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Poupança e fundos de renda fixa rendem ainda menos com novo corte dos juros

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Imagem: Getty Images

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

05/02/2020 18h37

Resumo da notícia

  • Banco Central reduz taxa básica de juros de 4,50% para 4,25% ao ano e afeta investimentos
  • Rendimento da nova poupança no ano vai diminuir de 3,15% para 2,98% e perde da inflação
  • Fundos de renda fixa só superam poupança se taxa de administração for menor que 1%

O Banco Central reduziu a taxa básica de juros, a Selic, de 4,50% para 4,25% ao ano, no 17º corte em pouco mais de três anos. Como essa taxa é a principal referência dos investimentos de renda fixa que acompanham o CDI, caso da poupança e dos fundos DI, os ganhos dessas aplicações, que já estão perdendo da inflação, vão piorar.

Segundo gestores de recursos, a poupança e os fundos DI devem ser vistos cada vez mais como reservas de valor em vez de aplicações cujo objetivo maior seja o lucro. Quem quiser ganho acima da inflação vai ter que correr mais risco.

Poupança nova perde da inflação

Conforme a regra da nova poupança, para as contas abertas a partir de 2012, o rendimento será dado pelo equivalente a 70% da Selic. Ou seja, com a Selic agora em 4,25% ao ano, a nova poupança vai render apenas 2,98% para o dinheiro que ficar lá por 12 meses. Esse ganho do aplicador é sem cobrança de imposto.

Como a inflação projetada para este ano é de 3,40%, a realidade é que o poupador deve acabar perdendo dinheiro. Uma aplicação de R$ 1.000, por exemplo, vai render R$ 29,80 em um ano. Se a inflação confirmar as expectativas, vai corroer R$ 34 desse investimento. Ou seja, no saldo final, o aplicador perdeu R$ 4,20 em 12 meses.

Para quem tem a poupança antiga, a regra de rendimento é diferente: o ganho é de 6,17% ao ano. Ou seja, mais que a inflação prevista para 2020. O problema é que essas contas não podem receber novas aplicações —apenas saques são permitidos.

Fundos de renda fixa: cuidado com as taxas

Fundos de renda fixa que acompanham o CDI também vão sofrer com a queda da Selic. Nesse caso, destacam profissionais de mercado, o investidor deve ficar ainda mais atento a custos que a poupança não tem —a incidência de Imposto de Renda e a taxa de administração cobrada pelos bancos.

A alíquota do imposto varia conforme o tempo que o dinheiro fica aplicado. Começa em 22,50% sobre o ganho para aplicações de até seis meses, depois é de 20% para o prazo de até um ano, recuando para 17,50%, até dois anos, e para 15%, se o investidor esperar mais de dois anos para sacar o dinheiro.

Em uma simulação feita pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os fundos de DI só batem o rendimento da poupança nova se a taxa de administração cobrada for inferior a 1%.

Por exemplo, um fundo com taxa de administração de 0,50% ao ano numa aplicação de R$ 1.000, o rendimento acumulado em 12 meses seria de R$ 32,90 —ganho de 3,29% ao ano, já descontado o imposto para esse período de aplicação.

Em um fundo com taxa de administração de 1% ao ano, o investidor teria acumulado um rendimento de R$ 30,40 (3,04% ao ano). E para uma taxa de administração de 1,50%, o rendimento seria de apenas R$ 28 (2,80% ao ano).

Ou seja, com os juros nesse patamar, a taxa de administração passa a ser fundamental na escolha do investidor.

CDB vale se pagar 85% do CDI

Outra opção para o investidor que busca um rendimento fixo, de baixo risco e com liquidez é o CBD, título oferecido por bancos. Mas o diretor executivo da Anefac, Miguel José Roberto de Oliveira, destaca que é preciso que o papel pague ao menos 85% do CDI para atingir o mesmo ganho obtido pela poupança nova, já que essas aplicações pagam igualmente IR de acordo com o prazo de resgate da aplicação.

Juros continuarão baixos

Economistas dizem que os juros devem continuar baixos por mais tempo porque essa é uma das armas que o governo tem para estimular a economia. Selic baixa significa menor custo do dinheiro para o empresário investir, e prestações mais em conta para o consumidor comprar bens e serviços.

Para o economista-chefe da administradora de recursos Vinland Capital, Aurélio Bicalho, os indicadores do setor industrial ainda estão fracos, e os números do varejo foram influenciados por eventos isolados no ano passado, como a liberação de parcelas do FGTS e as promoções da Black Friday.

"Alguns dados mostraram ritmo de crescimento mais lento que o esperado no quarto trimestre. A produção industrial decepcionou em novembro e dezembro, vindo mais lenta que o esperado", afirmou o economista.

Segundo ele, as expectativas de inflação mostram que pessoas e empresas acreditam que os preços devem seguir comportados. Assim, existe espaço para que o Banco Central possa manter os juros baixos por mais tempo, até 2021 pelo menos, antes de reiniciar um movimento de alta da Selic.

Bolsa, fundos de ações, multimercados e imobiliários

Por isso, dizem gestores de recursos, as aplicações que poderão bater a inflação com alguma folga serão mesmo aquelas que representam algum risco para o investidor —ou seja, ativos que podem subir ou cair de valor, mas que, no longo prazo, representam um potencial de retorno mais consistente.

Como foi a Bolsa, que em 2019 subiu 32% de acordo com a medida do Ibovespa, embora em alguns momentos do ano o indicador tenha recuado.

Esse movimento já vem ocorrendo, conforme mostram dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais). Os fundos multimercados e de ações tiveram, em 2019, uma captação líquida de R$ 153 bilhões, enquanto os fundos de renda fixa perderam R$ 69,3 bilhões em saques.

"Com juros baixos, a parte da carteira que busca ganho real deve abrir mão de liquidez, esticando os prazos da aplicação. O investidor vai ter que olhar ativos com mais volatilidade, seja por ter um vencimento mais longo ou que tenha mesmo uma percepção de risco maior", disse o responsável pela área de Produtos do Ourinvest, Fernando Fridman.

Segundo ele, além de ações, outras opções que podem se beneficiar do ambiente de juros baixos e retomada da economia são os fundos imobiliários.

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