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Brasil rebaixado: o que isso significa para o seu bolso e investimentos

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Imagem: Arte/UOL

Sophia Camargo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/09/2015 16h29Atualizada em 10/09/2015 18h38

O que vai afetar na vida das pessoas comuns a retirada do selo de bom pagador do Brasil pela Standard & Poor's? O que significa essa perda do grau de investimento?

Se fosse uma pessoa, é como se o Brasil fosse considerado agora um cliente com um risco maior de dar calote. A consequência: terá que pagar uma taxa de juros maior para os credores se quiser continuar pegando dinheiro emprestado.

Como reflexo, as empresas brasileiras também devem sofrer mais para captar dinheiro.

Possíveis efeitos nos preços, no crédito e nos empregos

Essa conta mais alta das empresas deve ser repassada para o consumidor, que irá pagar mais pelos produtos ou por empréstimos, segundo o professor de Finanças Alexandre Cabral. Mas há luz no fim do tunel. "Mas o Brasil não acabou, há oportunidades de ganho para quem investir na aplicação certa."

Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, concorda que não é uma "catástrofe", mas diz que as pessoas podem sentir uma piora na restrição ao crédito, aumento da inflação e, possivelmente, alta do desemprego.

"Será como uma dor de dente que não passa tão fácil e ainda tende a aumentar", diz.

Na opinião de Fabio Gallo, professor de Finanças da FGV-SP e PUC-SP, vai ficar mais difícil para a economia se recuperar, e isso terá reflexos no desemprego e na renda do trabalhador. “Não acabou o mundo, vivemos assim [sem grau de investimento] até 2008. Mas isso não quer dizer que não é ruim”, diz.

Juros e dólar devem subir; prefira investimentos pós-fixados

Os especialistas acreditam que o efeito imediato do rebaixamento será uma alta das taxas de juros e também do dólar. Calil afirma que a moeda norte-americana pode atingir R$ 4,20.

O dólar alto deve puxar para cima a inflação, o que irá diminuir o poder de compra das pessoas.

Para quem tem dinheiro para investir, a melhor aplicação serão os investimentos pós-fixados (que acompanham uma determinada taxa, como a Selic ou o CDI).

Todos os demais investimentos merecem cautela, tais como ações, títulos prefixados e dólar.

Veja as recomendações para cada investimento

Poupança
poupança 2 - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

  • Deve ser evitada, pois paga rendimento fixo de 0,5% ao mês mais TR. Por isso, não aproveita a alta dos juros
  • Com tendência de alta da inflação, investidor deve perder dinheiro
  • Fabio Gallo recomenda manter apenas o dinheiro que vai utilizar em curtíssimo prazo, como dois meses
  • Mauro Calil não recomenda manter nem por esse período. Segundo ele, se investir no Tesouro Selic por um período de até seis meses, o investidor obterá uma rentabilidade de 77,5% do CDI (já descontados os 22,5% do IR), ante 50% do CDI na poupança

Tesouro Direto
simbolo do tesouro nacional - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Imagem: Alan Marques/Folhapress

  • Tesouro Selic, que acompanha a alta dos juros, é a aplicação mais recomendada. Paga 100% do CDI. Incide tabela regressiva do IR sobre aplicação (IR de 22,5% até seis meses; 15% acima de dois anos, com alíquotas intermediárias entre os períodos)
  • Não sofre com a marcação a mercado, que altera o preço do papel diariamente para baixo ou para cima
  • Como sempre tem uma rentabilidade positiva, é indicado para o dinheiro de mais curto prazo
  • Tesouro IPCA+, que são títulos indexados à inflação, são opção para se proteger da inflação e garantir também um juro prefixado
  • Tesouro Prefixado, cuja rentabilidade já é conhecida do investidor no momento da compra, é opção para diversificar
  • A recomendação, no caso do Tesouro IPCA e Prefixado, é prestar atenção ao prazo de vencimento do papel. Quem tirar o dinheiro antes pode perder rendimento por conta da marcação a mercado
  • Como a tendência no momento é de alta da taxa de juros, os títulos prefixados podem apresentar perdas se forem pagos antes do vencimento

LCI e LCA
aluguel imóvel casa poupança - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

  • São ótimas opções na renda fixa, por conta da isenção do IR
  • Ponto negativo é que a aplicação exige a manutenção do dinheiro por um período de carência; três meses costuma ser o mínimo
  • Está difícil encontrar papéis para aplicar. Retração do mercado imobiliário e possibilidade de tributação pelo governo são os motivos
  • Opte pelos papéis que paguem acima de 90% do CDI

CDB
Juros - Shutterstock - Shutterstock
Imagem: Shutterstock

  • Melhor optar pelos pós-fixados, para acompanhar a alta dos juros
  • Segundo cálculos de Mauro Calil, para ter um rendimento equivalente a 100% do CDI, a aplicação tem que render: 
  • Em até 180 dias: 129% do CDI
  • De 181 a 360 dias: 125% do CDI
  • De 361 a 720 dias: 121,2% do CDI
  • Acima de 721 dias: 117,5% do CDI
  • Bancos maiores costumam pagar entre 85% e 90% do CDI
  • Para obter mais rentabilidade, procure bancos menores. Mas, para aceitar esse risco, é aconselhável limitar o valor do investimento a R$ 250 mil, atual garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC)

Bolsa
Bolsa de Valores ações - Tony Gentile/Reuters - Tony Gentile/Reuters
Imagem: Tony Gentile/Reuters

  • A perda do grau de investimento é notícia negativa para o mercado, que deve ter quedas ainda maiores
  • Para quem não conhece o mercado de renda variável, não é hora de entrar
  • Para Fabio Gallo, só é indicada para o investidor que tem muito dinheiro parado para o futuro e quer correr risco, com muito conhecimento de mercado e uma carteira bem definida de investimentos
  • Para o professor Alexandre Cabral, há uma chance de os estrangeiros comprarem ações brasileiras, pois os papéis deverão ficar muito baratos em dólar. "Olhe com carinho", diz

Dólar
Notas de dólar  - Shutterstock - Shutterstock
Imagem: Shutterstock

  • O investidor que quiser se beneficiar da alta do dólar pode optar pelo investimento em fundos cambiais
  • Lembre-se de que esses fundos têm taxas de administração, algumas vezes taxa de performance e também têm IR
  • Quem tem gastos já programados em dólar, como estudos ou viagens, também pode ir comprando a moeda aos poucos, para fazer um preço médio e não ficar preso à cotação de um único dia
  • Mauro Calil aconselha a quem tem dinheiro a comprar tudo de uma vez, pois, para ele, a tendência do preço da moeda é subir
  • Outra opção de investimento na moeda são fundos nacionais que também apliquem na moeda estrangeira
  • Remessas para o exterior permitem aplicar diretamente lá fora