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Tesouro IPCA e fundos multimercados são opções para investir após Copom

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Imagem: Getty Images

Téo Takar

do UOL, em São Paulo

20/06/2018 18h01

Embora o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tenha mantido a taxa Selic em 6,5% ao ano nesta quarta-feira (20), muita coisa mudou para o investidor desde a decisão anterior sobre os juros básicos, em 16 de maio.

Em pouco mais de um mês, o dólar comercial saiu da casa de R$ 3,60 e ameaçou romper os R$ 4,00 no dia 7 de junho, recuando nesta semana. Na Bolsa de Valores, o susto foi ainda maior, com o Ibovespa mergulhando dos 86 mil para a casa dos 70 mil pontos, uma perda de cerca de 18%.

Nem a renda fixa escapou. Investimentos prefixados também se desvalorizaram por causa do fenômeno da marcação a mercado. Sempre que o mercado financeiro fica nervoso, as taxas de juros dos títulos sobem, fazendo com que seu valor diminua. As aplicações em títulos do tipo Tesouro IPCA com vencimento em 2035, por exemplo, encolheram quase 8% em 30 dias.

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Economia fraca, greve dos caminhoneiros e pesquisas eleitorais

Uma combinação de eventos domésticos nos últimos dias de maio provocou uma mudança drástica nas expectativas do mercado financeiro sobre a economia brasileira. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,4% no primeiro trimestre, conforme divulgado no final do mês.

“O número fraco do PIB levou a uma revisão para baixo das expectativas de expansão da economia. No começo do ano, estimávamos um crescimento de 3% em 2018. Agora, esperamos avanço de 1,7%” afirma Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco.

A greve dos caminhoneiros afetou o abastecimento de combustíveis e alimentos em todo o país. “Certamente prejudicou a recuperação da economia. Os dados oficiais ainda não saíram, mas o impacto da greve é evidente”, diz Roberto Indech, analista da Rico Investimentos.

“O governo cedeu demais às pressões dos caminhoneiros. As medidas acertadas com eles poderão prejudicar o ajuste fiscal”, declarou Indech, referindo-se ao corte de impostos para viabilizar a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel.

Outro impacto da greve dos caminhoneiros será sobre a inflação. A média das projeções para o IPCA deste ano, que estava em 3,5% antes da greve, subiu para 3,88% nesta semana, segundo o Boletim Focus. “Haverá um impacto momentâneo da greve, mas a inflação de 2018 ainda deve ficar abaixo do centro da meta do Banco Central, que é de 4,5%”, afirma Iglesias.

Para completar o quadro de dúvidas, pesquisas eleitorais apontaram o avanço de Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) nas intenções de voto para presidente da República. “A incerteza sobre o cenário eleitoral ajudou a acabar com o clima positivo que existia nos mercados até algumas semanas atrás”, afirma Iglesias.

Alta de juros nos EUA e guerra comercial entre EUA e China

Não foram apenas os fatores domésticos que acabaram com o bom humor do mercado. Na semana passada, o Fed  (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) decidiu subir a taxa básica de juros, tornando o dólar e os investimentos nos Estados Unidos mais atraentes para os grandes investidores globais.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China também acrescentou um grau de incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia mundial e seus impactos sobre o Brasil. “O aumento dos juros pelo Fed reduz a atratividade de mercados emergentes, como o Brasil”, diz Iglesias.

Oportunidade em títulos atrelados à inflação

O estresse observado no mercado financeiro nas últimas semanas fez as taxas de juros futuras subirem de forma expressiva. Títulos públicos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA, que paga uma taxa real de juros, são uma boa oportunidade para os investidores neste momento.

“O Tesouro IPCA com vencimento em 2035 está pagando quase 6% de juros reais. É uma excelente taxa, especialmente para quem está planejando a aposentadoria”, diz Martin Iglesias, do Itaú.

Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro, também recomenda os papéis atrelados ao IPCA. “As taxas subiram bastante. Quem precisa renovar alguma aplicação agora deve optar por esses papéis.”

Porém, Calil lembra que o investidor deve se programar para manter o investimento até o vencimento do título, evitando perdas por causa das oscilações das taxas de juros.

Quem já possui títulos públicos prefixados ou atrelados ao IPCA não deve se assustar com a desvalorização recente do investimento.

“Muita gente vai olhar o saldo e achar que está perdendo dinheiro. Daqui até as eleições teremos muita volatilidade. É importante que o investidor fique com o título até o vencimento para receber a taxa de juros contratada e não correr o risco de ter prejuízo com um saque antes da hora”, diz Calil.

Fundo multimercado possui flexibilidade

Investidores que possuem um volume maior de recursos devem diversificar suas aplicações, de forma a diluir riscos e evitar grandes oscilações do mercado. “Diversificar é muito importante em um momento como esse, de muita incerteza e volatilidade”, diz Martin Iglesias, do Itaú.

Para quem tem um perfil moderado, ou seja, suporta alguns períodos de saldo negativo na conta em troca de retornos maiores nos momentos de tranquilidade do mercado, os especialistas sugerem a aposta em fundos multimercados, que podem aplicar em diversos ativos (ações, moedas, taxas de juros) ao mesmo tempo.

A principal vantagem dos multimercados é a flexibilidade. O gestor pode migrar os investimentos de um ativo para outro, conforme o momento, oferecendo resultados melhores. “É uma opção interessante para quem vai precisar do dinheiro no médio prazo, daqui a um ou dois anos”, diz Iglesias.

Ações estão baratas, mas ainda podem cair mais

O investidor com maior disposição ao risco deve aproveitar a recente queda das ações na Bolsa de Valores para comprar mais papéis com objetivo de obter ganhos maiores no longo prazo (acima de três anos).

“Mas compre aos poucos porque os preços ainda podem cair mais. Não há como saber qual será o melhor momento de entrar. A tendência é de muita volatilidade até as eleições”, diz Mauro Calil, do Banco Ourinvest.

Roberto Indech, da Rico Investimentos, também vê oportunidade nas ações e recomenda compras em doses homeopáticas. “Se você tem R$ 10 mil sobrando, por exemplo, coloque uns R$ 2.000 em ações ou fundo de ações. Compre aos poucos porque ainda não sabemos onde está o fundo do poço. É uma forma interessante de acumular patrimônio.”