2007 Em 2007, a crise começou a se desenhar por causa das chamadas hipotecas subprime nos EUA. Essas hipotecas ofereciam empréstimos para compra de casas a clientes que apresentavam elevado risco de crédito. Paul J. Richards/AFP
2007 A princípio, o problema estava restrito aos EUA, mas gestores de fundos e bancos de vários países investiram nesses papéis porque pagavam altos juros. Com o calote generalizado dos clientes que fizeram as hipotecas originalmente, o sistema financeiro de vários países ficou prejudicado, criando as condições para a crise se instalar globalmente em 2008 Juan Mabromata/AFP
2008 Bancos e outras instituições enfrentam um terremoto financeiro neste ano. O maior símbolo da situação de caos é o Lehman Brothers: em 15 de setembro de 2008, o tradicional banco de investimentos pede falência após 158 anos de existência. A data marca o ponto-chave da crise Shannon Stapleton/Reuters
2008 O fato ocasiona a maior queda nas Bolsas dos Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro de 2001. O terceiro maior banco britânico, o Barclays, compra as atividades e a sede do Lehman Brothers por US$ 1,75 bilhão Reprodução/CNN
2008 O Citigroup tem o quarto prejuízo trimestral consecutivo. No 3º trimestre, o banco registrou perda de US$ 2,8 bilhões, em comparação com o lucro de US$ 2,2 bilhões em igual período de 2007. A empresa anuncia a demissão de mais de 70 mil funcionários em todo o mundo. Depois, o governo dos EUA decide resgatar o Citigroup, ameaçado de falir, com um pacote de US$ 326 bilhões Justin Lane/Efe
2008 A maior seguradora do mundo, a AIG, anuncia perdas de US$ 5,3 bilhões no 4º trimestre. O Fed (banco central dos EUA) estatiza a empresa, concedendo-lhe um crédito de US$ 85 bilhões em troca de 79,9% de seu capital. Depois, faz uma reestruturação no socorro da AIG e disponibiliza mais de US$ 150 bilhões em empréstimo. A seguradora reportou prejuízo de US$ 24,5 bilhões no 3º trimestre Reprodução/NY Post
2008 A agência de crédito hipotecário Fannie Mae, anuncia prejuízo de US$ 2,19 bilhões no 1º trimestre e também reduz dividendos Manuel Balce Ceneta/AP
2008 Depois, o Tesouro dos EUA anuncia o resgate da Fannie Mae e da Freddie Mac (outra gigante de financiamento de imóveis), oferecendo garantias de até US$ 100 bilhões para as dívidas de cada uma delas. A Fannie Mae registra um prejuízo colossal de US$ 28,99 bilhões no 3º trimestre Susan Walsh/AP
2008 O JP Morgan compra o Bear Stearns por US$ 2 por ação (um ano antes, o papel era negociado a US$ 70). O banco Wachovia, quarto maior dos Estados Unidos, registra prejuízo de US$ 393 milhões no 1º trimestre e corta 41% dos dividendos distribuído aos acionistas. O JP Morgan anuncia que irá cortar milhares de empregos na divisão de investimentos. Analistas estimam que 3.000 postos de trabalho serão fechados (quase 10% do efetivo mundial) Mark Lennihan/AP
2008 Quebra o sexto maior banco americano, Washington Mutual (WaMu). Suas atividades bancárias são vendidas ao JPMorgan Chase por US$ 1,9 bilhão. O lucro do banco Goldman Sachs desaba 70% no terceiro trimestre e passa para US$ 845 milhões. O Merrill Lynch é vendido ao Bank of America por US$ 50 bilhões. O banco britânico Northern Rock é nacionalizado, e o norte-americano IndyMac quebra. Outro britânico, o Lloyd TSB, compra o concorrente HBOS, que estava à beira da falência. Dois bancos europeus, o britânico Bradford & Bingley e parte do belga Fortis, são nacionalizados Andy Rain/Efe
RESGATES Governos de diferentes países gastam muito dinheiro para evitar quebradeiras em série e se unem para tentar debelar a crise, tomando decisões conjuntas inéditas Mark Wilson/Getty Images/AFP
RESGATES Algumas das medidas foram: os EUA primeiro criam plano de cerca de US$ 700 bilhões de ajuda para os bancos. Depois, sai um novo pacote de socorro à economia no valor de US$ 800 bilhões. O Reino Unido libera 50 bilhões de libras. O governo e os bancos da Alemanha fecham um acordo de 50 bilhões de euros para evitar a quebra do banco Hypo Real Estate (HRE). Além disso, a Alemanha aprova pacote de 480 bilhões de euros para bancos em geral. A Holanda injeta 10 bilhões de euros no banco ING. O Banco do Japão libera US$ 50,168 bilhões no sistema financeiro. O governo francês concede um empréstimo de 5 bilhões de euros para sete bancos. O FMI concede um empréstimo de US$ 2,1 bilhões para a Islândia, cujo setor bancário ficou arruinado com a crise. A entidade também empresta US$ 16,5 bilhões à Ucrânia Nicholas Kamm/AFP
RESGATES O governo dos EUA libera US$ 125 bilhões para nove grandes bancos americanos. O Fed concede linha de crédito de US$ 30 bilhões ao Brasil. O anúncio também inclui, com o mesmo valor, o BC de Cingapura, o Banco da Coreia e o Banco do México. O Banco Mundial anuncia que quase triplicará sua capacidade de empréstimos a países em desenvolvimento, destinando até US$ 100 bilhões em três anos. A Comissão Europeia pede aos países do bloco europeu que destinem 200 bilhões de euros à superação da crise. O governo italiano anuncia pacote de 80 bilhões de euros Charles Dharapak/AP
RESGATES Os seis principais bancos centrais do mundo anunciam uma "medida coordenada" com a injeção de bilhões de dólares no mercado financeiro para enfrentar a falta de liquidez. Também reduzem as taxas básicas de juros, em uma ação emergencial conjunta sem precedentes. Anunciam, ainda, um calendário de operações de refinanciamento. O Fed toma medida inédita: comprar papéis de curto prazo emitidos por empresas Issei Kato/Reuters
RESGATES O G-7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) anuncia plano de cinco pontos contra a crise financeira, que inclui o uso de "todas as ferramentas disponíveis" para evitar a quebra de bancos grandes. O G-20, organismo que reúne países avançados e nações em desenvolvimento, se compromete a utilizar "todas as ferramentas" financeiras e econômicas para assegurar a estabilidade Rainer Jensen/Efe
RESGATES Líderes dos países da zona do euro permitem refinanciamento bancário "limitado" até o final de 2009 para evitar quebras. A União Europeia decide elevar a garantia dos depósitos bancários de 20 mil euros para 50 mil euros e afirma que não permitirá que nenhum grande banco quebre na região Arne Dedert/Efe
BRASIL Antes da piora da crise, o Brasil recebe grau de investimento, mas depois sente os efeitos dos distúrbios globais. O Brasil recebe o grau de investimento de diferentes agências de avaliação de risco. Isso significa que o país tem menos risco de dar calote e é confiável para o investidor estrangeiro. A primeira aprovação foi em abril pela Standard & Poor’s. Em maio, foi a vez da agência canadense DBRS e da Fitch Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
BRASIL A Sadia anuncia perdas de R$ 760 milhões com operações no mercado financeiro. A Aracruz (empresa de celulose) reporta prejuízo de R$ 1,95 bilhão com operações no mercado financeiro Danilo Verpa/Folha Imagem
BRASIL Os mercados desabam, e a Bovespa interrompe as negociações por duas vezes em 6 de outubro, depois de recuar mais de 15% Rodrigo Paiva/Folhapress
BRASIL O Banco Central (BC) e o Ministério da Fazenda anunciam medidas como oferta de R$ 24 bilhões para a compra de carteira de clientes de bancos menores e ampliação da linha de crédito para exportações em R$ 5 bilhões. O BC decide vender dólar no mercado à vista, prática que não adotava desde 2003, para tentar reduzir a cotação da moeda, que subia fortemente Mauricio Lima/AFP
EFEITOS GERAIS A taxa de desemprego nos EUA sobe para 6,5%, seu nível mais alto desde março de 1994. Ao todo, 240 mil postos de trabalho foram fechados Bebeto Matthews/AP
EFEITOS GERAIS A Alemanha, maior economia da zona do euro, registrou uma recessão técnica pela redução do Produto Interno Bruto (PIB) durante dois trimestres consecutivos. A fabricante de automóveis alemão Opel, filial da americana General Motors, ameaçada de falência, pede ajuda ao governo local para continuar funcionando Rainer Jensen/Efe
O presidente da montadora americana Chrysler, Robert Nardelli, afirma que sem uma ajuda "imediata" do governo dos Estados Unidos, o grupo não terá dinheiro para dar continuidade a suas tarefas normais e corre o risco de quebrar. O Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês) anuncia que os EUA já estão em recessão desde dezembro de 2007 EFEITOS GERAIS Spencer Platt/Getty Images/AFP
2009 O Brasil entra no noticiário como o emergente queridinho dos analistas internacionais. A revista norte-americana "Newsweek" afirma que o Brasil vem se transformando na última década em uma "potência regional única" Reprodução
2009 A revista britânica "The Economist" elogia o desempenho brasileiro e dedica uma capa ao Brasil. A revista chama o país de "a maior história de sucesso na América Latina". A capa tem uma montagem com o Cristo Redentor decolando, como se fosse um foguete Reprodução
2009 O país torna-se credor do Fundo Monetário Internacional (FMI), com a compra de US$ 10 bilhões em bônus Reprodução
2009 Outra situação pouco comum na história recente da economia brasileira é a valorização do real e a queda do dólar. Entre janeiro e novembro, o dólar perde cerca de 25% de seu valor. Outra manifestação de confiança no país vem da agência de classificação de risco Moody's, que concede grau de investimento ao Brasil. Foi a quarta agência a alçar o país ao grupo dos países considerados confiáveis para investir Mauricio Lima/AFP
2009 Embraer corta mais de 4.000 trabalhadores, cerca de 20% de seus quadros. O Brasil entra em recessão no primeiro trimestre do ano, mas recupera-se rapidamente. Já no segundo trimestre, a economia do país volta a crescer, e o país sai da recessão Fernando Donasci/Folhapress
2009 O governo brasileiro toma medidas para estimular a economia ao longo do ano. Uma delas é a redução ou a isenção de impostos. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é cortado para carros, eletrodomésticos, como geladeiras e fogões, móveis e material de construção. Outros impostos incidentes sobre o pão também são reduzidos. Enquanto isso, como compensação, produtos supérfluos, como cigarros, são sobretaxados Danilo Verpa/Folhapress
2009 A taxa básica de juros termina 2009 abaixo dos dois dígitos, em 8,75% ao ano. É o menor percentual desde que a Selic passou a ser usada como meta da política monetária, em 5 de março de 1999 Marcelo Justo/Folha Imagem
MUNDO O G20 anuncia o uso de US$ 5 trilhões para tentar salvar a economia e os empregos. A Alemanha e a França surpreendem e retomam o crescimento econômico no segundo trimestre, superando a recessão antes do esperado. O FMI anuncia o fim da recessão mundial John Stillwell/AFP
CARROS A cententária fabricante de automóveis General Motors, um ícone da sociedade norte-americana e do capitalismo global, pede concordata nos Estados Unidos em junho. Quarenta dias depois, a empresa sai da concordata. A fabricante norte-americana de automóveis Chrysler pede concordata Carlos Osorio/AP
2010 Obama anuncia pacote de US$ 33 bilhões para aumentar empregos Larry Downing/Reuters
2010 Grécia tem greve geral e tumulto; UE e FMI acertam ajuda de 110 bilhões de euros à Grécia Aris Messinis/AFP
2010 UE aprova pacote de 750 bilhões de euros para ajudar a zona do euro Peter Morrison/AP
2010 Governo brasileiro corta gastos em R$ 10 bilhões para esfriar economia Ricardo Moraes/Reuters
2010 Alemanha aplica medidas contra especulação nos mercados Michael Sohn/AP
2010 Parlamento alemão aprova pacote de 148 bi de euros Tobias Schwarz/Reuters
2010 Espanha aprova pacote de cortes de 15 bilhões de euros para reduzir deficit no orçamento Arturo Rodriguez/AP
2010 Senado americano aprova a maior reforma do sistema financeiro desde a Grande Depressão, nos anos 1930 Stan Honda/AFP
2010 PIB brasileiro cresce 8,9% no 1º semestre e tem melhor resultado desde 1996 Danilo Verpa/Folhapress
2010 Países emergentes ganham influência no FMI Ricardo Moraes/Reuters
2010 Guerra cambial vira disputa internacional Joel Saget/AFP
2010 G20 se compromete a evitar desvalorizações unilaterais de suas moedas Yonhap/Efe
2010 Ministros europeus definem termos de ajuda financeira à Irlanda Peter Morrison/AP
2010 Para restringir crédito, BC muda financiamento de veículos e retém R$ 61 bilhões de bancos Alan Marques/Folhapress
2011 Fitch Ratings rebaixa nota e Grécia perde grau de investimento Louisa Gouliamaki/AFP
2011 Fitch eleva nota do Brasil por seu clima econômico "positivo" Eraldo Peres/AP
2011 Grécia enfrenta protestos contra austeridade econômica Louisa Gouliamaki/AFP
2011 Desemprego em abril é o menor para o mês no Brasil em nove anos, diz IBGE Fabiana Beltramini/Folhapress
2011 Dólar cai para R$ 1,554 tem menor valor em mais de 12 anos Montagem/Folhapress
2011 Agência de avaliação de risco financeiro baixa nota da dívida dos EUA Philippe Huguen/AFP
2011 Obama propõe pacote de US$ 447 bi para tentar salvar economia Kevin Lamarque/AFP
2011 Uma onda de manifestações denominada Occupy Wall Street, toma conta do coração financeiro de Nova York e se espalha pelo mundo, inclusive Brasil Jewel Samad/AFP
2011 Dívida grega é reduzida pela metade em acordo que tenta salvar euro Yannis Behrakis/Reuters
2011 Silvio Berlusconi renunciou ao cargo de premiê da Itália após aprovação de pacote de reformas econômicas no país Charles Platiau/Reuters
2011 Governo brasileiro anuncia medidas para estimular o consumo no país. Entre elas, corte de impostos para compra de eletrodomésticos e aplicações financeiras (como empréstimos e investimentos na Bolsa de Valores) Danilo Verpa/Folhapress
2012 A Grécia dá o maior calote da história e consegue renegociar sua dívida com os credores do setor privado. Sem melhor opção, a maioria deles aceitou perder mais de metade de seus investimentos em um calote organizado de cerca de R$ 250 bilhões. Em meio a protestos, o país aprovou uma série de medidas contra a crise, incluindo aumento de impostos e cortes de salários, pensões e empregos
2012 Os gregos conseguem convencer o chamado Eurogrupo -formado pelos ministros das Finanças dos 17 países da zona do euro, mais o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI)- a liberar pacotes de ajuda econômica e evitar que o país quebre
2012 A Espanha afunda-se mais na crise, disputando os holofotes com a Grécia. O governo espanhol aprova reforma financeira e cria um "banco podre", para concentrar os calotes e fechar instituições inviáveis. Também pede ajuda de até 100 bilhões de euros dos países da zona do euro para recapitalizar seus bancos em crise
2012 Mais de 500 famílias são despejadas de suas casas a cada dia na Espanha, porque não conseguem pagar o aluguel ou as prestações do financiamento imobiliário. A situação extrema levou a casos de suicídio. Em pouco mais de um mês, quatro pessoas se mataram pelo mesmo motivo. Em resposta à forte pressão social, o governo espanhol congelou por dois anos os despejos de proprietários endividados
2012 Nove das 17 regiões autônomas espanholas pedem ajuda a um fundo de liquidez criado em julho pelo governo e ativado ao final de setembro: Catalunha, Valência, Andaluzia, Castela-Mancha, Múrcia, ilhas Canárias, ilhas Baleares, Astúrias e Cantábria. O governo decide prorrogar o instrumento em 2013
2012 O desemprego nos países da zona do euro bate recordeS. Em outubro, chegou a 11,7% da população, deixando quase 19 milhões de pessoas sem trabalho, no maior contingente de desempregados da história do bloco. A Espanha e a Grécia são os locais mais afetados: uma em cada quatro pessoas não tem trabalho nesses países. No desespero em busca de um emprego, alguns europeus começaram a mentir em seus currículos. Detalhe: para parecerem menos qualificados
2012 A população vai às ruas na Europa para protestar contra o aumento de impostos, o corte de despesas do governo e o desemprego, uma combinação que ficou conhecida como "austeridade". Muitos protestos terminaram em caos: manifestantes em confronto com a polícia, gás lacrimogêneo contra bombas caseiras, presos e feridos
2012 Barack Obama consegue se reeleger para a Casa Branca, e seu novo desafio é negociar um acordo com a oposição republicana para evitar o "abismo fiscal" -cortes de gastos e aumentos de impostos no valor de US$ 600 bilhões, que começariam a valer em 2013. Sem acordo antes de 31 de dezembro, os EUA poderiam cair nesse abismo, entrar em recessão e agitar os mercados do mundo todo
2012 O Fundo Monetário Internacional (FMI) junta US$ 456 bilhões para um fundo de prevenção e solução de crises, incluindo US$ 10 bilhões do Brasil. Em troca, os principais países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) pleiteam uma reforma no FMI e mais poder de voto no organismo
2012 Vários Bancos Centrais decidiram injetar dinheiro para tentar estimular a economia de seus países. Foram 530 bilhões de euros do Banco Central Europeu, 50 bi de libras na Inglaterra, 220 bi de yuans na China, US$ 130 bi no Japão, US$ 40 bi nos EUA. Com isso, aumenta a entrada de dólares no Brasil, o que reduz o valor da moeda (prejudicando as exportações), o que leva a presidente Dilma Rousseff a criticar o "tsunami monetário" na abertura da Assembleia Geral da ONU
2012 As agências de classificação de risco rebaixam as notas de países e empresas: França, Espanha, Grécia, Citigroup, Santander, Sony, Panasonic, só para citar alguns. Nem o banco mais antigo do mundo, o italiano Monte dei Paschi di Siena, escapou do corte. Em contrapartida, a Justiça da Austrália condenou uma agência por ter dado uma classificação "enganosa" a um fundo durante a crise de 2008, levando a prefeituras a ter perdas. O caso abre as portas para reivindicações de até US$ 200 bilhões no mundo todo
2013 Crise global afeta mais meninas e mulheres, diz relatório Dimitri Messinis/AP
2013 FMI não chega a acordo sobre dar mais poder de voto ao Brasil Ints Kalnins/Reuters
2013 Mesmo com manobra contábil, governo não bate meta fiscal de 2012 Pedro Ladeira/Folhapress
2013 Brasil pode ser a 4ª maior economia do mundo até 2050, diz estudo Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press
2013 Não há risco de descontrole da inflação, afirma Tombini Danilo Verpa/Folhapress
2013 Bancos dos EUA têm em 2012 o maior lucro desde 2006, afirma FDIC Mark Wilson/Getty Images/AFP
2013 'Minha bola de cristal pode ter tido alguns defeitos', diz Mantega Sebastião Moreira/Efe
2013 Espanha já tem 3 milhões em pobreza extrema; estudo fala em "década perdida" Paul White/AP
2013 Acordo do Chipre fecha banco e confisca depósitos acima de 100 mil euros Petros Karadjias/AP
2013 Chipre reabre bancos amanhã, sem cheque e com saque limitado a 300 euros Bogdan Cristel/Reuters
2013 Dilma inclui mais oito setores nos cortes de tributos da folha de pagamento Sergio Lima/Folhapress
2013 OIT: 1 milhão de europeus perderam emprego nos últimos 6 meses Sebastien Berda/AFP
2013 Taxa de desemprego nos Estados Unidos é a menor em quatro anos Spencer Platt/Getty Images/AFP
2013 Recessão da Itália torna-se a mais longa registrada com queda do PIB Antonio Calanni/AP
2013 Cresce percepção negativa sobre o Brasil no mundo, diz pesquisa Alessandro Buzas/Futura Press
2013 Agência ameaça rebaixar nota de risco do Brasil por fraco crescimento Ueslei Marcelino/Reuters
2013 Agência de risco melhora perspectiva para a economia dos EUA Ivan Sekretarev/AP
2013 Irlanda volta oficialmente à recessão Barry Cronin/AFP
2013 FMI recomenda mais investimento para Brasil aumentar potencial de crescimento Justin Lane/Efe
2013 Agência de risco rebaixa nota da França em meio à crise na zona do euro Philippe Huguen/AFP
2013 Bernanke: redução de estímulo deve começar este ano, mas plano não está definido Alex Brandon/AP
2013 Economia dos EUA cresce 1,7% no 2º trimestre e supera expectativas Karen Bleier/AFP
2013 Desemprego na Grécia chega a 27,6% e bate novo recorde Petros Giannakouris/AP
2013 EUA devem atingir limite da dívida pública em meados de outubro Mandel Ngan/AFP
2013 Espanha 'loteia' espaços naturais e históricos para sair da crise Fellipe Fernandes/UOL
2013 Brasil tem 'bala na agulha' para encarar turbulência do dólar, diz Dilma Ueslei Marcelino/ Reuters
2013 'Robin Hoods' espanhóis roubam material escolar para crianças carentes Cristina Quicler/AFP
2013 Economia brasileira cresce 1,5% no 2º trimestre e 3,3% em um ano Andre Penner/AP
2013 Detroit pede proteção contra falência, em maior 'concordata' municipal dos EUA Andrew Burton/Getty Images/AFP
2013 Com crescimento de 0,3%, zona do euro sai da recessão após um ano e meio Kai Pfaffenbach/Reuters
Crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de cada país, em relação ao ano anterior, em %
O sobe e desce das Bolsas de São Paulo e Nova York, em porcentagem
Cinco analistas ouvidos pelo UOL explicam a crise segundo suas visões
Conteúdo: Sophia Camargo, Maria Carolina Abe, Armando Pereira Filho; Infografia: Ricardo Ampudia; Arte: Hugo Luigi, Carolina Oyama; Programação: Franklin Javier
Entre 2008 e 2012, a economia americana cresceu pouco: 0,6% ao ano. A perspectiva é que cresça, até 2018, cerca de 3% ao ano, o que deve puxar a economia global para um crescimento de 4% ao ano. A Europa deve parar de cair e a China deve perder fôlego. Com isso, os mercados emergentes vão enfrentar desafios importantes, pois para as economias centrais não se exportam commodities, mas produtos manufaturados. O câmbio depreciado ajuda [dólar alto], mas é preciso competitividade. O Brasil precisa fazer sua lição de casa e diminuir o custo da produção –impostos, burocracia, falta de infraestrutura. Agora é um jogo de gente grande.
Estamos no terceiro ato da crise, que é o retorno do capital aos Estados Unidos. A expectativa de que a economia norte-americana esteja mais saudável, com dados como desemprego em queda e setor financeiro operando próximo à plena capacidade, leva os mercados a acreditarem que a política de incentivos que o Fed usou para lidar com a crise -juro zero e compra de ativos no setor financeiro para ajudar a economia- esteja chegando ao fim. Com isso, países emergentes estão sofrendo com a desvalorização de suas moedas. Mas essa desvalorização não deve causar uma grande crise no Brasil, pois hoje o país tem muito mais reservas internacionais.
A economia dos EUA tem um modelo de produção ultrapassado e sobrevive graças ao mercado financeiro. A Europa tem estrutura mais antiga ainda. Agora precisam agora dar a volta por cima e encontrar alternativas para integrar jovens e idosos no mercado de trabalho e inovar as relações de produção. No Brasil, em vez de a expansão vir pelo consumo, a tendência é que seja pelos investimentos em produção. No último trimestre, os investimentos em formação de capital fixo [construção civil, máquinas] cresceram 3,6%, enquanto o consumo das famílias cresceu 0,3%. Relatório da PricewaterhouseCoopers coloca o Brasil entre os 7 mais ricos em 2032 e entre os 4 maiores em 2050.
O Brasil surfou a onda da crise por conta do crescimento chinês, que impulsionou fortemente o preço das commodities. Era o momento de ter aproveitado e investido em infraestrutura. Isso não foi feito. O que houve foi um relaxamento das metas de inflação e respeito ao superavit primário, o que resultou em inflação alta. Com isso, agora que os Estados Unidos estão se recuperando e os investidores estão voltando para lá, os países com economias mais desequilibradas estão sofrendo forte desvalorização na moeda, a exemplo de Brasil e Índia. A Índia ainda é um caso mais grave do que o Brasil, com indicadores macroeconômicos piores e corrupção.
Agora temos um movimento de normalização no quadro econômico mundial, com os Estados Unidos dando sinais consistentes de melhora. Na Europa, os dados mostram que a retração parou, embora ainda não haja recuperação. Os EUA continuam com juros baixos e emissão de moeda, mas o mercado antecipa que eles vão parar de injetar tanto recurso na economia e aumentar a taxa de juros. Por isso, o juro futuro já está em elevação e o investidor está retornando ao mercado americano. Para o Brasil, a situação se deteriorou muito, com aumento no prêmio de risco e indisposição do investidor estrangeiro. Essa piora agrava-se devido às incertezas sobre a gestão da política econômica do país.
Sim, embora não dê para dizer que os riscos estejam completamente afastados. O que se pôde observar com a crise é que a autorregulamentação do mercado não funciona. É preciso haver regras bem definidas. Mas o excesso de interferência também atrapalha e dá menos flexibilidade para o mercado crescer. Oscilamos entre extremos, que é a total ausência de interferência e o excesso de interferência. Nenhum é positivo.
Sem dúvida. Algumas pessoas até argumentariam que houve um aumento excessivo da regulamentação.
Sim, menos nos Estados Unidos. O mercado norte-americano não se comporta, não obedece às regras do acordo da Basileia. Não percebo que tenham mudado com a crise. Eles continuam achando que podem emitir quantos títulos quiserem. Só que o papel sem a economia real não vale nada. A Europa é mais conservadora. O mercado brasileiro já vinha sendo regulado mesmo antes da crise. Essa situação de bolha não existe por aqui porque os bancos são restritivos na hora de conceder crédito. Os setores de saúde e educação são regulados. Há regulação até para as concessões [de serviços].
Sim, estão mais regulados; o financeiro, com certeza. Europa e Estados Unidos caminharam para uma regulamentação muito grande. Nos EUA, foi criada a lei Dodd-Frank de Reforma de Wall Street e Proteção aos Consumidores. O problema é que os dois extremos são ruins. A desregulamentação é negativa porque permite negócios arriscados, e a regulamentação excessiva é ruim porque impede alguns negócios. No Brasil, por exemplo, que é muito regulamentado, observamos que não há um mercado desenvolvido de derivativos e empréstimos, o que impede a criação de um mercado de longo prazo no país. Esse é um equilíbrio difícil de conseguir. Agora vamos viver um período de maior intervenção dos governos.
Sim. Houve vários avanços no mundo todo com o objetivo de tornar o mercado mais regulado. Basileia 3 é um exemplo. O acordo foi uma das respostas à crise na tentativa de tornar o mercado mais regulado e mais seguro. As principais economias, que formam o G20, assumiram o compromisso de implementar essas regulamentações. O Brasil não teve muito problema nessa linha, porque o Banco Central já regula muito o sistema financeiro. Por isso, não há risco de crise sistêmica no setor bancário brasileiro. A preocupação aqui é outra: o ritmo de expansão da carteira de crédito nos bancos públicos pressionado pelo governo.
A principal lição é que a autorregulamentação dos mercados em que muitos acreditavam até às vésperas da crise é algo que não funciona. Os mercados passam por surtos de euforia e depressão e cometem erros nesses extremos. Sem interferência do governo, não funciona, mas excesso de interferência também atrapalha, pois dá menos flexibilidade para o mercado crescer. Outra lição importante é a necessidade de ter contas fiscais equilibradas e dívida baixa, principalmente para poder enfrentar uma crise e usar a política fiscal –aumento de gastos e corte de impostos para combater a recessão. Se o país tem uma dívida muito alta, não pode fazer uma política fiscal de incentivo.
Ficou provado que o mercado financeiro não tem a capacidade de se autorregular. Com a crise, vieram novas regras de capitalização, o que é positivo. Mas também é importante reconhecer que os governos não são perfeitos. E a tentativa de aumentar demasiadamente a fiscalização também pode criar uma situação complicada, na medida em que pode dificultar ou até mesmo impedir o setor financeiro de expandir o crédito na economia e criar novos produtos.
A crise ensinou que não se deve superestimar o lado financeiro em detrimento do lado real e produtivo da economia. Hoje os países emergentes estão investindo em transporte, comunicação, alta tecnologia, o que os torna mais competitivos. A hegemonia americana foi colocada em xeque, pois a estrutura inovadora de produção agora está na Ásia. São os produtos asiáticos que hoje respondem às necessidades de consumo das populações do mundo. O Brasil precisou acudir a economia interna com incentivos ao consumo das famílias, importações e redução da taxa de juros. Isso resultou em PIBs menores e em menor atração de capital estrangeiro.
Várias lições... A primeira é que não se pode deixar os mercados financeiros sem regulamentação. A crise mostrou que isso pode levar a situações de grande risco. O oposto –a extrema regulamentação– também não é positiva. Outro aprendizado foi o de que a intervenção governamental para ajudar a economia é eficiente e necessária. Também aprendemos a conviver com taxa de juros nula. A compra de ativos pelos bancos centrais para jogar dinheiro na economia foi um instrumento que deu certo. O terceiro grande ponto é que um país nunca deve perder seu equilíbrio macroeconômico. Os países que mais sofreram com a crise estavam com suas contas desequilibradas.
As regiões que mais sofreram com a crise, Estados Unidos e Europa, atuaram com uma política econômica heterodoxa [fora das regras econômicas tradicionais], com forte atuação dos seus Bancos Centrais, reduzindo juros, expandindo o gasto público e injetando dinheiro na economia para estimular o consumo. O Brasil seguiu a mesma cartilha, mas errou na hora de parar. Por isso, enquanto os outros mercados estão melhorando, o Brasil sai pior da crise. O aumento do gasto público, com redução de superavit primário (economia que o governo faz para pagar juros) e emissão desenfreada de títulos públicos para bancar bancos públicos, deixa hoje a economia em pior estado.
A Europa precisa resolver um problema seriíssimo de diferença de competitividade dentro do bloco. Como a taxa de câmbio é a mesma, países como Espanha não conseguem competir com uma Alemanha. A solução é promover reformas, muitas vezes penosas para a população. É a década perdida para eles. Eles precisam resolver o problema que é a moeda comum para países muito diferentes entre si. Ou eles se integram cada vez mais ou o euro corre risco. Os EUA precisam resolver o impasse entre democratas e republicanos que usam a dívida como moeda de troca nas votações no Congresso. E o Brasil precisa resolver seus problemas de competitividade, como impostos complexos e gargalos logísticos [falta de estrutura de transporte, por exemplo].
A Europa deve continuar a ter crescimento negativo neste ano. Os Estados Unidos devem crescer por volta de 1,5% a 2% neste ano e diminuir gradativamente sua política de incentivos. O Brasil deve crescer 2,5%. Para o Brasil, o maior constrangimento ao crescimento é o baixo nível de investimento porque o setor privado não confia no ambiente regulamentador do país. O país tem a infraestrutura mais fraca dos Brics. E também investe menos nesse setor do que Índia, Rússia, África do Sul e definitivamente muito menos do que a China. No entanto, não será o setor público sozinho que vai ser capaz de resolver o problema da logística. O setor privado terá de participar do processo.
Os Estados Unidos e a Europa já foram hegemônicos e agora estão perdendo espaço para os países emergentes –especialmente para os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). EUA e Europa precisam fazer investimentos em inovação e produção de conhecimento para poder competir com a Ásia, que hoje é quem lidera nesse segmento. Já o Brasil precisa realizar um grande plano de investimento que preveja a interação dos setores da economia: agronegócio, indústria e serviços. Do lado social, é necessário um plano abrangente de educação e saúde que coloque o Brasil em condições de produzir inteligência.
Será preciso aumentar a eficiência na economia –aumentar os ganhos de produtividade e tirar ineficiências em geral. O mercado de trabalho na Europa é muito regulamentado. Há um mercado dual que protege os trabalhadores de 30 a 50 anos e não protege o jovem, estagiário e o estrangeiro. Isso precisa mudar. No Brasil, é preciso fazer as reformas do sistema tributário e trabalhista, e ainda há a questão da infraestrutura ruim. Precisamos solucionar essas ineficiências e distorções, como a inflação alta e a baixa sustentabilidade das contas externas e fiscais.
Os dados americanos e europeus mostram que a situação desses países está melhorando com políticas de estímulo, redução de juros e aumento de gastos. Os Estados Unidos devem reduzir essa política e aumentar a taxa de juros. Para atrair investimentos, o Brasil precisa melhorar seus fundamentos. Precisa melhorar a gestão fiscal, que hoje se caracteriza pelo aumento do gasto público com redução do superavit primário (economia para pagar juros da dívida) e emissão desenfreada de títulos públicos, que saltou de 0,5% do PIB para 9% do PIB de 2008 para cá. A questão fiscal é a mais perversa, pois acarreta um menor crescimento.
Não dá para evitar. Podemos minorar o impacto das crises, mas elas sempre acontecem porque os mercados burlam a regulamentação. Os mercados olham para a frente e a regulamentação é feita olhando o passado. Um risco imediato, por exemplo, é que não há um órgão regulador para as agências de classificação de risco. E elas erraram muito, pois apontavam risco baixo para operações que depois se mostraram inviáveis. O acordo Basileia 3 é um divisor de águas do ponto de vista da regulamentação bancária, mas só vai estar 100% implementado entre 2021 e 2022.
Depende do país. Cada país tem problemas diferentes. No caso do Brasil, vejo a desvalorização do real como um processo saudável, mas que provavelmente foi além do necessário. Outros países como a Índia já têm uma preocupação maior porque, além de um deficit fiscal, há um buraco na conta corrente. E isso pode se traduzir numa crise maior. Um dos problemas foi que as empresas indianas se endividam em dólar, mas geram receita em rúpias, a moeda local. Com a desvalorização, as dívidas dessas empresas podem ficar insustentáveis. Isso é um tipo de crise que pode acontecer agora, que traz um perigo maior.
Sim. Se os Estados Unidos respeitarem o acordo de Basileia, já será um ótimo caminho para todas as economias do mundo –algo que, na minha opinião, o Federal Reserve (BC dos EUA) não faz. Eles não respeitam os acordos que mandam os bancos realizarem os depósitos compulsórios para garantir os depósitos à vista. Eles trabalham num risco enorme. Já a Europa é mais conservadora no mercado financeiro. A Ásia é totalmente poupadora em termos de consumo. Lá eles dão valor ao produto nacional e o consumo de importados é praticamente inexistente. O Brasil está bastante blindado contra quebras de bancos, pois já havia feito uma reforma antes mesmo dessa crise.
Não. Se houvesse uma coordenação internacional para evitar os excessos, talvez, mas isso não existe. Sempre vai haver um ou outro estímulo para fazer negócios mais arriscados. O que é possível é aprender com as crises e criar instrumentos para mitigar os danos. O problema é que as pessoas vão subestimando os perigos. A dinâmica presente é sempre considerada sustentável até que não seja mais. Por isso é muito difícil criar algo para evitar as crises. De certa forma, o FMI poderia fazê-lo, mas o organismo não tem como obrigar ninguém a mudar. O melhor a fazer seria criar uma monitoração profunda do mercado e dos ativos.
Não há como evitar uma nova crise. As crises vão ocorrer, porque os mercados sempre procuram ganhar dinheiro. Há a questão da alavancagem (prática de investir mais do que a capacidade permite). Por que as crises acontecem? A crise na verdade ocorre quando há uma percepção dos agentes diferente da realidade. Todo mundo acha que algo é bom, que está indo muito bem. Mas de repente alguém aponta um problema, todos começam a se incomodar e já não está mais tudo bem. Está instalada a crise.