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OPINIÃO

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Com renda fixa em alta, dá para se aposentar com R$ 5 mil por mês em CDB?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

01/04/2022 04h00

Os investimentos de renda fixa voltaram a ter uma rentabilidade alta depois que a taxa básica de juros, a Selic, alcançou 11,75% ao ano. E uma aplicação de renda fixa que os bancos e corretoras oferecem muito aos clientes é o CDB (Certificado de Depósito Bancário).

Mas se o objetivo for aposentadoria, quanto você deveria ter em CDB para tirar, por exemplo, R$ 5.000 por mês, de forma vitalícia? Confira abaixo simulações, além de riscos e comparações para você saber se vale a pena usar esse investimento para esse foco.

Quanto juntar para ganhar R$ 5.000 por mês em CDB?

Atualmente, para receber um rendimento médio de R$ 5.000 por mês investindo em um CDB, seria necessário aplicar R$ 1,3 milhão nesse papel. Essa conta, assim como todas que você verá neste artigo, já exclui o Imposto de Renda (IR) e uma inflação projetada de 6% ao ano.

A projeção considera uma CDB que rende a inflação mais 6,39%. Essa é a taxa mais alta que encontrei para esse tipo de aplicação, após uma busca não exaustiva, mas suficiente para termos uma ideia da rentabilidade atual desse tipo de investimento.

No caso, o título que rende inflação mais 6,39% é emitido pelo Banco Master e pode ser encontrado nas corretoras Nu Invest, Órama e BTG. Papéis com rentabilidade próxima também são oferecidos por outras corretoras, como XP, Rico, Guide e Modal, entre outras.

A título de comparação, se você aplicar no Tesouro Direto em vez do CDB, a quantia necessária para gerar um rendimento médio de R$ 5.000 por mês seria de R$ 1,5 milhão.

Considerei nesse cálculo a maior taxa apresentada hoje para o título Tesouro IPCA, que é de inflação mais 5,6%.

Então, no quesito "rendimento", o CDB teria uma vantagem de R$ 200 mil sobre o Tesouro. No entanto, além do rendimento, devemos avaliar o risco e a praticidade.

Quais são os riscos do CBD?

O principal risco que você corre ao investir em um CDB é de o banco emissor não conseguir pagar o que promete.

Porém, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) promete pagar o que o banco lhe deve, até o limite de R$ 250 mil. Ou seja, se você tiver R$ 300 mil a receber por um CDB e o banco emissor quebrar, o FGC se compromete a pagar R$ 250 mil.

Esse limite de valor é por CPF e por conglomerado financeiro. Se a mesma pessoa tiver dois CDBs do mesmo grupo bancário, ela só tem garantia de até R$ 250 mil para esses aportes. Já se o investidor dividir o dinheiro em CDBs de dois conglomerados diferentes, ele acaba tendo uma garantia de R$ 500 mil (R$ 250 mil por cada conglomerado).

No caso do Tesouro Direto, não há garantia. No entanto, o risco é mais baixo que o do CDB, porque o emissor dos títulos públicos é o mesmo que emite a moeda nacional, ou seja, o Estado.

Se um dia o Estado não tiver dinheiro para pagar seus credores, no limite pode emitir mais papel-moeda. Já o banco não tem esse poder. Ao contrário, quando uma instituição financeira quebra, ela costuma recorrer à ajuda do governo.

No quesito "risco", portanto, o CDB fica atrás do Tesouro Direto.

É prático investir em CDB?

Vamos agora ao quesito "praticidade", que é fundamental quando se investe para aposentadoria, pois é para a vida toda.

Vimos que o CDB tem o limite de garantia de R$ 250 mil. Vimos também que, para se ter uma renda de R$ 5.000 por mês com esse tipo de investimento, seria necessário possuir hoje R$ 1,3 milhão.

Sendo assim, se você quiser deixar 100% do seu patrimônio garantido, teria que dividir esse valor em bancos de pelo menos seis conglomerados financeiros diferentes.

Às vezes, você pode manter, na mesma corretora, seis CDBs de grupos bancários diferentes. Não precisa abrir conta em cada um deles. Então, não é tão prático quanto o Tesouro Direto, mas, nesse aspecto, não é um bicho de sete cabeças.

Porém, existem outros problemas práticos do CDB. No Tesouro, há títulos que pagam juros semestrais. Basta você deixar o dinheiro aplicado e receberá, em maio e em novembro, um valor na sua conta corrente, referente aos juros.

O CDB, para ter essa taxa que eu usei na projeção, é preciso que seja um papel com liquidez (possibilidade de resgate do dinheiro) apenas no vencimento. Sendo assim, uma vez aposentado, quando você faria as retiradas?

Uma forma seria cuidar para que, a cada ano, você tenha vencimentos de CDBs com valor suficiente para custear sua vida por 12 meses.

Administrar isso já daria um bom trabalho, mas você ainda precisaria fazer os cálculos para garantir que cada CDB nunca ultrapassasse R$ 250 mil. Por exemplo, se você investe R$ 200 mil hoje em um CDB com rendimento de 10% ao ano, dentro de cinco anos o valor total superaria o limite do FGC e o seu patrimônio já não estaria mais inteiramente garantido.

Com o Tesouro Direto, você não teria nenhum desses problemas. Então, no quesito "praticidade", o CDB perde mais uma vez.

Conclusão

Com o CDB você teria R$ 200 mil a menos do que com o Tesouro Direto para conseguir um rendimento líquido real mensal de R$ 5.000. Por outro lado, você correria um risco maior e teria todos os problemas práticos de um CDB. Vale a pena?

Em primeiro lugar, aqui estamos falando de casos extremos. Tendo um patrimônio acima de R$ 1 milhão, não faria sentido concentrar tudo nem em um nem em outro investimento. Na prática, as pessoas acabam tendo um pouco de cada.

Mas é importante que você tenha essa noção das vantagens e desvantagens de cada tipo de aplicação para tomar as decisões que se encaixem melhor no momento.

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