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Onde investir: juros em alta beneficiam a renda fixa e punem a poupança

Sophia Camargo

Do UOL, em São Paulo

29/04/2015 19h53

A alta da taxa básica de juros da economia (Selic), de 12,75% para 13,25% ao ano, beneficia os investimentos em renda fixa, como Tesouro Direto, fundos de renda fixa, CDBs, LCIs e LCAs, e tira a atratividade da caderneta de poupança, cujos rendimentos são fixos em 6,17% ao ano mais variação da TR. Além disso, a poupança tem perdido também para a inflação.

Quem tem dinheiro para aplicar vai ganhar mais juros investindo nas modalidades de renda fixa que pagam uma porcentagem do CDI, taxa fixada diariamente pelos bancos e que acompanha a evolução da Selic.

Poupança perde competitividade

Com o aumento dos juros, a poupança perde competitividade diante dos fundos de renda fixa, até mesmo daqueles que têm altas taxas de administração, acima de 1%.

Além disso, a inflação também corrói os rendimentos da aplicação.

O economista Samy Dana, professor da FGV-SP, desaconselha o investimento até mesmo para pequenas quantias, abaixo de R$ 5.000. "Quem investe menos, perde menos, mas perde do mesmo jeito, diante de outras opções mais vantajosas como o Tesouro Direto", diz.

Títulos do Tesouro x fundos

Com cenário de juros em elevação, Dana aconselha a investir em títulos do Tesouro Direto atrelados à taxa Selic, que acompanham a alta dos juros. No Tesouro Direto, o investidor não precisa pagar taxa de administração e o investimento é feito sem intermediários.

"Para que pagar taxas de administração aos bancos, se eles vão comprar os mesmos papéis que o investidor pode comprar no Tesouro Direto?", diz.

"Recomendo o investimento no Tesouro Direto em papéis atrelados à taxa Selic (Tesouro Selic, a LFT) para prazos mais curtos (menos de dez anos). Para investimentos com prazo superior a dez anos, recomendo o papel ligado à inflação (Tesouro IPCA+, a NTN-B)."

Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, também recomenda investir no Tesouro Direto, mas sugere a compra também de um porcentual de títulos prefixados (Tesouro Prefixado, a LTN), com prazo de vencimento em 2018. 

"Sugiro um portfólio composto da seguinte maneira: 20% em títulos indexados à inflação; 20% em títulos prefixados e os restantes 60% em papéis atrelados à Selic."

Em relação aos fundos de investimento, ambos os especialistas concordam que o investidor deve procurar aqueles que ofereçam taxas de administração bem baixas. "Abaixo de 0,7% ao ano ou até menos", diz Dana.

Títulos indexados à inflação e títulos prefixados

Quem quer investir em títulos do Tesouro indexados à inflação ou títulos prefixados deve escolher com cuidado o prazo do investimento.

Os papéis indexados à inflação são aconselhados para investimentos com prazo mais longo, acima de dez anos.

Já os títulos prefixados embutem um risco maior, mesmo no curto prazo. Para Samy Dana, se a inflação disparar, o investimento perde atratividade.

Esses papéis oscilam de preço tanto quanto ações na Bolsa de Valores. Para quem fica com os títulos até o vencimento, eles pagam a rentabilidade prometida. Mas quem vende antes corre o risco de perder dinheiro, por conta da oscilação diária das taxas.

LCAs, LCIs e CDB

Apesar de atraentes pela isenção de Imposto de Renda, as LCAs e LCIs estão se tornando opções cada vez mais raras de investimento. 

"Está difícil encontrar ofertas desses papéis", afirma Pedro Paulo Silveira. No caso das LCIs, que são títulos ligados ao mercado imobiliário, a dificuldade acontece por conta da própria retração do segmento de imóveis. "O mercado imobiliário não anda nenhuma maravilha", diz.

Caso consiga encontrar opções de investimento, papéis que paguem acima de 86% do CDI já são uma boa oportunidade, afirma Samy Dana. 

Silveira diz que papéis que paguem acima de 90% do CDI em seis meses também são boa opção. "Esse valor equivale a um CDB que paga 112,5% do CDI no mesmo período", diz o economista.

Recomenda-se também que o investidor tenha cautela com o investimento, já que o governo sinalizou anteriormente que pretende tirar a isenção do IR das LCAs e LCIs.

Para o investimento em CDB, Silveira sugere aceitar aplicações que paguem entre 105% e 115% do CDI, desde que o valor esteja limitado à garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que, atualmente, está em R$ 250 mil.

Samy Dana lembra que há bancos médios que pagam até 120%. "É uma boa aplicação, desde que o investidor mantenha-se dentro do limite do FGC."

Bolsa e dólar

Num cenário de juros elevados, a Bolsa costuma não ter um bom desempenho, já que os investidores não precisam correr tantos riscos para obter boa rentabilidade.

"A Bolsa é muito arriscada, não compensa. Se ainda assim a pessoa quiser investir, deve optar por uma carteira muito diversificada", diz Dana.

Silveira vê com mais otimismo o cenário para a Bolsa. Ele acredita que os Estados Unidos ainda irão manter a taxa de juros baixa por algum tempo, o que será favorável para o desempenho das bolsas de valores no mundo todo, incluindo o Brasil.

"O fundamental é ter uma estratégia ativa; escolher ações com mais potencial de ganho do que outras. Os setores que indico no momento são o mercado financeiro (grandes bancos), e empresas exportadoras, como as de papel e celulose. Não aconselho área de siderurgia ou empresas voltadas ao mercado interno, como o setor elétrico."

O investimento em dólar não é aconselhado pelos especialistas, a não ser que a pessoa pretenda fazer gastos na moeda estrangeira.

"Se a pessoa está endividada em dólar, melhor trocar a dívida por real. Se terá gastos na moeda estrangeira, o ideal é ir comprando aos poucos, para suprir as necessidades", diz Silveira.