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Dólar e ouro lideram ganhos, e Bolsa tem pior trimestre da história

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

31/03/2020 18h06

Resumo da notícia

  • Com terceira queda mensal consecutiva, Ibovespa tem pior trimestre na história
  • Perda mensal da Bolsa em março é a maior desde 1998
  • Incertezas de mercado devem continuar no 2º trimestre por causa da covid-19, dizem analistas

Pelo terceiro mês consecutivo, o dólar e o ouro lideraram os ganhos entre os investimentos no mercado brasileiro, e a Bolsa teve o pior desempenho numa lista selecionada de aplicações. Essa tendência, que já vinha desde o início de 2020, ganhou força, porque cresceu o receio entre investidores de que a economia sofra ainda mais em meio à pandemia de coronavírus.

Com mais essa perda mensal, o Ibovespa teve entre janeiro e março o pior trimestre de sua história (-36,86%), conforme dados da empresa de informações financeiras Economatica. Antes, a maior perda da Bolsa havia sido registrada no terceiro trimestre de 1986, quando o índice recuou 36,25%.

No sentido contrário, dólar e ouro foram beneficiados pela procura por segurança entre os investidores, que temem uma forte recessão global, o que vai afetar as vendas e os lucros das empresas. A moeda americana teve a maior valorização mensal desde setembro de 2011. No trimestre, foi a terceira maior valorização da divisa ante o real, perdendo para variações no terceiro trimestre de 2002 e no primeiro trimestre de 1999, quando as altas foram de 36,93% e 42,47%, respectivamente.

O primeiro trimestre de 2020 vai ficar para a história, uma transformação social sem precedentes começou e as incertezas fizeram com que os investidores procurassem por liquidez mais do que por ativos.
Gustavo Almeida, analista da casa de análise Spiti

"Tivemos um forte movimento de aversão a risco e busca por liquidez, num quadro de pânico generalizado", afirmou o responsável pela gestão de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, Alexandre Hishi. "Ativos que são usualmente utilizados como proteção e diversificação de carteiras, como dólar e ouro, cumpriram o seu papel", disse.

Veja abaixo o desempenho de alguns dos principais ativos dos mercados, segundo levantamento da Economatica.

Fundos imobiliários em baixa

Na busca por segurança, mesmo aplicações relacionadas a ativos reais, como fundos de investimento imobiliário, também tiveram perdas, conforme apontou a queda do índice Ifix, que acompanha as cotas de mais de cem fundos imobiliários negociadas na Bolsa.

O ambiente de incerteza afeta o sentimento dos investidores e acaba impactando vendas, e as empresas interrompem lançamentos.
Fernando Ferreira, estrategista da XP Investimentos

As aplicações relacionadas aos juros conseguiram manter uma variação positiva em março e no trimestre, mas com ganhos muito perto do zero. Isso porque cortar juros é uma das armas que os governos têm para tentar manter a economia girando em momentos de crise. Foi o que fez, por exemplo, o Banco Central do Brasil, que baixou a taxa básica de juros (Selic) para um novo mínimo histórico.

O que esperar do próximo trimestre?

O ambiente neste segundo trimestre do ano deve continuar quase tão incerto quanto o visto em março, dizem profissionais de mercado. Segundo eles, não é possível enxergar quando a pandemia estará controlada para que os governos possam suspender restrições ao consumo e à produção.

Mas há uma esperança de que o pior momento tenha passado —pelo menos para os mercados. Seja porque os ativos já perderam muito valor, seja porque há a expectativa de que os pacotes dos governos para ajudar as economias surtam efeito.

Esperamos um segundo semestre melhor do que o primeiro em termos de preços de ativos, salvo outros eventos que possam agravar o cenário local ou global.
Alexandre Hishi, da Azimut Brasil Wealth Management

Para ele, os preços de alguns ativos tanto na renda variável como na renda fixa já representam oportunidades para quem aplica no longo prazo.

Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, o segundo trimestre vai continuar bastante complicado para as empresas no mundo inteiro. "O quadro só deve começar a melhorar no fim do terceiro trimestre ou começo do quarto trimestre", afirmou. Segundo ele, o Ibovespa precisa ainda encontrar um ponto de apoio para escapar um pouco da forte volatilidade. "Seguimos marcando a zona de 83 mil pontos do Ibovespa como importante para ser ultrapassada, para garantir maior consistência do movimento de recuperação", afirmou.