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Em vez de brinquedo, consultor propõe abrir poupança para filhos no Natal

Sophia Camargo

Do UOL, em São Paulo

21/12/2013 06h00

Você já pensou em abrir uma poupança, dar ações ou fazer uma previdência privada para seu filho como presente de Natal? Acha que é algo positivo para o futuro das crianças ou algo contrário ao espírito da festa?

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O educador financeiro Mauro Calil, da Academia do Dinheiro, faz isso não só no Natal mas em todas as datas comemorativas para seus dois filhos Marco, de 6 anos, e Isabela, de 3 anos. "Eu não dou presente, eu dou futuro", ele gosta de dizer.

Calil conta que tomou essa decisão no primeiro aniversário do filho, quando descobriu que iria gastar uma pequena fortuna num bufê. Abandonou a ideia da festa no bufê, fez uma festa caseira, e colocou o dinheiro economizado em ações para a poupança do filho.

"A partir daí eu não compro presente de Natal, nem de aniversário, nem de Dia das Crianças, eu compro ações para eles. Pelas minhas contas, aos 15 anos ambos terão próximo de R$ 1 milhão com esse dinheiro economizado. O presente eles ganham dos outros; da família, dos padrinhos. Eu dou futuro."

Mauro Calil escolheu as ações porque acha que, neste caso, o risco é zero. "Estou trocando o dinheiro de um presente para comprar ações. Que risco eles têm?" O educador investe em ações que rendam bons dividendos e reinveste os valores para aumentar o patrimônio.

Poupança rendeu 3 carros para menino

Celina Ramalho, professora  de Economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), também acha positiva a prática, mas não é tão radical. Ela dá um presente, mas também faz, além de depósitos mensais em um fundo de ações dedicado a crianças e adolescentes, depósitos especiais nas datas comemorativas para a filha de 16 anos.

Como consultora, ela conta que a prática é positiva e vê frutos em clientes que também adotam a mesma postura. "Tenho um cliente que faz aportes mensais para o filho desde que ele nasceu pensando que aos 18 anos ele iria poder comprar um carro. Mas o que acumulou permite ao menino comprar três carros ou dar entrada em um apartamento."

Para a professora, ensinar a criança a ter substituído o presente por um valor que é depositado é educá-la financeiramente e mostrar que não é porque há a disponibilidade do dinheiro que ela precisa gastar. "Isso pode ser feito com um brinquedo, com uma roupa que não precisa. A economia é guardada para a poupança e a criança, com o tempo, vai achar interessante."

Brinquedos educativos podem ser alternativa

Alexandre Damiani, educador financeiro da Dsop, acha que o Natal não é a época ideal para substituir um presente por educação financeira, já que foi criada a expectativa do brinquedo.

Mas pode ser um bom momento para inserir também um brinquedo educativo como um cofrinho, ou um livro de educação financeira, e assim preparar o presente do próximo Natal.

Ele afirma que, se uma criança quer um presente de alto custo, é uma boa atitude o pai ser claro e dizer que não tem esse dinheiro agora, mas que juntos, economizando, eles conseguirão comprar o presente para o próximo Natal.

"O que não está certo é se endividar no cartão para comprar um presente que não cabe no orçamento. Isso é um mau exemplo para os filhos."

Cuidado para não parecer indiferente

Para o autor best-seller de livros de finanças pessoais Gustavo Cerbasi, presentes em dinheiro ou na forma de investimentos (como plano de previdência) têm valor somente dentro de certos contextos.

"Em primeiro lugar, um presente precisa ter valor para quem o recebe. Se já existe uma cultura de educação financeira na família e a criança que é presenteada tem planos concretos para o uso do dinheiro, será um bom presente. Caso contrário, não passará de acomodação do adulto que não quer se dar ao trabalho de escolher algo que demonstre seu afeto pelo presenteado."

Cerbasi afirma que o aspecto mais importante do presente é o que ele representa para quem dá e para quem recebe. "Nesse sentido, dar dinheiro soa como não quis ter trabalho para pensar em você", diz Cerbasi.

Dar dinheiro é perder o espírito do Natal

O professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite é radicalmente contra a ideia de presentes financeiros no Natal. Para ele, uma coisa é a preocupação que os pais têm pelo futuro das crianças e outra é presente de aniversário, de Natal, que são datas comemorativas, dentro de um espírito de festa, de congratulação, sem estar vinculado a futuro, dinheiro ou segurança.

"Natal é momento de festejar. Não se pode perder assim o espírito das coisas, senão acaba materializando demais esse contato familiar e essas comemorações perdem completamente o sentido."