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Menos poupança, mais ações: veja onde fazer investimentos para os filhos

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Imagem: Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

20/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Profissionais de mercado apontam aplicações que devem entrar na carteira de investimentos dos filhos
  • Em tempos de juros baixos, a renda variável deve fazer parte das aplicações para crianças e adolescentes, dizem
  • Participação dos filhos no processo faz parte da educação financeira

A caderneta de poupança é um dos meios mais tradicionais usados pelos pais para guardar dinheiro para os filhos, mas rende cada vez menos, em tempos de juros baixos. Por isso, as carteiras de investimento criadas para atender projetos de crianças e adolescente devem dar mais espaço a produtos de renda variável, como ações, ETFs, BDRs e fundos imobiliários, recomendam consultores financeiros.

Em geral, brasileiros já vêm percebendo a necessidade de entrar na renda variável para tentar ganhar mais. Prova disso, dizem os analistas, é o aumento da presença de pequenos investidores na Bolsa. Segundo a B3, em pouco mais de dois anos, a quantidade de pessoas físicas que compram ações diretamente saltou de 800 mil para três milhões.

Investir em ações e outros produtos de renda variável pode funcionar como uma ferramenta de educação financeira, desde que os pais estimulem a participação dos filhos nas discussões sobre a formação da carteira, dizem especialistas.

"Ao longo do processo, os filhos vão aprendendo a relação que temos com o dinheiro, de onde ele vem e para o que serve", afirma a economista e criadora do canal Mary Poupe, Francine Mendes, também educadora financeira da Genial Investimentos.

Os investimentos devem levar em conta o potencial de valorização dos papéis e também a relação de proximidade que as crianças têm com as empresas em seu dia a dia de consumo, na economia real.
Francine Mendes, do canal Mary Poupe

Como deve ser a carteira?

A taxa de juros no Brasil está em 2% ao ano. Isso quer dizer que aplicações como fundos DI, caderneta de poupança e Tesouro Selic estão rendendo menos que a inflação.

Com a rentabilidade baixa ou até negativa da renda fixa, os especialistas dizem que produtos de renda variável são opções mais adequadas para uma carteira de investimentos de crianças e adolescentes.

"É verdade que renda variável tem risco e volatilidade, é verdade, mas renda variável é de longo prazo, e as crianças e adolescentes têm o tempo a favor delas. Além disso, a própria volatilidade pode ser um fator didático na educação financeira dos filhos", diz o estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas.

Como escolher as ações?

Para Villegas, os ativos de uma carteira de crianças e adolescente devem ser de empresas e projetos que estejam passando por um bom momento e que tenham:

  • Valor
  • Potencial de crescimento
  • Histórico de distribuição de dividendos
  • Qualidade de gestão

Um dos pontos mais importantes é a identidade e o reconhecimento da empresa pela família. Ao começar uma avaliação de uma empresa, é preciso perguntar se a família acredita naquela empresa, nos valores dela.
Filipe Villegas, Genial Investimentos

Veja dicas do especialista para a composição da carteira:

  • Ativos: podem ser ações, BDRs, ETFs e fundos imobiliários, conforme o valor a ser investido inicialmente e de acordo com o perfil de risco da família.
  • Quantidade: escolha de cinco a 12 ativos. Menos que isso, o risco da carteira fica muito concentrado; mais que isso, a família perde o foco e não consegue acompanhar as empresas e projetos adequadamente.
  • Concentração: para diluir os riscos do investimento, evite ter mais que 20% da carteira em um mesmo ativo.
  • Como escolher: sempre que for aplicar ou aumentar o investimento, a família deve buscar informações, seja por meio de consultor financeiro, de profissionais ou de plataformas digitais das instituições financeiras usadas para fazer as aplicações.

Primeiro passo é planejamento familiar

Antes de montar a carteira e começar a investir, é preciso se planejar.

Fale sobre dinheiro: Os pais precisam conversar com os filhos sobre dinheiro, explicar que a fonte daquele capital é o trabalho e que o trabalho demanda dedicação e tempo, com rotinas diárias.

Os filhos precisam entender a relação entre esforço e recompensa.

Use exemplos do cotidiano: Os pais devem mostrar que é possível ser sócio ou comprar ações de empresas que produzem vários produtos e serviços que as crianças conhecem do seu dia a dia.

Por exemplo: se vai fazer compras no Pão de Açúcar ou no Carrefour, aproveite a ocasião para explicar que essas redes têm ações na Bolsa; durante o passeio ao shopping, apresente aos filhos o conceito de fundos imobiliários; quando a família pegar um Uber, diga que o carro pode ser de uma locadora cotada em Bolsa, como Localiza, Movida ou Unidas; se o filho estiver pesquisando no Google, explique que a empresa tem BDRs negociados na Bolsa brasileira.

Planejamento familiar: Para investir, é preciso poupar, o que exige disciplina. Esse compromisso não deve ficar restrito a pais e mães, podendo ser explicado e compartilhado com os filhos, dizem os consultores financeiros.

Abrir conta no nome do filho: A abertura de conta no nome dos filhos tem dois papéis: formaliza um compromisso dos pais com o projeto de investimentos e representa algo concreto para a criança.

Além disso, ao abrir a conta no nome do filho, os pais podem atrair a participação de outras pessoas da família. Avós, tios, padrinhos e madrinhas podem, por exemplo, fazer da carteira de investimento um canal para presentear crianças e adolescentes em datas comemorativas.

A conselheira da Planejar Angela Nunes alerta, porém, que os pais assumem um risco ao colocar a conta no nome do filho: o de o jovem, ao atingir os 18 anos, sacar o dinheiro para uma finalidade diferente da esperada. Por isso, ela recomenda que a carteira seja feita em nome dos pais.

Ela também reforça a importância de os pais aprenderem a cuidar da sua própria carteira, antes de mais nada.

Embora seja nobre fazer carteira de investimentos para os filhos, os pais precisam saber cuidar da própria carteira antes mesmo de iniciar a carteira das crianças. Precisam cuidar da própria independência financeira até para não depender dos filhos no futuro.
Angela Nunes, conselheira da Planejar e planejadora financeira certificada

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