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O que os balanços do 1º trimestre dizem para quem investiu na Bolsa?

Cris Fraga/Estadão Conteúdo
Imagem: Cris Fraga/Estadão Conteúdo

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

16/06/2020 04h00Atualizada em 23/07/2020 15h30

Resumo da notícia

  • Isolamento social ocupou apenas um mês do trimestre, mas já afetou resultados das empresas
  • Crise atinge de forma diferente as empresas; maioria perdeu, mas algumas poucas se saíram bem
  • Balanços do 2º trimestre vão mostrar impacto maior da crise sobre as empresas

As medidas de isolamento social tomadas por governos para conter a pandemia do novo coronavírus chegaram apenas no terço final do primeiro trimestre. Mas a restrição ao consumo e à produção já foi suficiente para afetar o desempenho das maiores empresas do país no período. É o que mostra a primeira safra de balanços de resultados em 2020 das companhias com ações negociadas em Bolsa. Quase metade apresentou números abaixo do que era esperado pelos analistas.

Apesar do desempenho ruim na média, algumas empresas conseguiram atravessar o primeiro trimestre com saúde. Cerca de 18% das companhias revelaram indicadores superiores ao que eram projetados pelos analistas. Os negócios ligados ao comércio eletrônico, ao varejo de medicamentos e à produção de alimentos foram até beneficiados pelo isolamento social, que elevou o consumo dentro dos lares, os cuidados com saúde e higiene. Por outro lado, os setores de viagens, shopping centers e financeiro sofreram mais que a média.

Segundo profissionais de mercado, saber diferenciar os setores que se deram bem daqueles que estão mais machucados é fundamental para o investidor que tem dinheiro na Bolsa.

De maneira geral, o primeiro trimestre mostrou os primeiros impactos do coronavírus, que foi mais forte nas empresas mais expostas ao setor de serviços.
Betina Roxo, analista de pesquisa da XP Investimentos

Colchão de emergência

Volume de vendas ou tamanho do lucro são indicadores que os analistas costumam acompanhar com cuidado para definir a lista das empresas vencedoras e perdedoras no primeiro trimestre. Mas não são os únicos dados relevantes. A quantidade de dinheiro em caixa e o nível de endividamento também são importantes - e ganharam mais peso em meio à crise da covid-19.

"As empresas não conseguem cortar custos na mesma velocidade com que as receitas caem. Por isso, ter reserva de caixa é fundamental para cobrir compromissos fixos, como salários, aluguéis, fornecedores", diz afirma o professor de contabilidade da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, Marcelo Botelho Moraes.

Por isso, liquidez e baixa alavancagem são importantes porque mostram o fôlego que a empresa tem para atravessar a crise inteira. Até porque o maior impacto da crise está ocorrendo neste segundo trimestre. Então, quem chegou ao fim de março com mais dinheiro e menos dívida tem mais chance de seguir apresentando bons resultados.
Marcelo Botelho Moraes, professor de contabilidade da FEA-USP/RP

A XP Investimentos elaborou um relatório apontando destaques positivos e negativos entre as empresas que divulgaram balanços de resultados.

Destaques entre vencedoras

Lojas Americanas e B2W: As duas empresas do mesmo grupo venderam 17% mais na comparação anual, apesar dos efeitos negativos da crise desencadeada pelo novo coronavírus. As empresas tiveram melhoras de desempenho especialmente na operação digital (B2W).

Raia Drogasil: forte aceleração no ritmo de crescimento de vendas, acompanhada de expansão de margem de lucro e progresso no desempenho digital.

Marfrig: Apresentou fortes resultados com lucro operacional de R$ 1,2 bilhão, 10% acima das expectativas com ajuda do real mais fraco, que alimentou aumento de vendas para os Estados Unidos e China e reduziu os custos da empresa na América do Sul.

Algumas empresas que mais sofreram

Iguatemi: Com muitos shoppings fechados a partir de março, os resultados abaixo das estimativas foram afetados pela queda do fluxo de caixa operacional, aumento de custos gerais e de despesas financeiras líquidas.

Itaú Unibanco: Teve resultado abaixo das expectativas, com queda do lucro em 43%, afetado principalmente por um maior provisionamento para enfrentar possíveis aumentos na inadimplência. O custo de crédito aumentou 165% anualmente.

Bradesco: Lucro 38% abaixo das estimativas de mercado, impactado principalmente por custo de crédito, que veio acima do esperado e cresceu 86% anualmente.

Banco do Brasil: Resultados 25% abaixo das estimativas de mercado principalmente por causa de maiores custos de crédito.

Cielo: Lucro caiu 69% no 1º trimestre na comparação anual, por causa do aumento da competição e da queda dos volumes de transações devido à pandemia do coronavírus.

Azul: Os resultados já refletiram parcialmente os impactos adversos da desvalorização do real em relação ao dólar e a forte queda na demanda.

Manter foco no longo prazo

Profissionais de mercado são unânimes em afirmar que os balanços de resultados das empresas no segundo trimestre serão piores que os dados apresentados entre janeiro e março porque vão capturar de forma mais ampla o período de isolamento social adotado no país.

"O primeiro trimestre trouxe apenas os primeiros impactos. O segundo trimestre é que será o desafiador", afirma Betina, da XP Investimentos.
Mas a especialista destaca que o investidor deve manter o foco da aplicação no longo prazo e não tomar nenhuma decisão baseada apenas nos balanços das empresas este ano. Tem que olhar o longo prazo e não ficar focado no curto prazo porque essa crise vai passar, e as oportunidades de negócios vão voltar", afirma a analista, apontando que considera longo prazo aplicação para pelo menos cinco anos.