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B3 libera novos fundos de ações estrangeiras para investidor; vale a pena?

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

29/03/2021 18h58

A Bolsa de Valores liberou, nesta segunda-feira (29), mais opções para quem quer investir em aplicações ligadas a empresas ou Bolsas do exterior. Ao todo são 12 novos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de ETFs (Exchange Traded Fund) para o investidor pessoa física, todos geridos pela BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo.

O BDR é um título que representa uma ação de uma empresa, um fundo ou um índice de alguma Bolsa estrangeira. Os ETFs são um tipo de fundo, que replica o desempenho de outra coisa. Por exemplo, um ETF de Ibovespa replica o desempenho da Bolsa brasileira.

Com os novos BDRs da B3, os brasileiros poderão, na prática, comprar cotas de fundos que investem em empresas globais e de fundos que replicam as Bolsas de países como Alemanha e Reino Unido.

Até setembro do ano passado, somente investidores que tinham mais de R$ 1 milhão investido tinham acesso aos BDRs. Desde então, eles foram liberados aos pequenos investidores. Confira abaixo quais são os novos BDRs e se vale a pena investir neles, segundo especialistas ouvidos por UOL.

Diversificação de setores, países e moedas

Os investimentos liberados representam setores como biotecnologia, finanças, tecnologia, saúde e infraestrutura. Segundo Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoa Física da B3, essa diversidade permite que os investidores se exponham a setores pouco presentes na Bolsa brasileira e à diversificação geográfica e de moedas de outros países.

Veja abaixo quais são os novos fundos de ações e índices estrangeiros liberados pela Bolsa.

Com as 12 novas opções lançadas agora, a Bolsa soma 51 BDRs de ETFs. São 35 os disponíveis para a pessoa física até agora.

Entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano, o número de investidores pessoa física que aplicam em BDRs de ETFs passou de 419 para 2.382, a Bolsa espera um crescimento ainda maior.

Tecnologia e Bolsas estrangeiras são destaque

Da lista, os BDRs de fundos de tecnologia, de finanças e de Bolsas estrangeiras são os destaques, na avaliação de Fernando André Martin, analista de ações internacionais da casa de análises Levante Ideias de Investimento.

Com o BDR de Financial dos Estados Unidos, você passa a ter acesso a uma cesta de ativos com empresas como Visa, Mastercard e Bank of America. Com o ETF do Reino Unido, o investidor tem exposição à Bolsa do Reino Unido, que tem ações de empresas como Unilever, Diageo [dona de marcas como Smirnoff e Johnnie Walker], e a empresas de crescimento.
Fernando André Martin, da Levante

O analista avalia que a Bolsa brasileira é bem servida de empresas de valor, ou seja, mais sólidas, que distribuem dividendos, como bancos e empresas de telecomunicações, varejo e commodities. Mas ainda é carente de empresas de crescimento, aquelas que crescem rapidamente, geram caixa e são lucrativas, como companhias de tecnologia.

Alberto Amparo, analista de investimentos internacionais da Suno Research, destaca os BDRs de fundos de países, como os do Reino Unido, da Alemanha e o de mercados emergentes.

Se você compra um BDR de um país, você está diversificando bastante, e a chance de perder dinheiro no longo prazo é menor. A maioria dos países não vai dar um retorno exorbitante, mas você garante um retorno na média.
Alberto Amparo, da Suno Research

O analista, contudo, é receoso em relação aos novos BDRs setoriais, principalmente de setores que estão crescendo muito agora, como o de biotecnologia.

ETF de setor é uma faca de dois gumes. Um setor fadado ao sucesso não é um setor fadado ao sucesso para o acionista. Quando um setor é novo, você não sabe quais empresas vão dar certo. Isso aconteceu com empresas de carros e companhias aéreas: teve tanta competição nos setores, que os benefícios foram para o cliente, e não para o acionista. Muitas quebraram, e muitas outras surgiram depois. Eu tomaria cuidado com tudo o que é da moda. Não compre simplesmente por uma narrativa de que vai dar certo.
Alberto Amparo, da Suno Research

Investir ou não em BDRs de fundos?

Para os especialistas, ter BDRs de fundos estrangeiros pode ser uma boa estratégia para diversificação e para o investidor ganhar com alguma exposição ao dólar, principalmente agora, com a valorização da moeda norte-americana.

De acordo com Eduardo Mira, analista CNPI da Me Poupe!, o ETF no Brasil sempre foi um instrumento muito simples e com poucas opções para o investidor. Agora, com a popularização desse tipo de fundo, ele começa a ser mais interessante, na avaliação do analista.

Existe a possibilidade de investir diretamente no ETF lá no exterior [por meio de corretoras estrangeiras]. Acaba sendo uma comodidade investir aqui, por meio de BDR, e pensando apenas na valorização. Mas depende muito de o investidor entender o que é o ETF , o que tem dentro dele e quais as suas expectativas de movimento.
Eduardo Mira, da Me Poupe!

Quanto a ter de BDRs de fundos estrangeiros na carteira, Mira avalia que isso depende dos objetivos do investidor. Martin, da Levante, concorda, e sinaliza que entre 10% e 15% dos investimentos em renda variável podem ser BDRs de ETFs.

Os cuidados ao investir

Veja abaixo os cuidados que os investidores devem adotar na hora de investir em BDRs de fundos estrangeiros, segundo os profissionais consultados:

Conheça o ETF: entenda o que você está comprando e as características dos ativos que compõem o ETF. Essa regra vale para os ETFs nacionais e para os BDRs de ETF.

Fique atento ao câmbio: os preços dos BDRs são ajustados pela cotação de câmbio. Se o dólar cair, o preço do BDR vai recuar, e se o dólar se valorizar, o BDR vai se valorizar também.

Preste atenção aos custos: é preciso comparar o custo de comprar esses BDRs aqui no Brasil com os custos de comprar os ETFs diretamente via corretoras estrangeiras.

Taxa em cima dos dividendos: em BDRs, você paga uma taxa de 3% sobre o dividendo que você recebe.

Sem isenção de IR: em qualquer transação de compra e venda que você fizer com um BDR, estará sujeito a pagar 15% de Imposto de Renda sobre o ganho na transação.

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