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Euforia do mercado pode diminuir com vitória menos folgada de Bolsonaro

Téo Takar

Do UOL, em São Paulo

29/10/2018 11h45Atualizada em 29/10/2018 17h48

A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) com uma vantagem menor do que a esperada pelo mercado pode limitar os ganhos da Bolsa de Valores e a queda do dólar nos próximos meses até a posse, em janeiro, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL.

Não quer dizer que, nesta segunda-feira (29) e nos próximos dias, o mercado não possa variar em direções diferentes por causa de movimentos de investidores para tentar lucrar mais.

"Definida a eleição, surge uma preocupação quanto à governabilidade", disse Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos. Segundo ele, a vitória menos folgada nas urnas pode trazer dificuldade ao Bolsonaro para costurar alianças e conquistar apoio político suficiente para governar o país e, principalmente, para aprovar as reformas estruturais, como a Previdência. 

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"Vamos ficar de olho nos próximos dois meses [até a posse] como serão formadas as alianças e quem serão os membros da equipe de governo. O mercado ainda está dando um voto de confiança ao Bolsonaro, mas o clima de euforia já passou", afirmou Villegas.

Bolsa pode perder parte da alta recente

A forte valorização das ações ao longo de outubro pode abrir espaço para investidores embolsarem o lucro, vendendo ações e fazendo a Bolsa cair. O Ibovespa acumula 4,2% de alta desde o primeiro turno das eleições, quando Bolsonaro despontou como favorito.

"A Bolsa subiu bastante logo após o primeiro turno, com o mercado se antecipando à vitória de Bolsonaro", afirmou Pedro Galdi, analista da corretora Mirae. Agora, segundo ele, o mercado pode aproveitar para embolsar ganhos em algum momento, enquanto aguarda uma definição sobre como será formado o governo.  

Entre as ações que mais subiram em outubro estão os papéis do chamado "kit eleições", como as estatais Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, e também os bancos privados Itaú e Bradesco, que possuem as ações mais líquidas (negociadas) da Bolsa.

Tendência no longo prazo é de alta

Apesar da incerteza quanto à governabilidade, Galdi considera que a tendência da Bolsa a longo prazo é de alta. "A eleição já é passado. Agora o mercado começa a olhar adiante, na recuperação da economia, que deve levar ao aumento do lucro das empresas", afirmou.

Os especialistas ouvidos pelo UOL acreditam que o novo governo estará comprometido com a retomada do crescimento da economia, sem abrir mão da austeridade fiscal, para evitar que o déficit nas contas públicas continue crescendo.

"Um presidente recém-eleito, com capital político e disposição para realizar uma consolidação fiscal e reformas estruturais, poderá ter um impacto positivo sobre o crescimento econômico", afirmaram os analistas do banco Morgan Stanley em um relatório divulgado para investidores estrangeiros.

"O fato é que a Bolsa brasileira está atrasada em relação ao resto do mundo. Há muitas ações relativamente baratas, principalmente na segunda linha [menos negociadas], que ainda não reagiram à mudança do cenário político e à expectativa de retomada da economia", declarou Galdi.

Dólar tem menos espaço para cair

A tendência de queda do dólar ainda existe, mas deve ser limitada, segundo os especialistas. A moeda norte-americana, que começou outubro valendo cerca de R$ 4, recuou quase 9% ao longo do mês e valia R$ 3,655 na sexta-feira (26). 

"O mercado financeiro sempre se antecipa aos fatos. A vitória de Bolsonaro começou a entrar no preço do dólar no começo do mês, antes mesmo do primeiro turno. O resultado de ontem, ainda que tenha sido um pouco apertado, apenas confirmou as expectativas", disse Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital.

"O preço do dólar hoje já incorpora o afastamento do PT do poder, que era visto pelo mercado como um partido sem compromisso com a austeridade fiscal", afirmou Bergallo.

Para ele, a cotação do dólar deve ficar em torno dos R$ 3,60 até o fim do ano. "Inclusive, eu não me surpreenderia se o preço subir um pouco em algum momento nos próximos dias", disse Bergallo. Segundo ele, investidores que estavam "vendidos" (apostaram na queda do preço) na moeda podem aproveitar para embolsar os ganhos.

Dólar "ideal" deveria valer de R$ 3,20 a R$ 3,30, diz FGV

O dólar "ideal" deveria estar hoje entre R$ 3,20 e R$ 3,30, segundo Emerson Marçal, coordenador do Centro de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (Cemap/FGV), que realiza trimestralmente um estudo sobre a taxa de equilíbrio do câmbio. "Se não acontecer nenhum evento externo importante que altere os fundamentos econômicos, a taxa de equilíbrio deve se manter nesse intervalo", disse Marçal.

A taxa de equilíbrio é uma cotação que não seja nem muito alta nem muito baixa, para não prejudicar nenhum setor. Os exportadores, por exemplo, precisam de dólar mais alto para os produtos brasileiros custarem menos no exterior. Por outro lado, se o dólar disparar, os produtos importados ficam muito caros e isso aumenta a inflação no Brasil.

Esse "dólar ideal" é calculado periodicamente e busca um equilíbrio nas contas externas. Essas contas incluem balança comercial (exportações e importações), trocas de serviços (como seguros internacionais e gastos de brasileiros em viagens ao exterior), remessas de lucros e dividendos, pagamentos da dívida externa e os investimentos estrangeiros no país.