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Bolsonaro sanciona autonomia do BC: como ficam seus investimentos?

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

25/02/2021 15h28

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aprovou ontem à noite (24) a autonomia do Banco Central. A aprovação foi publicada hoje (25) no Diário Oficial da União e a nova regra já passa a valer. Para o mercado, a autonomia é uma sinalização clara de que não haverá interferência política nas medidas adotadas pelo Banco Central (BC). Resta saber o que muda para os investidores.

Com a autonomia, o presidente do Banco Central terá mandato de quatro anos e esse mandato não deve coincidir com o do Presidente da República. Além disso, o presidente da instituição não poderá ser demitido pelo Presidente da República por qualquer motivo e essa demissão deverá ser aprovada pela maioria do Senado.

Vale lembrar que o BC é responsável por mudanças de grande impacto no sistema financeiro e na vida das pessoas, como a definição da taxa Selic, a taxa de juros que guia todas as outras —desde aquelas que você paga por empréstimos aos juros que você recebe por seus investimentos.

Para os investidores, o que tudo isso significa na prática? Analistas ouvidos pelo UOL Economia+ afirmam que o impacto nos investimentos é de longo prazo e deve, sim, interferir nas decisões de onde aplicar o dinheiro daqui para a frente.

O Banco Central já mostrava certa autonomia

No curto e médio prazo há pouco impacto, porque o BC já tinha uma certa autonomia e funciona sem nenhuma restrição política desde o governo (Michel) Temer e mesmo no período da Dilma (Rousseff) havia bastante autonomia. Nesse sentido, a gente não vê uma grande reação do mercado porque o BC já faz o trabalho dele.
Sérgio Rodrigo Vale, economista-chefe da MB Associados

Apesar de parecer que nada muda no curto prazo, alguns analistas dizem que é importante que a autonomia esteja garantida em lei. Rachel Sá, analista de macroeconomia da XP Investimentos, relembra Alexandre Tombini, que presidiu o Banco Central entre 2011 e 2016.

"É difícil dizer com certeza que teve pressão política, mas foi um presidente que ficou por muitos anos e, ao que tudo indica, houve uma pressão política para reduzir os juros em um momento que não era para reduzir", afirma a analista. Para ela, garantir a autonomia é impedir essas possíveis pressões e quem ganha é o investidor.

Autonomia abre espaço para renda variável

Se no curto e médio prazo pouco muda para o investidor, no longo prazo a história é outra. Analistas afirmam que a autonomia garante estabilidade à economia. Na prática, isso representa inflação e juros baixos. Rachel, da XP, cita estudos realizados no Reino Unido e nos Estados Unidos, que analisaram 183 países e identificaram que o fortalecimento da independência do Banco Central pode reduzir a inflação entre 1 e 6 pontos percentuais em países em desenvolvimento.

Essa estabilidade abre espaço para a renda variável. Se em 2020, em meio ao caos do mercado promovido pela crise do coronavírus, a Bolsa de Valores ganhou 2 milhões de novos investidores, com a autonomia esse ganho pode ser ainda maior.

A gente vê movimentos de entrada de pessoas físicas na Bolsa quando o mercado está em alta. Se você mantém um cenário de taxas de juros mais baixas, as pessoas vão se sentir impelidas a corrigir o seu dinheiro, para ter um crescimento real, acima da inflação.
Ivens Filho, head de consultoria da Suno Research

A Bolsa fica mais atrativa em um cenário de economia estável porque as empresas conseguem crescer. "É um ciclo positivo: na estabilidade as empresas crescem, contratam mais, distribuem mais seus lucros", disse Filho.

Onde investir agora e no longo prazo?

Como a autonomia do Banco Central não deve mexer com o mercado em um prazo de dois anos, vale o desenho que já estava a mesa: aumento gradativo da taxa de juros até um patamar de 6% ao ano em 2023, segundo as projeções do mercado financeiro apresentadas no último boletim Focus, do Banco Central.

Por isso, segundo Vale, da MB Associados, a renda fixa ainda é atrativa no curto prazo, mas os pequenos investidores precisam aprender agora sobre renda variável, porque é ela que será a bola da vez no longo prazo. "Nesse novo mundo de autonomia do BC, entender em que papel investir, qual a melhor composição de carteira, quais setores ajuda a diminuir um pouco o risco", afirma.

No longo prazo, ações e fundos imobiliários podem ter mais resultados, afirma Filho, da Suno. Segundo o analista, nesse cenário, a renda fixa pós-fixada fica de reserva de emergência.

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