para investir em papéis visando a aposentadoria, na opinião do analista, jamais poderia ter investido em uma empresa que tem geração de caixa e operacional negativos. "É um perfil claramente especulativo".

"O investidor brasileiro não está acostumado a ter ações de empresas que ainda são projetos. São as empresas de Power Point, que precisam de capital intensivo e desenvolvimento rápido para poder ter uma geração de caixa que dê conta dos altos endividamentos e custos. Criou-se uma euforia em torno desses papéis que tinham um projeto interessante, mas que precisavam de longuíssimo prazo e parceiros para funcionar", diz.

E quem não tem ações da empresa? Vale arriscar e comprar?

Opinião diversa tem o analista da Empiricus, Felipe Miranda. Para ele, a recomendação para as ações da OGX é a mesma, seja para quem tem ações ou não: não comprar.

"Uma decisão de comprar ou manter uma ação é a mesma decisão porque a todo momento você pode se desfazer dela. Não importa se você perdeu ou se você está zerado. Não importa o histórico, pois trata-se de uma decisão do que fazer daqui para a frente. Se você está com um carro e ele está ruim, venda, não importa se ele foi bom para você no passado. A mesma coisa serve para ações: não importa se a ação foi legal ou chata com você no passado. O que importa é o futuro. E se você não vê futuro na ação, para que manter?"

Para quem não tem ações da OGX, os especialistas são unânimes em recomendar distância do investimento. "Quem não está com o papel não aconselho a entrar", diz Pedro Galdi, da SLW Corretora.

Para Alexandra Almawi, da Lerosa Investimentos, a probabilidade de a ação ir de R$ 0,50 para R$ 1 existe, mas a probabilidade de ir de R$ 0,50 para zero é bem maior. "Só vale mesmo para o investidor que gosta de risco e definitivamente não precisa do dinheiro."

Pequenos investidores podem se proteger para diminuir os prejuízos?

Acionistas minoritários das empresas de Eike Batista estão se reunindo para tentar o bloqueio de bens do empresário.

Os especialistas consultados acham que seria mais produtivo se os pequenos investidores tentassem obter uma cadeira no Conselho de Administração da empresa. "Se obtiver uma participação mais representativa dentro da empresa terá uma influência maior nas decisões", diz Pedro Galdi.

"Isso sim, se der certo, pode ser que gere algum fruto positivo aos minoritários", acredita Alexandra Almawi. Já quanto ao bloqueio de bens do empresário, ela não vê vantagens. "É pouquíssimo provável que estes bens chegassem aos minoritários... se ocorrer multa, esta seria paga para a CVM e não para eles."

Felipe Miranda, da Empiricus, é categórico. "O mercado de ações não esta aí para oferecer segurança, mas para oferecer oportunidades. Ele deve ser aperfeiçoado no sentido de conseguir educação financeira e exigir informações, mas que não haja ilusão de ver eliminados todos riscos", diz.

"As pessoas têm que entender que perder faz parte. Se a pessoa quer investir em ações, ela deve entender um pouco da empresa que está adquirindo e assumir os riscos, que são devidamente remunerados. Comece com pouco dinheiro, com o que você pode perder. E desconfie de quem diz que nunca perdeu dinheiro com ações."