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Ganhar dinheiro dormindo? Conheça mitos e verdades sobre a renda passiva

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

25/06/2018 04h00

Com as possibilidades da internet, viver de renda não se limita mais a quem já tem dinheiro, negócios ou imóveis para alugar. É algo que pode ser conquistado com trabalho e esforço no início, mas depois é capaz de continuar rendendo com bem menos atividades. É o que se chama de renda passiva, mas será que é possível até ganhar parte do dinheiro dormindo?

O desenvolvimento da economia digital abriu possibilidades que rendem fluxo de dinheiro, dispensam o trabalho contínuo e não exigem pequenas fortunas para começar, diferentemente da renda passiva tradicional.

Aplicativos, e-books, cursos online, vídeos e blogs estão entre os produtos que podem ser criados, publicados e divulgados pelo mundo digital e que geram uma renda adicional a seus donos ao longo de sua vida útil, seja pela venda direta, seja pela exploração de anúncios e parcerias.

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Ganha R$ 12.500 por mês de renda passiva

"São coisas que você cria para que outras pessoas paguem por elas depois", diz o publicitário Felipe Pacheco, um dos idealizadores do Passaporte Freela, site que oferece cursos sobre como viver do trabalho flexível. "É um produto ou uma ideia que dá muito trabalho no começo; a renda passiva vem depois. Com o projeto pronto, você passa a ter que dedicar bem menos horas naquilo para ganhar dinheiro."

Pacheco, hoje com 27 anos, saiu do Brasil há quatro para viver e trabalhar fora. Atualmente mora em Berlim (Alemanha), trabalha como freelancer prestando consultoria em marketing e conta com a renda que continua caindo em sua conta de vários projetos pessoais que foi construindo ao logo desses anos, feitos com a sócia e ex-namorada Debora Corrano.

As suas fontes de renda passiva incluem a venda de cursos do Passaporte Freela, a renda com parceiros do blog de viagens Pequenos Monstros e os downloads de dois e-books que fizeram sobre suas experiências viajando ("Agarre Seu Sonho" e "Como Viajar Com Animais"). Ao longo de dois anos, a dupla calcula que os projetos tenham rendido em torno de R$ 300 mil --é uma média de R$ 12.500 por mês, ou R$ 6.250 para cada um.

Dinheiro sem trabalhar? Não é bem assim

O especialista em investimentos Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, diz que a ideia de ganhar dinheiro sem esforço é, no geral, uma grande ilusão. "Por conceito, renda passiva são juros, está no mercado financeiro", afirma.

São esses rendimentos, segundo ele, os únicos que realmente permitem ganhar dinheiro sem fazer nada. "Mas exigem bastante dinheiro para que gerem uma renda realmente relevante, porque o juro é um pedaço muito pequeno deles. Todo o resto é trabalho, exige algum esforço em alguma medida."

Pacheco, do Passaporte Freela, também gosta de rebater a ideia de que é um dinheiro fácil. "Muito trabalho deve ser feito antes", diz. "Depois, você até pode ficar sem fazer nada, mas tem que aguentar as consequências, porque seu produto vai perder espaço e você acaba perdendo dinheiro."

Trabalhos de divulgação, redes sociais ativas, posts frequentes nos blogs e disparos de emails são algumas das tarefas do dia a dia que ele enumera para cultivar a audiência, manter o fluxo de visitas aos produtos criados e as vendas.

O maior ganho, diz o publicitário, é em tempo. "Quando estamos construindo um projeto, trabalhamos 12 horas por dia, e sem ganhar um real", diz. "Depois, você precisa de um número de horas muito menor sobre aquilo, e o grande truque é que, com essas horas que sobram, você pode trabalhar em novos projetos que te darão mais fontes de dinheiro depois."

Sem custos? Também não

Outra ideia que Pacheco combate é a de que não é preciso gastar nada em um projeto digital que renda dinheiro. Só para manter seus sites e a comunicação com seus seguidores, por exemplo, o publicitário gasta R$ 2.300 por mês em servidores, hospedagem e ferramentas de e-mails.

"Existe muita plataforma gratuita para essas coisas, que funcionam bem para começar, mas geralmente elas têm limite de tráfego e, conforme o volume cresce, é necessário ampliar", diz.

"É comum dizer que renda passiva é o que se ganha sem fazer nada, mas isso não existe", afirma Viriato, do Insper. "Você não vê um cantor que compôs uma música, não fez mais nada e fica só recebendo direitos autorais. Tem que se promover, divulgar-se; há um esforço contínuo."

Veja algumas ideias de como explorar o meio digital para ganhar dinheiro:

E-books

Os livros eletrônicos têm a vantagem de não precisarem de editora, gráfica ou distribuição em livrarias, o que acaba com os principais custos e facilita as publicações independentes. Os dois livros feitos por Pacheco e sua parceira Debora, dando dicas de viagens e de planejamento pessoal, são vendidos pelo blog pessoal e enviados por e-mail ao comprador na hora. Custam entre 10 e 20 euros. Foram escritos em menos de um mês. Em dois anos e meio desde a primeira publicação, venderam próximo de mil cópias e renderam 10.800 euros (R$ 47.590).

Blogs

Um blog com conteúdo relevante dentro de seu nicho e uma boa audiência consegue vender espaços para anúncios e banners e ganhar dinheiro com isso. Outra forma eficiente de retorno são os links de afiliados ou associados: são programas oferecidos por sites e serviços que remuneram o parceiro por cada compra feita por visitantes que chegaram ali por meio de links em suas publicações. Diversas páginas, cada uma com suas condições, oferecem esses serviços.

Cursos e palestras

Ter cursos e palestras formatados dentro de sua área de especialidade já é uma forma de garantir renda recorrente em cima de um trabalho feito previamente --uma vez que o conteúdo da apresentação ou materiais de apoio estejam prontos, basta vender o serviço para os potenciais clientes. No mundo da internet, ganha-se uma facilidade ainda maior: as apresentações podem ser feitas em vídeos e documentos digitais. Uma vez produzidos, é só vender o acesso aos arquivos, o que pode ser feito automaticamente por meio de links na internet e ainda dispensa o trabalho presencial de cada aula ou palestra.

Aplicativos

Os aplicativos móveis são, hoje, uma mina de ouro: segundo o site especializado App Annie, entre 2015 e 2017, o número de downloads de apps no mundo cresceu 60% e o valor gasto pelos consumidores nessas plataformas dobrou, chegando a US$ 86 bilhões (R$ 328 bilhões). Cobrar pelo download do aplicativo é uma forma de ganhar dinheiro com ele. Venda de espaço para anúncios e compra de pequenos serviços dentro do app, como é comum em jogos, são outras. É possível também cobrar uma pequena taxa sobre o serviço oferecido e, ainda, se der a sorte de criar o próximo grande sucesso, ter sua solução comprada por alguma empresa ou fundo de investimento.

Se não sabe responder a estas 5 questões, será muito difícil ficar rico

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